Figurinha carimbada no calendário artístico-cultural de São Paulo, o MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo descortina os palcos da cidade a partir desta sexta-feira. Com programação que se estender até o próximo dia 10 de março, a Mostra deste ano mergulha mais profundamente em olhares decoloniais.
Idealizadores da Mostra, Antônio Araujo e Guilherme Marques, diretores artístico e geral, respectivamente, veem importantes discussões permeando os espetáculos selecionados para a edição 2024. Temas como racismo, transfobia, identidade e memória estarão presentes.
Em 2024, o MITsp tomou a decisão de lançar luz a artistas, grupos e pesquisas vindas da África, Ásia, Oriente Médio e América Latina. “A Mostra sempre contou com artistas desses locais, que trazem novas teatralidades e formas de imaginar a cena”, afirmou Araujo. O diretor artístico aponta o desejo de amplificar a perspectiva decolonial, que já era uma realidade em outras edições, como razão para expandir a presença de selecionados dessas regiões.
A decolonialidade em cena
Termo bastante trazido à baila nos dias atuais, a decolonialidade se refere a um conjunto de teorias e práticas que buscam desafiar e desmantelar as estruturas de poder coloniais e imperialistas, presentes em diferentes aspectos da sociedade contemporânea.
Em termos teatrais, um teatro decolonial costuma lançar esse desafio às normas e estruturas presentes no próprio teatro através de diferentes estratégias. De modo geral, esse tipo de abordagem procurará criar espaços onde as vozes e perspectivas das comunidades marginalizadas possam ser celebradas, amplificadas e respeitadas, questionando assim as estruturas de poder coloniais que seguem presentes no universo teatral.
Entra as estratégias, podemos incluir a representação autêntica, que prioriza a precisão e autenticidade; a desconstrução de narrativas coloniais, que oferece novas perspectivas e interpretações das histórias e experiências colonizadas; a incorporação de práticas indígenas e ancestrais; a descentralização do poder, subvertendo hierarquias tradicionais no teatro, abrindo campo para colaborações horizontais; engajamento com questões contemporâneas, como racismo e injustiça social, por exemplo.
Programação
Em 2024, o MITsp tomou a decisão de lançar luz a artistas, grupos e pesquisas vindas da África, Ásia, Oriente Médio e América Latina.
Para a edição de 2024, a MITsp selecionou o diretor e compositor sul-coreano Jaha Koo para a mostra Artista em Foco. No evento, o público terá a oportunidade de assistir a apresentações de sua Trilogia Hamartia. O termo tem origem grega, significando “falha ou defeito trágico”, elemento que entremeia os temas tratados nos espetáculos, como o choque entre as culturas oriental e ocidental, bem como seu impacto na vida das pessoas.
O Eixo Mostra de Espetáculos conta com outros destaques, como a peça que abre a Mostra oficialmente hoje. Da África do Sul, Broken Chord [Acorde Rompido], de Gregory Maqoma e Thuthuka Sibisi, une dança e música tradicional africana à dança contemporânea e música clássica europeia. A proposta do espetáculo é aborda de forma poética o colonialismo, o apartheid e o conhecimento. Também dali vem o solo O Circo Preto da República Bantu. O trabalho de Albert Ibokwe Khoza aborda o racismo e a violência contra corpos negros a partir da história de zoológicos humanos, que existiram na Europa no período entre 1870 e 1960.
Da Argentina vem PERROS – Diálogos Caninos, trabalho de Monina Monelli em parceria com os brasileiros Celso Curi e Renata Melo. A proposta da peça é apresentar os conflitos e afetos da relação humana com os cachorros. Concebida antes da eleição do presidente Javier Milei, não se trata de nenhum questionamento ao líder argentino da extrema-direita local.
Internacionalização do teatro brasileiro
Um dos eixos mais importantes do MITsp, a MITbr – Plataforma Brasil tem tido importante papel na internacionalização das artes cênicas do país. Através do trabalho de diferentes curadores independentes, projetos com recortes do teatro, dança e performance das diferentes regiões brasileiras e dos mais variados temas foram selecionados para se apresentar para curadores nacionais e internacionais. Desta maneira pretende-se que haja expansão e reconhecimento das artes cênicas brasileiras.
“Desde o princípio, sabíamos que apenas produzir um showcase com artistas brasileiros não seria o suficiente para manter a circulação”, afirma Guilherme Marques. “O mercado internacional é muito bem estruturado e demanda do profissional, além de um bom trabalho, um domínio das formas de negociação e interlocução”, explica.
Este ano, dez trabalhos foram escolhidos pelos curadores Marise Maués, Cecília Kuska e Marcelo Evelin, que analisaram 446 propostas de 19 estados, Distrito Federal e de países da América Latina. Eles poderão se apresentar para cerca de 80 programadores internacionais e nacionais.
SERVIÇO | MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo
Quando: de 1º a 10 de março de 2024;
Onde:
- Biblioteca Mário de Andrade (R. da Consolação, 94 – República, São Paulo-SP)
- Centro Cultural Olido (Av. São João, 473 – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo-SP)
- CCSP – Centro Cultural São Paulo (R. Vergueiro, 1000 – Vergueiro, São Paulo-SP)
- Theatro Municipal de São Paulo – Cúpula (Praça Ramos, s/n – Centro, São Paulo-SP)
- Itaú Cultural (Av. Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo-SP)
- Teatro Cacilda Becker (R. Tito, 295 – Lapa, São Paulo-SP)
- Teatro Paulo Autran – Sesc Pinheiros (Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros, São Paulo-SP)
- Teatro Antunes Filho – Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141 – Vila Mariana, São Paulo-SP)
- Teatro Anchieta – Sesc Consolação (Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo-SP)
- Teatro Arthur Azevedo (Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo-SP)
- Teatro do Sesi-SP (Av. Paulista, 1313, São Paulo-SP)
- Tendal da Lapa (R. Guaicurus, 1100 – Água Branca, São Paulo-SP)
- Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona (Rua Jaceguai, 520 – Bela Vista, São Paulo-SP)
Informações e ingressos: www.mitsp.org.
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