Daniele Avila Small é editora da Questão de Crítica, uma revista eletrônica sobre teatro, e é também autora do livro O Crítico Ignorante – Uma Questão Teórica Meio Complicada, do qual eu gostaria de destacar um trecho para, depois, apresentar alguns dos sites que eu considero essenciais para quem se interessa por crítica de teatro. Ela diz:
“Não se trata de propor o fim de uma crítica e o começo de outra, mas de apontar para uma possibilidade de produção textual, crítica, interpretativa, sobre as obras de artes cênicas, como iniciativa de quem acredita que os discursos visíveis sobre teatro não estão dando conta do contexto de produção artística. Também não se trata de propor que os artistas digam se o trabalho do seu colega é bom ou ruim, mas de sugerir que eles se posicionem, que se expressem como artistas, como espectadores das obras que os intrigam.
(…) Não é uma questão de ‘virar crítico’, mas de virar a crítica, perguntar-se novamente o que é a crítica e tentar encontrar outras respostas. Com a democratização do acesso à internet, essa tomada de posição, esse gesto de assumir a responsabilidade sobre a visibilidade de uma discussão crítica relevante sobre teatro, é mais possível hoje em dia do que há vinte anos, por exemplo. O âmbito de atuação dos blogs pessoais e das revistas eletrônicas é, nesse momento, menos que o âmbito de atuação dos jornais de grande circulação – no que diz respeito à visibilidade dos discursos e não, necessariamente, a uma ideia de quantidade. Mas talvez essa situação não se mantenha por muito tempo. Essas ferramentas podem ser úteis, por enquanto, para a experimentação do ‘falar sobre’ em uma mídia a que se tem acesso facilitado.
Mas os mecanismos de busca da internet já permitem que o usuário encontre conteúdo teórico por palavras-chave. O refinamento da eficiência destes mecanismos de busca está sendo estudado para ser cada vez mais aprimorado. (…) O leitor/espectador, nesse contexto da internet, pode começar a procurar outro tipo de texto crítico, pode buscar o discurso com o qual se identifica através destes dispositivos. A internet traz uma nova lógica de produção e circulação de conteúdo textual que pode ser um caminho para uma nova abordagem do debate sobre as artes cênicas.”¹ (SMALL, 2015, p. 122-123).
Trata-se de uma nova abordagem, antes de tudo. Uma possibilidade de se compreender o ofício crítico e as posições artista-espectador-crítico de um modo mais horizontal e sem subestimar (ou superestimar) nenhuma das partes. A ideia defendida pela obra faz uso do livro O Mestre Ignorante: Cinco Lições Sobre a Emancipação Intelectual, de Jacques Rancière, em que o autor discorre sobre a experiência de um professor, Jacotot, e a “instauração” de uma metodologia de ensino em que as hierarquias são desconstruídas e o conhecimento é compartilhado negando a unilateralidade de uma relação professor-aluno normativa. Nas palavras de Rancière: “Não se trata de uma questão de método, no sentido de formas particulares de aprendizagem, trata-se de uma questão propriamente filosófica: saber se o ato mesmo de receber a palavra do mestre – a palavra do outro – é um testemunho de igualdade ou de desigualdade. É uma questão política: saber se o sistema de ensino tem por pressuposto uma desigualdade a ser ‘reduzida’, ou uma igualdade a ser verificada.”² (RANCIÈRE, 2015, p.12).
Uma possibilidade de se compreender o ofício crítico e as posições artista-espectador-crítico de um modo mais horizontal e sem subestimar (ou superestimar) nenhuma das partes.
O que tem em comum esses críticos de teatro é, talvez, uma abertura para o diálogo, uma relação intensa com a pesquisa, uma certa proximidade com o teatro de grupo e as formas contemporâneas de encarar as artes cênicas, refletidas, inclusive, no modo de registrar a atividade crítica.
É a partir dessa perspectiva que esse breve levantamento se dá:
A Questão de Crítica, como já dito, é uma revista eletrônica de críticas e estudos teatrais, idealizada por Dinah Cesare e Daniele Avila Small, que é também editora.
Horizonte da Cena é um portal editado por Soraya Belusi, Daniel Toledo, Julia Guimarães e por Luciana Eastwood Romagnolli, que é jornalista, crítica e pesquisadora de teatro, e atuou durante algum tempo aqui em Curitiba na cobertura de teatro, antes de se mudar para Belo Horizonte. Para o Horizonte da Cena colabora, também, o Henrique Saidel, artista e pesquisador curitibano.
O Teatrojornal, editado pelo jornalista, crítico e pesquisador de teatro Valmir Santos, que conta com um número grande de colaboradores, espalhados por todo o país – a Helena Carnieri, que escreve para a Gazeta do Povo, inclusive.
O Satisfeita Yolanda?, um site criado por Ivana Moura e Pollyanna Diniz, jornalistas pernambucanas, que contempla outros formatos além da crítica.
A revista Antro Positivo, idealizada e editada por Ruy Filho e Patrícia Cividanes.
Agora, um portal de crítica teatral com alcance nacional, apoiado pelo Instituto Goethe. O site abriga reflexões sobre espetáculos de diversas regiões do Brasil e também textos de teoria, entrevistas e reportagens.
Há, evidentemente, vários periódicos brasileiros que possuem espaços para a cobertura e a crítica de teatro, inclusive em versões online que, no entanto, não cabem nessa lista porque não apresentam as características aqui enfatizadas.
¹ SMALL, Daniele Avila. O Crítico Ignorante: Uma Negociação Teórica Meio Complicada. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015.
² RANCIÈRE, Jacques. O Mestre Ignorante: Cinco Lições Sobre a Emancipação Intelectual. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.