Já tivemos a oportunidade de falar um pouco por aqui sobre a variedade de expressões que podem ser inseridas no contexto atual da música instrumental brasileira. Trata-se de uma gama ampla de produções, que optam por caminhos diversos, indo desde o erudito, passando pelo regional, até gêneros como o rock. Uma cena que expande constantemente suas fronteiras, transita por possibilidades múltiplas e se estabelece a partir da diversidade de seus integrantes. Um bom nome que integra esse movimento, e que é uma excelente representação disso tudo, é o da banda catarinense Skrotes.
Formado em 2009, em Florianópolis, o grupo é composto por Chico Abreu no baixo, Igor de Patta nos teclados e Guilherme Ledoux na bateria. Em comum, o trio tinha, principalmente, duas coisas: o gosto por som pesado e, ao mesmo tempo, uma formação musical construída principalmente através da música erudita. Dois universos distintos que culminaram na construção de um projeto sonoro que tem como proposta principal a experimentação e a desconstrução, elementos presentes até hoje nos registros da banda.
A Skrotes optou por não ser rock, nem erudita, nem experimental, mas tudo isso ao mesmo tempo. Criando pontes entre gêneros, de certo modo, antagônicos, os músicos começaram a criar suas primeiras composições, nascidas, na sua maioria, de improvisos. Um processo bastante produtivo para o trio, que esbanja entrosamento e que, desde o começo do projeto, já lançou cinco trabalhos de estúdio.
O primeiro deles, um EP lançado em 2011, leva o nome da banda. O trabalho foi seguido, em 2012, pelo primeiro álbum completo do grupo, também homônimo. Em 2013, foi a vez do trio soltar o EP Deboche Ñ É Crime, composto por quatro versões instrumentais de Sepultura, Black Sabbath, Stevie Wonder e Tom Jobim no melhor estilo Skrotes. O passo seguinte foi o disco Nessum Dorma (referência à obra criada por Giacomo Puccini), segundo álbum completo do projeto, que saiu em 2014. Já no ano passado, chegou ao público Tropical Mojo, terceiro álbum e, até aqui, trabalho mais recente da banda.
A Skrotes optou por não ser rock, nem erudita, nem experimental, mas tudo isso ao mesmo tempo.
Trata-se de uma discografia bastante consistente para uma banda que se mantém independente e que deixa à mostra o elemento que permeia praticamente todos os trabalhos: liberdade. A Skrotes claramente expressa em seus discos que não tem receio dos caminhos que escolheu e os abraça de maneira bastante confiante, o que se reflete em produções coesas, mesmo trazendo no seu interior um conjunto de influências distintas. Há bastante do jazz nos primeiros trabalhos, enquanto os dois mais recentes, Nessum Dorma e Tropical Mojo, deixam bastante evidente o lado pesado e erudito que a banda faz questão de ressaltar. Ao final, tudo se soma e se complementa de uma maneira bastante única e sem a necessidade de vinculação a gêneros ou rótulos específicos.
Quando falamos da Skrotes, também é fundamental falar sobre a relação que a banda tem com o audiovisual. Em 2011, as músicas do trio foram usadas como trilha sonora do documentário Ilha 70, da Vinil Filmes, produção que trata das transformações culturais vividas em Florianópolis nos anos 1970. Mais recentemente, em 2016, o grupo compôs, a pedido do Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina, uma trilha para o clássico filme Nosferatu, de Fiedrich Wilhelm Murnau, de 1922, que vem sendo executada ao vivo em sessões de cinema em uma série de cidades. A música agora faz parte do disco Tropical Mojo.
A banda também coleciona uma série de participações em festivais, como os gaúchos El Mapa de Todos e Morrostock, além de Psicodália, Goiânia Noise e até do Lancaster Music Festival, na Inglaterra. Vale a pena, portanto, ficar de olho nas redes do trio para ver se essa mistura sonora improvável não vai passar por perto de ti. E, independente da agenda, fica o convite para dar um passeio pela discografia dessa banda que merece toda a atenção.
NO RADAR | Skrotes
Onde: Florianópolis, SC;
Quando: 2009.
Contatos: Facebook | YouTube | SoundCloud | Bandcamp