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O espaço entre a apatia e a revolução

porFrancisco Mallmann
26 de maio de 2015
em Teatro
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Trocando em Miúdos: Urubu Comum, da Cia. do Urubu, em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas, com direção e dramaturgia de Michelle Ferreira, tenciona questões existenciais em vidas cuja aparente banalidade enfatiza o absurdo.


Flávio Ricardo Vassoler escreveu recentemente um ensaio intitulado “Somente os Bárbaros Podem se Defender” (o texto está na edição 201 da revista CULT – há apenas um trecho no site e aqui estão transcritas as partes que interessam a feitura dessa publicação) em que discorre sobre como, com o fim da Segunda Guerra Mundial, há 70 anos, passamos a viver uma “guerra-civil-do-cotidiano”. Ele diz:

“Os sinais da guerra civil, declarada ou não, se alastram como uma epidemia. A guerra se confunde com a paz. A guerra civil recomeça a cada segunda-feira. (…) Eu preciso sobreviver contra todos os demais. Contra todos. Mas a crise, a contrapelo do hedonismo, também desvela a atrofia do eu, o ódio por si mesmo. Quando todos somos descartáveis, o individualismo mórbido recrudesce a luta pela sobrevivência na mesma medida em que radicaliza o autodesprezo (…) Quando tamanha violência se naturaliza somente os bárbaros podem se defender. Os bárbaros, os vencedores da barbárie, os prisioneiros do próprio privilégio. Para vencer em uma sociedade tão doente, não é preciso apenas trabalhar. Para vencer em uma sociedade tão doente, é preciso odiar o próximo como a ti mesmo, é preciso ter prazer em mutilar, é preciso ter prazer em não voltar para casa até que a sobrecarga de trabalho seja minorada, é preciso inundar a própria casa com a pilha de relatórios e planilhas, é preciso desprezar os derrotados pobres e pardos, é preciso enfileira-los, encarcerá-los, empilhá-los – e desová-los. (…) Por isso, é preciso não pestanejar sequer por um instante – porque logo você pode perder, porque você logo vai perder.”

Vassoler propõe uma relação direta entre esse comportamento e o atual contexto brasileiro, referindo-se, por exemplo, ao ódio a presidente Dilma Rousseff, ao caso da redução da maioridade penal e à grupos que pedem a volta da ditadura militar. Trata-se de um texto desestabilizador, por vários motivos. Ele afasta a ideia de que a violência se apresenta somente em eventos históricos-mundiais, midiáticos ou óbvios e se comunica com o leitor, como se pudesse dizer “você, violentamente, diariamente, luta contra algo ou alguém, ainda que negue”. As camadas se multiplicam porque os alvos, embora intercambiáveis, são contínuos. Há sempre um duelo e, por isso, há sempre violência.

A ideia de um cotidiano violento, cujo embate é constante, de alguma maneira, se relaciona ao que propõe a peça Urubu Comum (escrita e dirigida por Michelle Ferreira) que, com uma aparente despreocupação, toca em várias feridas das relações sociais e das formas de se viver atualmente – especialmente no espaço urbano, as maneiras de se conceber e produzir o “mundo” nesse contexto. A banalidade que constitui as figuras que fazem parte desse universo promove uma identificação direta com o espectador. Ainda que, às vezes, lembrem personagens-tipo (o professor, o porteiro, o investigador…) a noção de que “poderia ser eu, com todas as contradições de que sou feito” é vivenciada de maneira recorrente durante a peça – não sem dor! A proximidade é quase total e também se faz presente em outros aspectos. O espaço cênico indica um afunilamento do qual não se pode ver a possibilidade de fuga e a distância entre o ator e o espectador é mínima.

Anderson Caetano, Muhammad Chab e Carolina Meinerz em cena de Urubu Comum
Anderson Caetano, Muhammad Chab e Carolina Meinerz em cena de Urubu Comum. Foto: Divulgação.

Há uma lucidez cortante que parece ter efeitos semelhantes ao texto de Vassoler. O absurdo da narrativa, que a todo momento se verticaliza, de fato, abre caminho para uma análise próxima as premissas do Teatro do Absurdo: a não-linearidade, as rupturas de espaço-tempo, as contradições de um discurso, um humor que, frequentemente, é constrangedor, a união de aspectos e elementos de universos referenciais distantes, são todas características das contribuições desse movimento teatral do pós-guerra – momento em que uma espécie de descrença humana, um certo pessimismo generalizado e uma aparente perda das esperanças ditam o tom e as temáticas das produções (Esperando Godot, por exemplo).

“A noção de que ‘poderia ser eu, com todas as contradições de que sou feito’ é vivenciada de maneira recorrente durante a peça – não sem dor!”

É muito fácil traçar comparações. Urubu Comum também é carregada com esses mesmos elementos: a descrença, um certo pessimismo, a aparente perda das esperanças surgem na não-linearidade composta por rupturas e discursos que supostamente se contradizem promovendo um humor… No entanto, a questão operada em destaque é: o absurdo é dotado de uma lucidez cuja brutalidade reflete o nosso tempo. O que faz rir é o mesmo composto que promove o desconforto. A apresentação de papéis/funções sociais e todas as “verdades” e “certezas” nas quais se assentam para serem/estarem no mundo, revela, entre tantas coisas, a ausência de “sentido” que faz parte da vida de cada um. Questionar é um perigo e acomodar-se também. O jogo se encontra nas fronteiras entre o crível, o verossímil e o real. No final, pouco importa.

A peça fica em cartaz de sexta a domingo, às 20 horas, no Teatro Novelas Curitibanas, até o dia 31 de maio de 2015.

Tags: Cia. do UrubuCrítica TeatralCuritibaFlávio Ricardo VassolerMichelle FerreiraRevista CultTeatroUrubu Comum

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