O espetáculo francês A Tristeza e Alegria na Vida das Girafas apresentado em Curitiba nos dias 30 e 31 de março no Teatro Guairinha, foi uma das três atrações internacionais da Mostra Oficial do 27º Festival de Curitiba. Escrito originalmente em português, traduzido e encenado em francês por Thomas Quillardet, a apresentação em Curitiba contou com uma tela no centro superior do palco, acoplada ao cenário que transmitia em tempo real a legenda em português.
A dramaturgia de Tiago Rodrigues apresenta a história de uma menina de 9 anos apelidada de Girafa (Maloue Fourdrinier), que ao fazer um trabalho de escola passeia por diversos outros assuntos. No desenrolar da trama, temas como crise política e econômica em Portugal, desemprego, morte da mãe e outros apresentam-se pela perspectiva complexa e inocente de uma criança. A protagonista se vale da relação com as palavras e sua semântica para explicar e tentar entender o mundo e o sistema social em que está inserida.
Para crianças e adultos, a peça é construída de maneira sensível a formar camadas: em algumas, apenas crianças podem acessar o espetáculo e, em outras, só adultos, e isso acontece concomitantemente. Os mesmo temas, o mesmo texto, os mesmos símbolos, só podem ser entendidos de tal modo por um adulto: a dramaturgia das perdas. Enquanto que a percepção e identificação de determinados detalhes só é possível por uma criança. Elementos infantis, como o ursinho de estimação Judy Garland, são ressignificados para o mundo adulto, que traz o companheiro de Girafa como um sujeito mau humorado e desbocado. Ainda sobre as camadas da peça, há a possibilidade de diversão ou reflexão a depender do público.
Para crianças e adultos, a peça é construída de maneira sensível a formar camadas.
O cenário de Lisa Navarro é uma grande estrutura em que tecidos e alguns objetos são suspensos ao longo da peça por meio de cabos que constroem e reconstroem o espaço. A sonoplastia é majoritariamente feita em cena pelos próprios atores através de um recurso que se assemelha ao foley.
A construção de todo o espetáculo é bastante sensível, mas merece destaque a interpretação de Thomas Quillardet, que em dado momento reveza entre a interpretação do pai de Girafa e da mãe com bastante leveza e impecável trabalho vocal.