O calendário brasileiro tem um método paralelo de organização bastante peculiar: nós geralmente sabemos em que época estamos por conta dos reality shows que estão passando. Primeiro semestre, quando o ano está começando e ainda estamos com gás, chega a nova edição de Big Brother Brasil, reality que, pelo menos nos últimos três anos, teve um poder fenomenal de engajamento.
Sabemos que o segundo semestre anuncia o fim do ano quando recebemos a nova edição de A Fazenda 14. O reality show parece ser preparado com muito esmero pela Record para cumprir certos requisitos e tentar nos trazer um impulso final, um sprint para nos ajudar a cruzar a linha final de 2022.
Acontece que, enquanto BBB talvez seja uma lata de energético, A Fazenda é preparada para ser uma mistura pouco salutar de Catuaba, pó de guaraná, Corote e uma pitada de estricnina. Com isto, quero dizer que a salada montada no programa é propositadamente envenenada – se não for para dar confusão, talvez nem valha investir no programa.
A primeira semana de A Fazenda 14 já fez jus a essa proposta e exibiu tanta baixaria que fica até difícil acompanhar tudo ao mesmo tempo. E talvez isto possa ser um problema para o programa a longo prazo.
‘A Fazenda 14’: um elenco “estelar” de subcelebridades
Quem acompanha A Fazenda sabe que ele já conseguiu criar uma lógica específica que celebra – de forma até debochada – o que pode haver de pior no ser humano: o desejo cego pela fama. Quem topa participar do reality show da Record já abriu mão da ideia de ter uma reputação mais séria e acredita que a fama, por si só, é uma fonte de renda legítima.
Não é de se estranhar de que logo tenhamos segundas ou terceiras linhagens de participantes de A Fazenda, como se a (má) fama fosse hereditária, dando luz a uma espécie de família real à brasileira.
Claro que há exceções a esta regra (colocaria aqui, talvez, Jojo Toddynho, que se absteve de “causar” e saiu de A Fazenda mais forte que antes), mas, em geral, o programa é propositadamente um caldo bem selecionado de subcelebridades. Se você conseguiu chegar dentro deste cast, dá para dizer que foi bem sucedido em sua inserção dentro deste nicho.
Na edição 14, este concorrido processo seletivo está cada vez mais alinhado. Entre os destaques, estão Deolane Bezerra (a “Doutora Deolane”, que explodiu para a fama ao se reinventar após a morte de seu marido MC Kevin), Deborah Albuquerque (ex-Power Couple, com personalidade perfeitamente ajustada a esse tipo de entretenimento) e Tiago Ramos (cuja fama se dá por ter namorado a mãe de Neymar, o que lhe trouxe o hilário apelido de “Neydrasto”).
Não por acaso, a cada nova edição, temos cada vez mais a sensação de estarmos formando gerações de “fazendeiros”, como se fosse uma vocação passada de pai para filho, de marido para esposa, etc. Veja, por exemplo, que o elenco de A Fazenda 14 traz Bia Miranda, ninguém menos que a neta de Gretchen (e a treta entre a vó, a neta e a mãe, Jenny, que queria ir ao programa ao invés da filha, é uma atração à parte).
Por isso, não é de se estranhar de que logo tenhamos segundas ou terceiras linhagens de participantes de A Fazenda, como se a (má) fama fosse hereditária, dando luz a uma espécie de família real à brasileira.
Muitos barracos em pouco tempo
Se há todos os ingredientes para uma bomba, é até esperado que ela comece a estourar logo na primeira semana. Os atritos entre os participantes já fazem parte das dinâmicas de A Fazenda, pensadas exatamente para isso. Uma vez que todos os fazendeiros foram meticulosamente treinados para assimilar que causar equivale a ter mais fama, dá pra entender que eles até busquem para que isso aconteça bem rápido.
Deolane e Deborah já entraram em brigas desde o primeiro dia, graduando os xingamentos em uma escala cada dia mais baixa. O Neydrastro chorou ao ser chamado de Neydrastro, e ameaçou pedir para sair do programa. Shayan (iraniano que ganhou fama por conta de mostrar comportamentos machistas no reality show Casamento às Cegas) já recebeu acusações de… machismo. Vini Buttel (ex De Férias com o Ex) empurrou Thomaz Costa e já tomou uma advertência.
Uma narrativa que começa no ápice, sem muita introdução, pode ser um tiro no pé. É preciso aquecer o público e ir escalonando para alguns momentos de clímax, pois há um certo risco de que a audiência simplesmente não aguente depois de um tempo esta dose diária de adrenalina. Será que teremos fôlego para seguirmos abraçados aos barracos de A Fazenda 14? As próximas semanas revelarão a resposta.
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