Fruto de uma intensa e plural cena musical, Luiz Gabriel Lopes carrega na bagagem uma rica história com a banda mineira Graveola. O multifacetado retrato sonoro por trás da Graveola, um amálgama de algumas das mais imponentes referências nacionais, também dá as caras no trabalho solo de Lopes, que depois da estreia com Passando Portas, de 2010, e da sequência em O Fazedor de Rios, de 2015, apresenta ao público o delicioso Mana.
Se o carisma é uma das principais características do músico mineiro, sua capacidade ímpar de ser a comunicação em ação é digna de elogios. Capaz de falar muito e gritar pouco, Luiz Gabriel Lopes trafega por uma nova via da música nacional, que passou a usar os gigantes da nossa arte para além da referência sonora ou estética, e compreendeu que o que se diz (ou o que se omite) é tão importante para a música quanto seus ritmos. Já se notava tal característica em Passando Portas, ainda que dos três discos seja o que menos se enxergue a alma do cantor mineiro – o que, em nada, diminui seu valor ou o torna menos merecedor de elogios.
Em O Fazedor de Rios, Luiz Gabriel escancarava um peito artístico sem preconceitos e que necessitava abarcar o máximo de suas influências, inclusas aquelas que nem sempre ganham vida no trabalho com a Graveola. Talvez por isso, o álbum soasse como uma grande festa, uma harmônica algazarra musical milimetricamente orquestrada, ora minimalista, ora requintada, mas sempre essencialmente contemporânea, poética.
Se o carisma é uma das principais características do músico mineiro, sua capacidade ímpar de ser a comunicação em ação é digna de elogios.
Já em Mana, Luiz Gabriel Lopes apresenta ao público uma ânsia constante de trazer à vida as ideias armazenadas em seu ser. Com muita destreza na elaboração dos arranjos e na escrita das canções que compõem Mana, Lopes demonstra um esforço contínuo em tornar esse universo que o circunda estimulante, dando vida com palavras e sons ao que antes parecia um espaço seco, surdo e vazio, retratando um universo afinado com uma contemporaneidade evoluída, capaz de inspirar e contagiar quem se coloca em contato com sua obra. Mana reflete um otimismo e um entusiasmo necessário na música – e, por que não, na vida.
O disco é resultado de um financiamento coletivo que mobilizou mais de 400 pessoas, todas dispostas a acompanhar sua evolução enquanto artista, uma evolução que se diferencia do trabalho em grupo por recorrer ao seu íntimo – ainda que nunca estejamos realmente sós. Acompanhado do trio de amigos Téo Nicácio (baixo), Mateus Bahiense (bateria) e Daniel Pantoja (flauta), carinhosamente apelidados de Cangaço Lírico, Luiz Gabriel Lopes completa com Mana uma trinca versátil e rica que nunca procura emular a quem presta, vez ou outra, até despretensiosamente, uma linda e singela homenagem. Ao leitor, está aí uma maravilhosa discografia a se descobrir.
NO RADAR | Luiz Gabriel Lopes
Onde: Belo Horizonte, Minas Gerais.
Quando: 2010 – carreira solo.
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