Quando encenamos, mostramos algo que subverte a realidade que participamos. Colocamos em nosso corpo a significação do mundo transmitindo a mensagem que ecoa por todo ar em novas formas de observações. Refletimos sobre modos de comportamento e a participação dos seres reconfigura-se em diferentes lugares, na minha presença de ação, em diversos acontecimentos que nos colocam em outro estado.
A apresentação nos permite brincar, jogar com o estranho, misturar nossas personalidades. Criamos, escrevemos, atuamos e mudamos as possibilidades do tempo presente, agindo no sentido contrario da lei natural da vida. Recolhemos as referências apresentadas diante dos nossos olhos e incluímos nossa linguagem, apresentando um pensamento que compartilha o sentido estendido da observação.
Podemos começar nosso espetáculo a partir de qualquer ponto, de qualquer canto do espaço que faça pulsar uma energia. Somos a vida que pertence ao mundo, codificado em outra apresentação, em um platô ligado a várias ideias de se viver. Somos parte da raiz terrestre estendida em outros lugares. Transitamos pelo palco desde o surgimento do passado, paramos no centro e continuamos a história da nossa existência. Reconhecer o mundo como palco é cumprir um dever teatral que a vida pede. Vamos plantando um jeito e colhendo modos de conhecimentos. Tudo faz parte, é preciso olhar para os pequenos detalhes espalhados pelo chão.
Temos que nos aventurar na paisagem exposta na rua, nos entregar em diferentes formas de vida que atravessam a gente, em posições que mudam a nossa percepção e o olhar comum das coisas. Como disse Manoel de Barros: “o olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo”. Devemos seguir caminhos opostos para chegar ao lugar de nossa atuação, ir em direção ao sonho encaixotado em nossa mente. Reconhecer os detalhes de cada lugar e ampliar a atenção retida na memória, ter conhecimento dos fragmentos que compõem o cenário. Materializar as palavras, as cores, os sons e movimentos visuais, as histórias, os objetos e as coisas que o universo apresenta. Se transportar para outra cena cultural onde o invisível visto adentra aos nossos olhos.
Temos que sentir energia de luz, ter camadas de pensamentos, ser uma casa movente e ter sintonias de reflexões. Quebrar a quarta parede e escapar por entre ruas, pela ponta da caneta. Ganhar o mundo numa folha. Soltar-se no ar e nos codificar em relação ao globo.
Não se pode separa o teatro da vida, os acontecimentos estão na passagem dos dias. Ganha-se, perde-se. A forma de construção do mundo corre com o tempo de nossas posições.
Nossa trajetória pertence ao palco do mundo que se transforma num grande espetáculo chamado vida. Guardamos em nossas lembranças o cenário, os atores/atrizes, a iluminação, a maquiagem, os figurinos, os objetos e a encenação que se coloca como experiência da realidade. Nossa história se dá por meio de sentidos aos quais o corpo se insere percebendo os detalhes que modificam a reflexão do novo. Tudo está vivo para ser experimentado, vamos guardando nossas experiências e mapeando o caminho percorrido para sempre darmos outros sentidos.
Não se pode separa o teatro da vida, os acontecimentos estão na passagem dos dias. Ganha-se, perde-se. A forma de construção do mundo corre com o tempo de nossas posições, seguimos com os passos de nossas experiências. Amadurecemos com cada informação, buscamos relacionar a vida em qualquer ambiente para adaptar-se a todos os meios que fazem as coisas funcionarem.
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No palco da vida, tudo joga de acordo com o caminho que se conecta à trajetória encenada. Tudo influência, o percurso das linguagens se transforma em um plano de consistência da criação. A ideia se torna visível quando colocamos em prática a situação que percorremos. Quando temos o impulso certo, acreditamos no que se torna real e vamos mantendo o seu caminho. Temos que fazer a coisa acontecer, produzir com o conjunto, juntar todas as formas pra readaptar o que estamos fazendo. A arte permite o sentindo oposto da normalidade.
A encenação precisa fluir de acordo com a adaptação do corpo no processo real existente. Ir no tempo da pulsação da vida, no tempo do espetáculo, nas forças de ligações do sentido. Na nossa concepção de escolha do destino, na vida pessoal, na trajetória e no que acreditamos para nossa própria existência de ser.