Percebo em mim transições, incorporação de todas as percepções que percorrem o espaço por onde me lanço. Existe outra camada sobre minha pele que interpreta um personagem configurado em minha mente, movimento ele a partir de sentidos que surgem da leitura que se encontra em outro mundo.
Sua construção é lenta e ao mesmo tempo acumulativa de tantas idéias. Fico preso ao seu conhecimento, à sua historia, que me faz buscar a explicação atual para a concretização de sua fala. Releio suas palavras, mudo o contexto, trago para a realidade os efeitos que compõem a história de vidas ficcionais. Sobrevoo ao alcance de seu estado físico em respiração que evapora no sufocamento de suas características.
O sacrifício para se chegar a um bom resultado é movimentar a personificação dessas ideias experimentadas e afirmar algo que transmita sua mensagem.
O papel é um espaço de criação em que o ator reescreve inúmeras possibilidades de ação sobre a dramaturgia, busca-se na imagem, na linguagem do pensamento de quem observa e joga com o outro. Enquanto criamos, vamos moldando as ações e buscando através do sentido, da imaginação, do som, a composição de outra ideia para a compreensão dessa realidade representada. É preciso ficar atento para não se distanciar do argumento da cena, levar o texto a sério e brincar de representá-lo como uma mentira-verdadeira. O sacrifício para se chegar a um bom resultado é movimentar a personificação dessas ideias experimentadas e afirmar algo que transmita sua mensagem.
O pensamento do ator deve ser visualizado pelo publico, é o que é visto, interpretado, reproduzido na ação física que condiz com a apresentação cênica. O corpo vai, deixa o ator revirado, retira o conteúdo necessário para a materialização da obra. A apresentação é marcada pela energia presente que vigora no corpo do ator diante de uma realidade experimentada verdadeiramente. Já não é mais o texto, nem a composição do trabalho do ator, é a obra final que se apresenta como registro do processo da criação teatral.
Para atuar, devemos repetir o mesmo processo variadas vezes, ensaiar, interpretar, representar o processo com mais qualidade do que da primeira vez. O ator deve passar por um processo de mudança, ficar alterado e se relacionar com seu trabalho numa frequência que deixa todas as ideias transbordarem no palco. É preciso acreditar que algo está acontecendo e que a história a ser contada faz parte da sua vida, independente de qual for o resultado.