Nos últimos 5 anos, noise pop, lo-fi e dream pop ganharam espaço nas cenas alternativas de inúmeras cidades latinas. Ainda que Lima, no Peru, seja a capital na América do Sul dessas vertentes do rock, no Rio de Janeiro, Buenos Aires e Santiago também é possível encontrar cenários efervescentes. Quem vem procurando não ficar para trás é Curitiba, e neste contexto encontramos a Unbelievable Things, trio formado por Tim Fleming (guitarra e vocais), Jun Hirota (bateria) e Fernando Parreira (baixo) que acaba de lançar o EP Wasted Time, um consistente registro de três canções em que a espinha dorsal da baixa fidelidade abre espaço para canções de grande qualidade.
Esse salto apresentado em Wasted Time, quando o comparamos com as gravações anteriormente liberadas, demonstra o quanto a vertente também exige dos artistas entrega e dedicação em soar sempre melhor, desmistificando aquela história de que a opção pela estética do lo-fi é resultado de preguiça dos músicos.
Quem se dedica a ouvir com atenção o EP do trio capta que a coesão sonora pode, em algum instante, dar a sensação de que as três músicas do disco tenham exatamente o mesmo ritmo. Na verdade, “Cansadão”, “Bad Habits” e “Not Coming Back” estão construídas sob uma mesma estrutura, refletem uma mesma tristeza adjacente, um misto entre a descontração dessa sonoridade despojada com uma ligeira indiferença representada por essa coleção de canções que retratam personagens tão desesperançados.
Leia também:
» Há algo incrível em Maringá e atende pelo nome de Stolen Byrds
» Os caminhos de Julio Cortázar até Cora
O frescor do disco fica por essa vibração meio adolescente que permeia a essência lo-fi.
Há muitos méritos no disco da Unbelievable Things. Não é incomum que grupos de noise, dream pop e/ou lo-fi tentem empurrar qualquer coisa ao público, um excesso de despretensão que tropeça em arrogância, ou mesmo uma musicalidade demasiadamente genérica. Entretanto, aqui, é difícil não sentir que há algo mais profundo, mesmo que seja tão singelo.
O frescor do disco fica por essa vibração meio adolescente que permeia a essência lo-fi, capaz de se adequar aos nossos tímpanos ao assumir esse tom decididamente próximo, infantil e inocente, mas também maduro – sem nunca esquecer que a maturidade das composições e o que elas representam, no caso esta juventude, caminham lado a lado e não de forma dissociada.
A Unbelievable Things não parece preocupada em ser complexa, e nem se importa em ser polida, meticulosa, pelo contrário. Há pequenas pontas soltas que devem ser consideradas no processo de composição, e que são marcas honestas da narrativa elaborada pelo trio. Elas contam uma história, que cabe a nós interpretar conforme nossa própria bagagem cultural, porém, sem grandes enredamentos. Em suma, a beleza da simplicidade em seu estado mais puro.