Um dos espaços mais despojados da temporada, o apartamento que se tornou teatro atraiu público considerável no primeiro fim de semana deste festival.
Dois momentos acompanhados por A Escotilha no Ap da 13 comprovam a vocação do lugar para reunir gente de fora da classe teatral (ou seja, mais diversidade) num clima de troca.
Tutorial, com texto e direção de Don Correa, ousa um formato bastante inseguro para os atores. Da rua, chama-se um passante que aceite com destemor a empreitada: participar de um espetáculo sem saber do que se trata. E lá veio ele, “Jack”, disposto a obedecer, mas só até um certo ponto.
Porque o texto fala de violência, e, apesar de ela estar tão próxima, na agressividade dos comentários de internet, por exemplo, ali, numa encenação, ela dificilmente surgiria. Valeu, Jack, por nos mostrar um pouco de civilidade.
Os atores Eduardo Ramos e Guênia Lemos simulam situações que começam como num improviso e dali partem para cenas. Há quem não goste de ser enganado (no teatro??), que prefira saber ao certo quando fala o ator e quando fala o personagem. Mas não há espaço para o conforto no teatro contemporâneo, meu irmão.
A abordagem de questões caras a qualquer um, como o relacionamento com o pai, deixou muita gente de olhos marejados.
No sábado à noite, Georgette Fadel trouxe sua Afinação I, uma proposta que abraça a representação e o improviso citados acima, mas de forma bem diferente. Como numa aula, ela, acompanhada de um violoncelo, nos fala sobre a racionalidade e o perigo de se confiar nos sentimentos.
Como a filósofa Simone Weil, depois como a personagem de Brecht Joana dos Matadouros, ela abraça a plateia num calor difícil de ver mesmo nos melhores professores. Cita Marx, Hegel, e deixa no ar o desejo por se estudar e aprender. Não, não estamos empurrando o mundo sozinhos nem fazendo o Sol surgir todas as manhãs. Mas parado não dá para ficar.
O Ap da 13 volta na sexta-feira (7) com programação intensa até o próximo domingo.