Tunde Olaniran nasceu com o gene transgressor. Capaz de mesclar o melhor de Celo Green e de Kanye West, ainda que a comparação possa soar redutora, o jovem artista filho de nigerianos e criado entre Grand Blanc (Michigan), Alemanha e Nigéria parece não ter medo de pensar sua música dentro de uma estratégia estética e política.
Quem teve a oportunidade de ouvir seus três EPs lançados antes de Transgressor, seu primeiro (e até então) único álbum completo, sabe que a mistura de gêneros é base para a criação de uma sonoridade muito específica em sua obra. A singularidade de Tunde Olaniran, contudo, vai além. Em entrevista à época do lançamento de Transgressor, Tunde deixou claro o quanto a cultura de seu pai foi influente em sua formação como artista.
Leia também:
» AJ Haynes e a energia da Seratones
» Ninguém passa impassível por Ty Segall
Aos 13 anos, Olaniran vivia com a avó no subúrbio de Londres. “Era ruim, mas eu tinha muita solidão mental e emocional e eu sinto que isso funcionou para mim criativamente”, afirmou o cantor. Em 2015, aos 29 anos, Tunde foi indicado pela revista Rolling Stone como um dos “10 novos artistas que você precisa conhecer“. Em 2016, ele quase deixou a carreira de lado para viver apenas engajado com grupos de ativistas que tentavam entender o que acontecia em Flint com a poluição da água. O cantor chegou a afirmar à imprensa que parte de seu posicionamento deu-se em virtude de ter sido impactado pela poluição da água. “Notei mudanças na minha pele, como uma erupção que começou a surgir”.
Tunde não busca inspiração especificamente na musicalidade de outros artistas, mas em suas performances.
Em alguma medida, esse passeio entre a música e o ativismo social levantou questionamentos em Olaniran, dúvidas se havia espaço para ele na movimentada indústria da música. Mas não existem dúvidas quanto às capacidades do cantor em ser um grande showman e letrista. Bem antes de seus trinta anos, foi o líder da banda de rock Taste This, onde teve sua primeira experiência em composição. “A experiência [com a Taste This] me fez um forte compositor”, afirmou Olaniran em entrevista ao periódico RF. Pois uma de suas canções, “Insationable”, entrou na trilha sonora de Jogada Certa (2010), filme estrelado por Queen Latifah e pelo rapper Common.
Foi a partir daí que Tunde Olaniran começou a trilhar um caminho em que o hip hop começou a dar as cartas. E o reconhecimento não tardou a chegar. Nomes como R. Kelly e Kanye West deram incríveis retornos sobre o trabalho do cantor. Um dos pontos que chamou a atenção do astro da R&B e do rapper foi como, ao contrário de muitos artistas, Tunde não busca inspiração especificamente na musicalidade de outros artistas, mas em suas performances. M.I.A., Lauryn Hill e Sara Vaughn são algumas de suas grandes inspirações.
Entre turnês pela Europa e Estados Unidos, Tunde Olaniran fez de Transgressor um grande álbum, mesclando o melhor do hip hop com boas doses de pop music, transformando o disco em um registro teatral, político e experimental ao mesmo tempo. Faixas como “Namesake”, “Don’t Cry” e “Diamonds” são a cara desse artista excepcional e de seu disco incendiário. O rap pode ser subversivo de inúmeras formas, e isso fica claro com Tunde Olaniran.
NO RADAR | Tunde Olaniran
Onde: Flint, Estados Unidos
Quando: 2010
Contatos: Facebook | Twitter | SoundCloud | Bandcamp | YouTube | Instagram