O espetáculo Tatuagem fez nesta quarta-feira sua estreia no Festival de Curitiba, transformando o Guairinha (Auditório Salvador de Ferrante) em um cabaré dionisíaco, desbocado, de cores vibrantes e trajes exuberantes, que levaram o público ao êxtase. A peça é inspirada no premiado filme homônimo de Hilton Lacerda, vencedor do Festival de Gramado em 2013, e oferece uma abordagem provocativa e contemporânea de um período sombrio da história brasileira.
A trama se passa no Brasil dos anos 1970 e gira em torno da fictícia trupe teatral Chão de Estrelas, conhecida por suas peças irônicas contra o conservadorismo e o autoritarismo da ditadura militar. Nomes como Carlos Marighella, Zuzu Angel e Vladimir Herzog são mencionados em cena, destacando a busca da Chão de Estrelas por liberdade em um contexto repressivo, tema que ressoa no Brasil contemporâneo.
Filme e montagem são inspirados no Teatro Vivencial, uma trupe pernambucana conhecida por sua militância poética e contracultura, refletindo a luta pela liberdade.
A peça não é cinema teatralizado, e busca, por meio de uma adaptação muito bem pensada para o palco, refletir sobre as mudanças políticas e sociais desde o lançamento do filme original durante o governo Dilma Rousseff, evidenciando as transformações que o país experimentou desde então, mais marcadamente com a escalada autoritária e ultraconservadora do governo Bolsonaro. Fala de um passado distante para discutir outro, bem mais recente.
O musical estreou em abril de 2022, no Espaço Cia da Revista, em São Paulo. A trupe teatral Chão de Estrelas, liderada pelo extravagante Clécio Wanderley e com Paulete como a principal estrela, é visitada pelo cunhado de Paulete, o jovem militar Fininha. Encantado com o universo criado pela companhia, Fininha é seduzido por Clécio, iniciando um relacionamento que o coloca diante da repressão militar em plena ditadura, explorando temas de amor e liberdade em tempos de opressão.
O elenco conta com a participação de André Torquato, Bibi Wine, Pedro Arrais, GuRezê, Júlia Sanchez/Larissa Noel, Lua Negrão, Lucas Truta, Mateus Vicente, Natália Quadros, Roma Oliveira e Zé Gui Bueno.
‘Tatuagem’: trilha sonora
A trilha sonora, um dos pontos altos do espetáculo, incorpora as canções de forma narrativa, complementando a história e destacando a riqueza artística e política da obra.
Com 23 canções da banda As Baías (antiga As Bahias e a Cozinha Mineira), incluindo sucessos como “Uma Canção Pra Você (Jaqueta Amarela)”, “Fumaça” e “Das Estrelas”, o musical também apresenta uma composição exclusiva, “Tatuagem”, criada por Assucena, ex-integrante da banda, especialmente para a peça. A trilha sonora, um dos pontos altos do espetáculo, incorpora as canções de forma narrativa, complementando a história e destacando a riqueza artística e política da obra.
Parte do projeto Conexão São Paulo – Pernambuco, que celebra os 25 anos da Cia. da Revista com uma trilogia teatral, Tatuagem é a segunda peça, seguindo Nossos Ossos, adaptação do romance de Marcelino Freire, e antecedendo João, inspirada na vida e obra de João Cabral de Melo Neto.
Dirigido por Kleber Montanheiro, o espetáculo apresenta momentos picantes e libertinos, como a primeira relação sexual entre os protagonistas Clécio Wanderley e Fininha, líder da trupe e um jovem soldado, respectivamente, iluminados por uma luz neon azulada, simulando um ato sexual – uma das cenas marcantes do filme, interpretada por Irandhir Santos e Jesuíta Barbosa.
A cenografia, assim como o figurino da peça, é extremamente inventiva e multifuncional, nos transportando da sede do Chão de Estrelas ao quartel do Exército onde Fininha mora, e a sua cidade natal, no interior de Pernambuco, por meio de soluções lúdicas e ágeis, que envolvem um estrutura básica de andaimes.
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