Em 2016, quando a Stolen Byrds lançou seu primeiro álbum, a impressão era que o peso e a coesão do disco talvez delimitassem o trajeto que a banda poderia trilhar. Um dos melhores trabalhos paranaenses do último ano, o registro dos garotos de Maringá caminhava por excelentes referências, resultando em uma obra rica e rara nas vertentes do rock feito no Brasil – que ainda sofre preconceito dentro do próprio gênero, seja pelos riffs pesados ou quando da escolha do inglês como idioma.
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Entretanto, o quinteto rasga e joga fora qualquer previsão feita ao longo dos últimos meses com seu novo disco, 2019. Lançado em parceria pela Infrasound Records e selo DoSol, o novo álbum é a constatação de que a Stolen Byrds é, hoje, a melhor banda que temos no Paraná em termos de rock and roll.
Gravado no Estúdio Costella, de Chuck Hipolitho (Vespas Mandarinas), mesmo local onde as curitibanas do The Shorts mixaram e masterizaram o EP Serendipity, e produzido por Alexandre Zampieri (Sugar Kane) e Gabriel Zander (Zander, Noção de Nada), 2019 apresenta ao público uma nova cartada de influências, anteriormente amalgamadas entre as faixas do LP de estreia.
Edwardes Neto, João Olivieri, Guz Oliveira, Adilson Filho e Bruno Abreu levam o ouvinte a uma delirante viagem pelo submundo da crueza rock and roll. Despejando riffs consistentes, a banda abraça uma maior alternatividade em sua proposta de metal, ainda bastante influenciada por Led Zeppelin e Black Sabbath, mas menos psicodélica neste disco.
Edwardes Neto, João Olivieri, Guz Oliveira, Adilson Filho e Bruno Abreu levam o ouvinte a uma delirante viagem pelo submundo da crueza rock and roll.
Entre linhas de baixo inspiradas em Billy Gould (Faith no More) e distorções que homenageiam Kim Thayil (Soundgarden) e suas brilhantes construções de notas e bridges em Superunknown (1994) e Down on the Upside (1997) – curiosamente, dois músicos que traziam uma verve de metal alternativo às suas bandas -, a Stolen Byrds nos brinda até com um rock sinfônico em “In My Head”, e uma força rítmica do blues rock em “Mother’s Love”.
É impossível não notar como a produção bem conduzida dá sentido a tudo em 2019. Fugindo de exageros ou vícios do gênero, a banda lapida sua carreira de forma a estabelecer novos paradigmas ao rock “pesado” em terras brasileiras, tornando-se uma valorosa oposição aos estereótipos consagrados pelo senso comum no que diz respeito à força do rock de distorções mais potentes.
Bem longe de usar o inglês como artifício para esconder uma pobreza lírica, a Stolen Byrds compõe canções repletas de jogos metafóricos que sempre vem à tona nas apresentações enérgicas do quinteto maringaense. Ainda por cima, a maturidade dos músicos deixa claro que é a banda paranaense melhor preparada para dar voos mais altos, ainda que isto represente, infelizmente para o público local, que eles precisem migrar para grandes centros como Rio de Janeiro ou São Paulo.
Não se assuste se 2019 estiver em inúmeras listas de melhores discos ao fim deste ano – e não só no Paraná. O momento fértil do grupo certamente será coroado. Afinal, respondendo à pergunta que dá título ao texto, não parece haver limites para a Stolen Byrds. Ouçam e comprovem.