Há 23 anos, mais precisamente no dia 30 de abril de 1995, chegava ao fim a transmissão da Estação Primeira, a mais importante rádio de música alternativa da história paranaense. A emissora marcou corações e mentes dos apaixonados por rock’n’roll e música, em geral. Entre os anos de 1986 e 1995, esteve no ar, no prefixo 90.1 FM, uma programação ousada, cheia de nomes incomuns no circuito comercial e que construiu um grande número de fãs.
E o canal desta comunicação foi construído, também, pela voz de locutoras – isso mesmo, a “rádio à frente de seu tempo”, como dizia o slogan, inovou, ao destacar mulheres nas locuções. Até hoje, ao ouvir algum hit da época, fica difícil não associar música e banda ao som das vozes de Aline, Adriana ou Margot, pra citar só alguns exemplos.
Lançamentos importantíssimos na história da música foram ouvidos pelos fãs primeiro na Estação, como era chamada pelos ouvintes. Tendo em mente que se fala de anos repletos de surgimentos inesquecíveis, aos mais jovens, pode ficar mais fácil entender a relevância da emissora na cultura e na vida das pessoas conferindo os vídeos que seguem.
Mas nem só de monstros do underground projetados ao mainstream vivia a Estação Primeira. Nomes da cena musical curitibana, nacionais de várias regiões do país, independentes, apareciam em vários momentos da programação, sem que houvesse necessidade de passar por triagens ou festivais – e não há nada de errado com estas ações.
É que a rádio parecia estar mesmo conectada ao interesse do seu público, e, este, a adorava por isto. Boi Mamão, Resist Control, Os Cervejas, Beijo AA Força, Sepultura, Ratos de Porão, Replicantes, DeFalla, Chico Science e Nação Zumbi, enfim, chegavam ao público por meio do apoio da emissora.
Ao final da época em que as mídias não estavam conectadas em redes e as pessoas se conectavam umas as outras pelo bate-papo, tête-à-tête, foi a última.
Durante um tempo no qual a informação estava muito mais distante das pessoas, a Estação Primeira foi uma ponte. Quem sintonizava no 90,1 o fazia para saber o que estava acontecendo com os movimentos culturais, com a música em Curitiba, no Brasil e no mundo.
Graças ao trabalho dos programadores, que fugiram do lugar comum das FMs “comerciais”, o público pode conhecer bandas como Sonic Youth, The Stone Roses, PJ Harvey e The Smiths.
Fundada pelo empresário Hélio Pimentel, a Estação Primeira foi assim chamada por sugestão do irmão Arnoldo, conhecido pelo apelido de Alemão, durante uma espécie de brainstorm.
Coincidentemente, a banda Gueto havia acabado de lançar o álbum Estação Primeira, e o promotor da gravadora enviara uma cópia à emissora. Naturalmente, Pimentel foi direto à faixa que dá nome ao disco, cuja letra diz que o jovem não tem mais com o que se preocupar porque agora há uma rádio para ouvir. A música se transformou em vinheta e hit na rádio.
Pressões do mercado, contexto social e econômico ou efeitos da revolução digital. As causas do fim da Estação Primeira, sem dúvida, podem ser avaliadas e discutidas de forma mais adequada. Seria muito interessante, sem dúvida. Por ora, fica a saudade de um momento especial na cultura curitibana, de uma época prolífica à produção musical, como acontece atualmente, apenas mais ingênua. Romântica, talvez.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.