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Home Teatro

Sobre o congelamento

porFrancisco Mallmann
27 de outubro de 2015
em Teatro
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Júlio Verne (1885-1905), escritor francês, tem assustadores números envolvendo sua vida literária. São mais de cem livros escritos em 77 anos. São 148 as línguas para as quais suas obras foram traduzidas. Junto ao seu nome costuma-se registrar a menção de “o inventor do gênero de ficção científica”. O autor, que não precisou deslocar-se muito para escrever sobre grandes feitos em recônditas paisagens, terminou a vida falando sobre o uso equivocado de tecnologias e a importância da responsabilidade ambiental.

Em entrevista ao jornalista Adolphe Brisson, em 1898, Júlio Verne diz que deve a George Sand um de seus êxitos mais populares. O autor se refere a Vinte Mil Léguas Submarinas e George Sand é pseudônimo de Amandine Aurore Lucile Dupin, baronesa Dudevant. Uma novelista francesa, uma mulher. Uma das tantas que precisaram se esconder em um nome masculino para exercer suas genialidades. Foi considerada “a primeira grande escritora francesa”, a primeira autora a viver de direitos autorais e precursora do feminismo – a sua vida, a sua obra e o seu trabalho se tornaram causa e motivos para se pensar a “mulher” em uma sociedade que se assustava com a inteligência e a independência de mulheres. Em sua morte, em 1876, Victor Hugo escreveu “Je pleure une morte, et je salue une immortelle” (“Eu choro uma morte, e saúdo uma imortal”).

A relação de Júlio Verne e Amadine Aurore Lecile Dupin era de parceria intelectual, literária e política, segundo consta. Habitavam o mesmo contexto, transitavam e produziam no mesmo panorama. Pareciam saber que as dicotomias das quais faziam parte seriam transitórias, para além dos indivíduos “à frente do seu tempo” (um modo, às vezes, de designar “esclarecimento”). Acreditava-se que as manobras necessárias para se assumir “mulher”, por exemplo, seriam superadas.

É a segunda peça recente da companhia Vigor Mortis que se pretende “para toda família” – foi assim com Lobos nas Paredes, e o intuito se repete, agora, com Nautilus, “uma montagem focada no público jovem fã de ficção científica, que geralmente ainda desconhece o teatro como uma ferramenta de comunicação potente”. A origem da peça é o romance de Verne, Vinte Mil Léguas Submarinas, e tem texto e direção de Paulo Biscaia Filho.

O elenco de Nautilus é composto por Rubia Romani, Ed Canedo, Michelle Rodrigues e Angela Stadler (voz). Foto: Natalia Brückner.
O elenco de Nautilus é composto por Rubia Romani, Ed Canedo, Michelle Rodrigues e Angela Stadler (voz). Foto: Natalia Brückner / Divulgação.

A peça apresenta a reunião de três figuras: Nemo, o mesmo capitão da obra de Júlio Verne, Selena Theo, uma geóloga brasileira e Janaína Kreuz, uma documentarista, filha de um empresário importante para a trama. A ideia de uma continuidade do romance francês, publicado em 1870, se dá porque as duas mulheres encontram Nemo e Nautilus congelados, durante uma expedição na Antártida. Ao se integrarem ao submarino e seu engenheiro, capitão e dono é que a história inicia.

Se no final do século XIX, Nemo destruía navios e embarcações, no século XXI os alvos tornam-se bases petrolíferas. O temor que o “monstro do mar” Nautilus provoca no romance, tem ares terroristas e heroicos envolvendo o petróleo, “combustível de tudo”, na peça.

Cria-se assim o espaço de encontro entre a figura secular e duas mulheres de 2015 – a pesquisadora, com ares embrutecidos e masculinizada, e a documentarista, emburrecida pela futilidade. As duas mulheres, interpretadas por Michelle Rodrigues e Rubia Romani, em relação ao capitão do Nautilus, vivido por Ed Canedo, promovem um contraste, especialmente temporal, dada suas épocas distintas. Mas não só – as personagens apontam circunstâncias mais vastas, parecendo construir uma curiosa ligação entre a “história por trás da história” do livro e o modo como são mobilizadas as atualizações em Nautilus.

Não há dificuldade em compreender que vários dos assuntos expostos fazem referência ao abismo existente entre as figuras com vivências muito distintas de “mundo” e “época”. O jogo está exatamente nesse deslocamento e o que ele produz. Um confronto entre diferentes séculos e, também, uma maneira de evidenciar que o congelamento de ideias e comportamentos existe, ainda. Se é outra a geopolítica, algumas outras coisas não parecem tão mudadas.

A peça abre espaço para se pensar como a masculinidade é apresentada enquanto elemento a ser conquistado.

A peça abre espaço para se pensar como a masculinidade é apresentada enquanto elemento a ser conquistado – seja por trejeitos e certa performatividade adquirida por se dedicar a “atividades de homem”, ou por uma suposta relação afetiva/sexual a ser, necessariamente, construída. De um lado, o comportamento assertivo e positivo parece ser mérito e exclusividade da figura recém-despertada, de outro, a inteligência esquiva e a ignorância risível são o retrato de um recorte da atualidade. Autonomia, por exemplo, não é algo possível em um lugar em que “pais”, “orientadores” e “capitães” parecem ser forças necessárias para o deslocamento das figuras femininas.

O que a montagem apresenta, em meio as “aventuras” e um cenário mecânico, é certa reafirmação que, justificada e resolvida com a narrativa em questão, se sustenta em separações paradoxalmente presentes e desgastadas, sem, todavia, esboçar um posicionamento que indique possibilidades e/ou indicações concretas de outros horizontes. A peça, que entende o teatro como “ferramenta de comunicação potente”, ainda que absolutamente contundente em encenação e recursos cênicos, parece reproduzir a mesma perspectiva de outros meios. Longe de ser, propriamente, um demérito, tal circunstância promove pensamentos e discussões sobre o lugar do teatro em perspectiva a outras mídias – que lugar(es) habitamos atualmente e por que isso importa?

A historicidade e a narrativa dramatúrgica, dois principais recursos que podem oferecer fundamentação e respaldo às questões apontadas, parecem encontrar contrapontos na obra e no autor que originam o projeto. Foi Júlio Verne quem disse que uma boa história tem sempre o final otimista e engenhoso sem, no entanto, ser previsível.

SERVIÇO

Nautilus
Teatro José Maria Santos – Rua Treze de Maio, 665 – Centro.
Quando: De Quarta a Sexta, às 20h; Sábados e Domingos, às 16h e 20h.
Quanto: R$30 (inteira); R$15 (meia-entrada).

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Tags: Crítica TeatralNautilusPaulo BiscaiaTeatroTeatro José Maria SantosVigor Mortis

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