A estética que vem sendo construída pelo diretor Dimis Jeans Sores faz um serviço à cena curitibana. Revela persistência, um trajeto na busca por linguagem, especialmente neste Primavera Leste, em cartaz até 29 de outubro na Caixa Cultural do Rio de Janeiro.
É um trabalho em conjunto com a Minha Nossa Companhia, no que resulta uma peça de estranhas combinações.
O estranhamento é uma das premissas da obra, já que se parte de uma situação absurda. E foi uma grande sacada essa “interferência” da adaptação do grupo a partir do texto de Diogo Liberano.
O texto do carioca está inserido numa peça dentro da peça, como dois capítulos bem diversos e que se combinam pelos opostos. [highlight color=”yellow”]Colorido versus preto e branco é só o mais exterior deles.[/highlight]
O texto do carioca está inserido numa peça dentro da peça, como dois capítulos bem diversos e que se combinam pelos opostos.
A moldura proporcionada pela narrativa maior que abarca a criação original traz um escritor italiano apresentando seu livro. Só que ele e sua plateia, nós, estão na sala da casa, enquanto sua vó vem da cozinha a cada tanto dar alguma ordem.
Outros detalhes se somam a esse preâmbulo sarcástico, como tentativas fracassadas do protagonista de contar sua história, aquela contida no livro que ele tenta promover. A obra pela qual deseja ser conhecido e lembrado.
Em sua incapacidade, vencido, ele chama a Trupe Maravilhosa do Teatro Brasileiro para interpretar seu relato.
A entrada em cena dessa equipe é daqueles momentos memoráveis que acontecem entre cena e plateia. Como se trata de um musical, executam um número, e nele enfileiram citações às artes nacionais, como Macunaíma e nossa companhia brasileira de teatro.
A “peça dentro da peça”, em si, traz uma grande quebra nesse embalo sarcástico em que se vinha batendo pezinhos, balançandinho na cadeira. [highlight color=”yellow”]Há referências políticas bastante diretas, o que funciona como gancho a reter o espectador[/highlight], mas a narrativa é bastante hermética.
A forma como se conta esse cerne do texto – três alunos que sequestram uma professora da UFRJ – passa pelo humor físico perseguido por Dimis em seus trabalhos à frente da companhia Bife Seco. Investindo em gestos mínimos e precisos, faz mais uma vez homenagem a Bob Wilson, o que ocorre também nas máscaras faciais e preferência pelo preto e branco dos figurinos.
A peça atinge seu melhor, para além da estética, quando confronta duas visões de mundo, na figura do escritor e de seu primo (Val Salles e Fernanda Perondi, hilários). As alternativas: buscar a eternidade por meio da obra de uma vida, ou apenas ganhar a vida e deixar-se esquecer sem maiores pretensões.
Sair do teatro com esse questionamento faz pensar na definição de Ricardo Piglia, de que todo conto (ou outra forma breve) traz em si duas histórias, muitas vezes sem relação entre elas. Em seu ensaio Novas teses sobre o conto, ele faz essa elegia à atividade artística, algo tão necessário hoje em dia, quando sua “função” parece estar em xeque. “Projetar-se para além do fim, para perceber o sentido, é algo impossível de se conseguir, salvo sob a forma da arte.”
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SERVIÇO | Primavera Leste
Quando: de 19 a 29/10, de quinta a domingo, às 19h;
Onde: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Teatro de Arena | Av. Almirante Barroso, 25, Centro (Metrô e VLT: Estação Carioca);
Quanto: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia);
Duração: 80 min;
Classificação indicativa: 12 anos.
Oficina Ficcionalização do Real e Autoficção, com Dimis Jean Sores
Quando: 21/10, sábado, às 14h;
Duração: 4 horas;
Vagas: 20;
Inscrições gratuitas pelo e-mail: oficinaminhannossarj@gmail.com.
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Ficha Técnica
Direção: Dimis Jean Sores;
Elenco: Geisa Costa | Val Salles | Fernanda Perondi | Léo Moita | Moira Albuquerque | Sávio Malheiros | Jeff Bastos;
Direção Musical, Composições e Preparação Vocal – Enzo Veiga;
Texto: Vito Konigsberg a partir da dramaturgia Primavera Leste, de Diogo Liberano;
Iluminação: Raul Freitas;
Figurino: Val Salles;
Cenografia: Erica Mityko;
Cenotécnicos: Sérgio Richter | Luis Vicente D’Albuquerque;
Maquiagem: Andréa Tristão;
Design Gráfico: Álvaro Antonio;
Produção Executiva: Inês Gutiérrez;
Produção Local: Clarissa Menezes;
Assessoria de Imprensa: Lyvia Rodrigues – Aquela que Divulga;
Registro Fotográfico: Luisa Marinho;
Realização: MINHA NOSSA Cia de Teatro | Girolê Produções;