Math rock, jazz, rock instrumental, post-rock e hip-hop. Qualquer um desses rótulos diferentes pode ser usado para descrever uma surpresa interessante na música esse ano. É o novo disco de uma banda que vem lá do Japão e tem feito um sucesso interessante nas cenas alternativas desse lado do oceano. O toe (assim mesmo, todo em minúsculo) é um quarteto que toca junto desde 2000 e já tem três discos completos na bagagem e outros vários EPs lançados. Hear You, seu mais novo lançamento, chega para o mundo pela gravadora norte-americana Topshelf, lar de ótimas bandas alternativas como You Blew It, The World Is a Beautiful Place & I Am No Longer Afraid to Die e Empire! Empire!.
O toe é mais conhecido como uma banda de post-rock com composições que lembram o Math Rock pelas sequências mais rápidas e fora da sincronia padrão. Quase sempre instrumental, a banda ganhou um certo status cult depois do seu primeiro álbum, The Book About My idle Plot on a Vague Anxiety (2005), uma obra bela e serena com composições interessantes e até complexas, com linhas de guitarras e bateria que traziam para o rock o profissionalismo do jazz.
Seis anos depois do segundo trabalho, For Long Tomorrow, a banda retorna com um disco que mistura outros vários tipos de som. Além do já reconhecido rock instrumental, aqui elementos mais diretos do jazz entram em cena, além de batidas de hip-hop que lembram muito o trabalho instrumental do produtor também japonês Nujabes ou do americano Fat Jon.
“É sereno do início ao fim, e possui uma leveza tão grande que às vezes nem percebe-se a troca de faixas. O toe traz sutileza à um gênero complexo.”
O disco dos japoneses flui tão levemente quanto uma flor de cerejeira, passeando entre estilos e criando paisagens serenas que poderiam ser muito bem trilhas sonoras para cenas em campos orientais. É sereno do início ao fim, e possui uma leveza tão grande que às vezes nem percebe-se a troca de faixas. O toe traz sutileza à um gênero complexo, passando de faixas totalmente instrumentais e bonitas como “Boyo” para a experimental e rapper “Time Goes”, que abre espaço para “オトトタイミングキミト”, que parece saída do clássico Modal Soul (2005), do Nujabes.
É um disco de audição fácil, que pode ser apreciado com imersão ou somente como fundo para as atividades do dia a dia, com uma serenidade que faz as músicas serem ótimas para concentração. Com clima oriental aplicado com capricho e execução primorosa – como é comum nas bandas de math rock -, o grupo consegue alcançar melodias ricas e que não assustam o ouvinte não acostumado ao ritmo. Vale a pena abrir os horizontes para a música do toe.