Faltam poucos meses para que Jair Bolsonaro complete dois anos no comando do Brasil, período equivalente a metade do tempo de seu mandato, e tudo indica que o seu projeto de destruição continua firme. Tudo vai mal, há muito tempo, e pra onde quer que se olhe a impressão é de que nada deve mudar, infelizmente.
O descaso do atual governo é evidente em todas as pastas, por isso afirmar que a cultura brasileira nunca esteve tão ameaçada não é lá grande novidade. Aliás, não seria exagero dizer que o Brasil está ameaçado por Jair Bolsonaro e que essa ameaça afeta a tudo e a todos por aqui, inclusive a cultura. Após a extinção do Ministério, ação que não tem outra justificativa senão o combate à cultura, já passaram pela Secretaria Especial criada pelo atual governo cinco secretários diferentes, todos envolvidos em polêmicas, todos adeptos do horror e do absurdo em nome de um projeto ignóbil que busca “a verdadeira cultura brasileira”.
O último desses nomeados foi o ator Mario Frias. Frias, apesar do inegável despreparo para o cargo, assumiu a secretaria debaixo de chacotas, e não de vaias ou grandes protestos. De caráter submisso e personalidade subserviente, o ex-galã age feito um cão de guardas em defesa de seu patrão, sempre abanando o rabo a quem convém e mostrando os dentes a quem representa perigo.
Diferente de alguns outros secretários, como Roberto Alvim, Mario sabe muito bem camuflar seu flerte com tendências autoritárias de governo, usando-as apenas para inflamar a claque bolsonarista que, de ouvidos abertos e olhos fechados, batem palmas e sobem hashtags a cada declaração criminosa do insignificante artista.
Frias é uma ameaça real, imunda, com poderes e ordens para implodir todos os mecanismos que fizeram a produção cultural brasileira tornar-se reconhecida nos últimos anos por sua qualidade e pluralidade.
À primeira vista, a figura de Mario Frias e sua presença como figura central da cultura brasileira parece provocar, seja na população ou nos trabalhadores da cultura, mais motivos para se fazer piada do que para se preocupar, no entanto, tratá-lo assim, na base do deboche e do desdém, parece estratégia no mínimo ineficiente quando, mesmo com a imagem turvada pelos risos, o secretario tem levado a cabo sua ideia de censurar e dificultar o acesso a verbas públicas àquelas obras que de alguma maneira desagradam aos homens do governo.
Frias é uma ameaça real, imunda, com poderes e ordens para implodir todos os mecanismos que fizeram a produção cultural brasileira tornar-se reconhecida nos últimos anos por sua qualidade e pluralidade. Suas declarações, e algumas de suas ações, deixam claro que Mario Frias tem apenas uma qualidade, a obediência, e um único projeto: a censura.
Em um país livre, democrático, é impensável que artistas e suas obras sejam policiados em nome de uma batalha ideológica criada e alimentada por um governo que tem na falta de cultura uma de suas bases mais fecundas. Combater figuras como a de Frias, portadoras da proibição e cúmplices da violência, é dever de todo artistas que hoje encontra-se abandonado e ameaçado pelo atual governo.
Além das piadas, apesar do desânimo, é preciso organização para defender os interesses da classe artística e garantir os direitos que permitem o trabalho dessa classe, e o principal, o inegociável, é a liberdade de criação. Mario Frias empunha sua caneta contra o pescoço de cada artista brasileiro e simplesmente rir de sua cara de bobo e de sua carreira medíocre não garante que conseguiremos preservar nossas cabeças acima dos ombros. Algumas vezes é preciso ir além do riso, e diante da vida ameaçada pela ponta da esferográfica do censor, a única opção é cerrar os punhos.