A experiência de assistir na Broadway, em Nova York, ao revival de The Color Purple, musical baseado no premiado romance homônimo de Alice Walker, que também deu origem ao filme A Cor Púrpura (1985), de Steven Spileberg, deixou o diretor, produtor e ator Tadeu Aguiar muito impactado. “Chorei tanto que, no intervalo, não consegui me levantar”, contou ele sobre essa montagem, que estreou em 2015, com produção da apresentadora e empresária Oprah Winfrey, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua atuação na adaptação cinematográfica.
A montagem levou dois prêmios Tony, em 2016: Melhor Revival de um Musical e Melhor Atriz, para a britânica Cinthia Erivo, intérprete da protagonista Celie Johnson, vivida na tela grande por Whoopi Goldberg. Em 2023, o musical será adaptado para o cinema, sob a direção do cineasta Blitz Bazawule (de Black is King, com Beyoncé), e estrelado pela atriz e cantora Fantasia Barrino no papel principal
Aguiar gostou tanto do espetáculo, que decidiu enfrentar o desafio de montá-lo no Brasil, quando lhe ofereceram os direitos. Um dos fatores fundamentais para que ele tomasse essa decisão foi a não obrigatoriedade de, ao contrário do que costuma ocorrer em muitas versões de musicais célebres, levar ao palco uma cópia fiel, idêntica do que se viu nos palcos nova-iorquinos ou londrinos, dos cenários às marcações de cena, passando pelos figurinos e pela iluminação.
O contrato lhe permitiu maior liberdade criativa. “Eu não teria aceitado, caso contrário. Um diretor precisa deixar sua marca” Após temporadas bem sucedidas no Rio de Janeiro e em São Paulo, e várias premiações, A Cor Púrpura chega nesta sexta-feira (11) ao Grande Auditório do Teatro Guaíra, em Curitiba, para uma mini temporada que vai até o domingo.
Xexéu
A tradução do texto de Marsha Norman e das canções de Brenda Russell, Allee Willis e Stephen Braye foi realizada, em parceria com Aguiar, pelo jornalista, crítico e escritor Arthur Xexéu, que morreu em junho de 2021, aos 69 anos. “O trabalho dele é primoroso, muito sensível e preciso, porque ele conseguiu aproximar a peça, as letras das músicas, do público brasileiro, sem trair sua essência original”, contou o diretor.
O que se verá no nobre palco do Guairão é uma celebração da negritude. Ao todo, o elenco reúne 18 atores pretos brasileiros, o que, para Aguiar, é um ato político em si. Essa experiência não é, contudo, nova para ele como diretor. Em 2016, ele montou uma adaptação musical do clássico do cinema romântico Love Story, grande sucesso nas telas em 1970. “Embora, na história original, os personagens fossem todos brancos, decidi ousar e foi uma grande experiência”, contou o diretor à reportagem de Escotilha.
O que se verá no nobre palco do Guairão é uma celebração da negritude. Ao todo, o elenco reúne 18 atores pretos brasileiros, o que, para Aguiar, é um ato político em si.
Em A Cor Púrpura, o elenco negro está cena para discutir temas complexos, como abuso sexual, estupro, machismo, racismo, exclusão, feminismo e homossexualidade. “Isso tudo é muito político nos Estados Unidos e também aqui. É uma história que tem universalidade.”
Atriz e cantora
Quem interpreta o papel de Celie, uma das personagens negras mais potentes da literatura mundial, é a atriz e cantora fluminense Letícia Soares, que, após participações em inúmeros musicais, desde que fez sua estreia na versão brasileira de O Rei Leão, encara agora sua primeira protagonista com bravura e muita felicidade: “Eu senti que estava pronta. É o meu momento”, disse a artista, de 38 anos, por telefone de São Paulo, onde mora, em entrevista a Escotilha.

Celie é um desafio, porque Letícia a vive da adolescência à maturidade, no interior da Geórgia. A personagem é estuprada pelo suposto pai (Jorge Maya) aos 14 anos, e dá à luz dois filhos, um menino e uma menina, dos quais é separada, como também é afastada da irmã, Nettie (Merícia Cassiano) e, a quem escreve cartas que nunca são respondidas.
Celie é, então, submetida a um casamento sem amor com um homem mais velho, Albert, o Mister (Sérgio Menezes), que a vê como pouco mais do que uma empregada, e uma escrava sexual. Ele a maltrata e corrói sua autoestima. É apenas quando Celie conhece a cantora Shug (Flávia Santana), amante do marido, que ela descobre o amor, o prazer, em uma relação lésbica.
Começa aí sua jornada de encontro com si mesma, de resgato de seu amor próprio. “Essa história mostra o enfrentamento da violência, do desprezo, e o triunfo do feminino, das relações entre mulheres. Tenho muito orgulho de viver a Celie no Brasil”, conclui a atriz, que abraçou o teatro e a música depois de anos trabalhando como assistente social e, a partir de agora, mal pode esperar pelo próximo desafio.
SERVIÇO | A COR PÚRPURA – O MUSICAL
Onde: Teatro Guairão
Quando: 11 a 13 de março; sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 18h
Quanto: A partir de R$ 37,50 + TX R$1,80 (Conveniência)
Como: Vendas Ingressos digitais via Ticket Facil clicando aqui
Vendas na Bilheteria – Centro Cultural Teatro Guaíra
Rua Conselheiro Laurindo, s/nº – Centro, Curitiba – PR
Horário Atendimento: Segunda a sexta, das 12 às 18h
Classificação: 12 anos
Duração: 180 min
Informações: (41) 3304 7953
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