Trocando em Miúdos: O Teatro Oficina, comandado por José Celso Martinez Corrêa, enfrenta um processo devido a intervenção artística na PUC no ano de 2012. O caso, além de nos proporcionar uma reflexão sobre os limites da liberdade artística, serve de alerta para todos aqueles que defendem e creem na liberdade.
Não é de hoje que o Teatro Oficina, comandado por José Celso Martinez Corrêa, incomoda e desafina o coro dos contentes. O grupo, que já teve sua sede invadida, seus atores espancados e suas peças censuradas, tem um histórico de luta contra a opressão e o bom mocismo no território nacional. É evidente que a luta pela liberdade, um direito imprescindível ao ser humano, não é tarefa das mais fáceis no decorrer da história. São inúmeros os casos de censura e opressão que assolaram artistas e criadores, e com o Oficina não poderia ser diferente.
A trupe enfrenta, desde 2012, um processo movido pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por “crime contra o sentimento religioso”, devido a encenação de um fragmento da peça Acordes, adaptação da obra de Bertolt Brecht, assinada por Zé Celso. Diretor e atores devem comparecer ao Fórum Criminal da Barra Funda na próxima segunda-feira, 08, para prestarem depoimento.
No ano de 2012, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) nomeou a professora Anna Maria Marques Cintra como nova reitora da Universidade, apesar da candidata ter sido o nome menos votado nas eleições. A manobra gerou insatisfação de toda a comunidade estudantil que, apoiada por funcionários e professores, organizou diversas manifestações contra a nomeação, dentre elas a encenação da referida peça pelo Teatro Oficina.

A adaptação de José Celso da peça de Brecht trata justamente da questão do autoritarismo e do papel da multidão dentro do contexto das mudanças. A montagem foi sucesso de público e crítica, mas só isso não basta para almas inquietas como a de Zé Celso. O aclamado diretor uniu-se a alunos e funcionários da PUC, conclamando uma multidão para contestar a decisão da cúpula da Universidade. O trecho escolhido para a encenação foi a mutilação do boneco que, originalmente, atende pelo nome de Sr. Smith. Diante do convite, o diretor alterou a figura do boneco, caracterizando-o enquanto uma figura religiosa.
Tempos depois da encenação, o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz encaminhou um abaixo-assinado para o Procurador Geral de Justiça de São Paulo. Aparentemente, tanto o religioso quanto o Ministério Público, incomodam-se mais com a mutilação de um boneco em uma encenação teatral do que com uma afronta à democracia praticada pela Universidade. O inquérito policial foi instaurado e o diretor, José Celso Martinez Corrêa, junto a os dois atores, Mariano Mattos Martins e Antônio Carlos da Conceição Reis, encontram-se sob investigação.
É preciso estar atento e forte, como diz a canção, para esta situação. É arriscado que artistas tenham que explicar suas obras em salas de delegacia. Como tenho dito diversas vezes nesse espaço, o avanço do bom mocismo e do moralismo tem tomado rumos preocupantes nos últimos anos. Mas, apesar de situações como esta tornarem-se corriqueiras, tenho a certeza de que o poder de transformação do teatro é cada vez maior.
Avancemos contra a barbárie, companheiros!
FRAGMENTO DA PEÇA ACORDES
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