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São Paulo sem Parlapatões

porBruno Zambelli
3 de dezembro de 2015
em Teatro
A A
Espaço Parlapatões. Foto: Divulgação.

Espaço Parlapatões. Foto: Divulgação.

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“Na esquina da Rua São Luís, uma procissão de mil pessoas 
           acende velas no meu crânio
há místicos falando bobagens ao coração das viúvas
e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo
fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes
         chupando-se como raízes
Maldoror em taças de maré alta”

Roberto Piva

Desde garoto, guardo um encantamento profundo pela cidade de São Paulo. Sempre tive a sensação, e ainda hoje a carrego comigo, de que a cidade é feita de poesia e caos. Sinto-me absolutamente aterrorizado diante dos gigantescos aspirais de concreto que dançam pelo céu cinza da Paulicéia. Agrada-me, por mais que pareça absurdo, a sensação de sufocamento que carrega seu ar de hálito tóxico em tom de desprezo. São Paulo, e essa é uma de suas maiores belezas, não espera por ninguém. Somos transeuntes desesperados, paralisados diante da beleza fria dessa dama frenética.

A paixão por São Paulo não é privilégio deste que vos escreve. Poetas como Oswald e Mario de Andrade já cantaram as hipnóticas belezas e os atordoantes horrores de seus cantos. Caetano Veloso eternizou no inconsciente popular uma de suas esquinas mais famosas. Tom Zé declarou seu amor dilacerado por suas belas ruas, oh Augusta sua vaidosa, e até o insípido Supla tentou, à sua maneira, homenagear a cidade onde nasceu, no entanto, falta-lhe, além de talento, olhos de ver a beleza dessa donzela de aço. Esses são só alguns exemplos de artistas que dedicaram obras à nossa tão amada terra da garoa.

Apesar de toda a poesia que escorre pelos paralelepípedos de seu ventre, a cidade de São Paulo guarda também o horror em seus olhos quentes. Não é de hoje que o horror nos salta aos olhos quando nos debruçamos sobre os acontecimentos cotidianos da cidade, não que isso seja privilégio de Sampa, meu!
Como todo grande centro urbano, a cidade engole e maltrata seus habitantes. No entanto, São Paulo passa por algumas transformações que vão muito além dos problemas de uma metrópole. O buraco, senhores, é mais embaixo.

São Paulo, assim como o Brasil, vem passando por um processo de “encaretamento”, uma espécie de apodrecimento de sua alma, que já foi mais livre. Há os que culpem sua elite, notoriamente abjeta e violenta, por esse processo. Há os senhores que culpam o medo. Sim, uma espécie de medo coletivo sem motivos ou fundamentos que vem fazendo com que a população paulistana sinta-se intimidada e, dessa maneira, passe a reagir através da intolerância e da estupidez. Eu, que há tempos perdi a crença na humanidade, acho que o mundo não vale mais a pena; esteja onde estiver, o verbo é, e sempre será, sofrer.

São Paulo, assim como o Brasil, vem passando por um processo de ‘encaretamento’, uma espécie de apodrecimento de sua alma, que já foi mais livre.

Na última semana, assistimos a cidade agonizar em praça pública e ficamos passivos, sem poder interceder pela vida tão maltratada dessa metrópole incompreendida. Enquanto Alckmin diz que não dá ordens a seus lacaios fardados para trucidar crianças à luz do dia, o risível Serra chora pelos cantos por uma avenida que ganhou vida através de seu fechamento; o teatro dos Parlapatões era fechado, de maneira autoritária e violenta, sem possibilidade de defesa.

Praça Roosevelt
Praça Roosevelt, em São Paulo. Foto: Trilha da Rua.

Era uma noite comum no espaço Parlapatões. Sábado, dia 28, e a noite corria normalmente. A conversa ecoava pelo espaço, animando os frequentadores do local. A cerveja, gelada,, corria solta de mão em mão e a espessa espuma lubrificava os lábios de jovens que conversavam sobre arte. A rua, razoavelmente clara, sem perder o breu poético da madrugada, vivia intensamente momentos de glória que parecem, aos nossos olhos embaçados pelos excessos, mais importantes do que realmente são.

Por volta de 01h30, paira no ar um tom sombrio. Munidos de intolerância e estupidez, com a lei debaixo do braço e uma mordaça nas mãos, surgem pelo espaços os fiscais do tal PSIU (Programa de Silêncio Urbano). Com a cara fechada, amparado pelo insignificante poder de um colete e um talão, o fiscal, que acredita ser um semi-Deus, fecha a porta do espaço, trancafiando sonhos e desejos que pairavam por ali.Triste perceber que a cidade que se gaba de ter uma vida artística, muito dessa vida deve-se aos teatros, não tem sensibilidade e muito menos decência ao lidar com uma situação como essa. O tapa porta calou fundo em todos nós.

É sabido, e isso não é de hoje, que os teatros da praça Roosevelt enfrentam problemas com moradores e proprietários de imóveis da região. A praça que deve absolutamente tudo às artes do palco, já que antes dos teatros o lugar estava condenado à marginalidade e ao esquecimento, parece não ser povoada por pessoas que sabem o significado da palavra gratidão. É covarde o modus operandi que tenta, com algum sucesso, transformar a praça das artes num resort para pequenos burgueses chafurdarem em sua mesquinhez. A praça agoniza diante da possibilidade real dos teatros deixarem o local, por motivos diversos. É preciso resistir, mesmo quando não temos forças, pelo simples fato de que a vida só é possível quando podemos sonhar.

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A cada proibição há de surgir uma nova motivação para nos guiar na escuridão desses tempos. Que fechem todos os teatros, mas não se esqueçam que o teatro mora no peito inconformado de cada ser humano que tem por crença o afeto e a paixão. Os senhores podem manter todas as portas cerradas, mas nunca poderão aprisionar nossa alma que clama por liberdade. Com os olhos marejados a lavar minha alma de ator amordaçado, sigo com a crença na reinvenção dessa cidade mistério que tanto adoro.

Faz frio. Caminho pacientemente por uma ruela do Bixiga; é madrugada, e o silêncio toma conta de todo espaço. Penso que cada paralelepípedo guarda uma pequena história impossível de ser apagada, que cada passo que me leva adiante pode me lançar no abismo dessa terra angustiada, e sigo, mesmo cambaleante, na certeza de que os encantos de São Paulo ainda são maiores que seus horrores e que hei de ver nossa vitória, mesmo que seja em meus sonhos.

Eu vos digo que Sampa clama por dias melhores, e admito que todo esse otimismo pode ser apenas o resultado dessa visão de São Paulo à noite, e que talvez isso não passe de um poema antropófago.

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“Na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
  a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria
          feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas
          definitivamente fantásticas”

Roberto Piva

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Tags: Espaço ParlapatõesParlapatõesPraça RooseveltRoberto PivaSão PauloTeatro

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