Há 35 anos, Globo, SBT (até então, TVS), Band e Cultura ganhavam a concorrência de mais uma rede de televisão nacional. Adolpho Bloch, um dos mais importantes empresários de comunicação do país, decidia expandir seus negócios para além das revistas de indiscutível sucesso Ele Ela, Amiga e o carro-chefe que deu nome ao seu novo empreendimento: Manchete.
Para que iniciasse em sua melhor forma, sua estreia foi atrasada em dois anos. O investimento pesado, no entanto, fez com que a emissora acumulasse dívidas, atrasasse salários e gerasse greves durante toda sua história. Soma-se a isso crises econômicas do Brasil, apostas erradas e a chegada da TV por assinatura e do UHF e há 20 anos a “televisão de primeira classe” acabava de forma melancólica. Todavia, as principais contribuições da Manchete continuam fortes no panorama nacional de televisão.
Chegada do anime no Brasil
Para que iniciasse em sua melhor forma, sua estreia foi atrasada em dois anos. O investimento pesado fez com que a emissora acumulasse dívidas, atrasasse salários e gerasse greves durante toda sua história.
Apesar de ser a emissora responsável por dar uma solidificada carreira à Xuxa e Angélica, no que se tangia a desenhos, a Manchete era fraca. A solução para seu catálogo medíocre veio do investimento em desenhos e séries de super-herois do Japão. A estratégia deu certo. Jaspion, Changeman, Jiraya e tantos mantêm uma legião de fãs brasileiros até hoje.
Entretanto, o grande boom veio somente em setembro de 1994 com a chegada de Os Cavaleiros do Zodíaco. A saga triplicou a audiência e devolveu relevância à Manchete após quase dois anos de vacas magras. Se não fosse pela Manchete, dificilmente se apostaria na excelente repercussão alcançada por Pokemón, anos mais tarde na Record. O mesmo pode-se dizer de tantos outros animes que, de tão relevantes, ganham novas versões nos dias de hoje, situação de Cavaleiros, que inclusive ganhará um remake pela Netflix em 2019.
Cobertura do Carnaval
![De 1985 a 1998, a Manchete passava, em conjunto com a Globo, à transmitir o carnaval carioca De 1985 a 1998, a Manchete passava, em conjunto com a Globo, à transmitir o carnaval carioca](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2018/06/paulostein2-300x181.jpg)
Em 1984, graças a uma reticente Globo que se recusava em ceder suas segundas-feiras para a exibição de desfiles de escola de samba no recém-inaugurado sambódromo do Rio de Janeiro, a Manchete se tornou referência quando o assunto era carnaval.
Com uma cobertura exclusiva e líder de audiência, daquele ano em diante, a cobertura dos Bloch traria os desfiles, bastidores, bailes e blocos de rua e até apuração paralela ocorria. Hoje, a transmissão dos desfiles continua somente com a Globo, mas os bailes e blocos de rua são tradição na Globo News. Já os bastidores do carnaval viraram atração na RedeTV! com altíssima repercussão pelos seus closes um tanto “ginecológicos” nas rainhas de bateria.
Jornalismo Verdade
![](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2018/06/manchete-atlanta-300x206.jpg)
Nos seus primeiros anos, o jornalismo era o ponto alto da Manchete. Tanto que o Jornal da Manchete, seu principal telejornal, contava com 1h30 de duração. No final dos anos 1980, surgia o Repórter Manchete, jornalístico de quatro horas e meia de duração numa época em que a ideia de um canal all news ainda era distante.
O título de “jornalismo verdade” veio com o Documento Especial, programa de reportagens lembrado até hoje por sua narrativa nua e crua. Com temas fortes e cenas que chocam quase trinta anos depois, tornou-se inspiração para o Conexão Repórter (SBT), Profissão Repórter (Globo) e Documento Verdade (RedeTV!) guardada as devidas proporções.
O mesmo ocorre com o Na Rota do Crime, programa que investia em perseguições policiais. Seu formato já foi utilizado pela Band com seu Polícia 24H e encontra refúgio na RedeTV! com seu Operação de Risco. Até mesmo a concepção que regeu o Programa de Domingo por anos ganha um relevante espaço no Domingo Espetacular, já tradicional revista eletrônica dos domingos da Record.
Teledramaturgia
![](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2018/06/pantanal_marcos_winter_cristiana_oliveira-300x176.jpg)
Ironicamente, a Manchete nem iria produzir teledramaturgia se a promessa feita a Rede Globo se mantivesse. Para nossa sorte, o acordo com a Família Marinho foi rompido e em 1984, a Manchete apostava na minissérie Marquesa dos Santos, estrelada por Maitê Proença e Gracindo Júnior, o resultado satisfatório fez o casal ser escalado pra outro grande sucesso no ano seguinte: a novela Dona Beija.
A partir de Beija, as novelas da Manchete sempre apresentaram nudez, erotismo exacerbado, cenas de ação e protagonistas irreverentes. O auge veio com Pantanal, trama de Benedito Ruy Barbosa. O sucesso da novela consagraria o autor, seu diretor Jayme Monjardim e a própria Manchete que conseguia um feito inimaginável para uma novela não-global: chegar aos 40 pontos. Algo que hoje é difícil até mesmo para a própria Globo.
Anos mais tarde, somente Xica da Silva se aproximaria do impacto causado por Pantanal. A história da escrava que virou rainha colocou Taís Araújo, Drica Moraes, Giovanna Antonelli e até seu próprio autor Walcyr Carrasco (que, na época, assinava sob o pseudônimo de Adamo Angel) entre os profissionais mais importantes que a Globo possui hoje.
Durante toda a década de 2000, emissoras como Band e SBT se empenharam em comprar os direitos de exibição da massa falida e, com esse feito, beliscar alguns pontos na audiência. Dentre as tramas que ganharam reprise estão Xica da Silva (SBT, em 2005), Mandacaru (Band, em 2006), Pantanal (SBT, em 2008), Dona Beija (SBT, em 2009) e A História de Ana Raio e Zé Trovão (SBT, em 2010), sendo a última delas a ganhar uma reapresentação em uma outra emissora até o momento.