Em agosto do ano passado, quando O Tempo não Para começou, escrevi nessa coluna que a novela das sete era animada, colorida e que possuía uma premissa inusitada: personagens do século XIX foram congelados após um naufrágio e despertaram na atualidade. Também escrevi, depois de algumas semanas, que a trama apresentava bons personagens, situações interessantes e diálogos afiados, bem-humorados e repletos de críticas sociais.
Porém, o desfecho do enredo, exibido na última segunda-feira (dia 28 de janeiro) na Rede Globo, em nada lembrou seu início. O que vimos no final foi uma história rasa, com uma excelente produção, mas que se diluiu em pouco tempo. Ou seja, foi uma boa ideia desperdiçada.
Com a promessa de contrapor o passado e o presente, o autor Mário Teixeira tinha nas mãos uma narrativa que podia render muito. O mote dava margem a uma série de diálogos inspirados, com um humor refinado, que expunha onde evoluímos e onde regredimos. As surpresas da família Sabino diante das novidades modernas rendiam ótimas situações. Mas tudo isso rendeu muito pouco.
O desfecho do enredo em nada lembrou seu início. O que vimos no final foi uma história rasa, com uma excelente produção, mas que se diluiu em pouco tempo. Ou seja, foi uma boa ideia desperdiçada.
Depois de alguns capítulos divertidos, a trama caiu no lugar-comum. Aos poucos, os personagens congelados se adaptaram facilmente às tecnologias, modos e costumes dos tempos modernos e a novela perdeu um de seus principais charmes. Com isso, o autor propôs tramas paralelas e novas situações para eles. Entretanto, o que entregou foi um roteiro confuso, com momentos que pareciam ter apenas a função de “encher linguiça”, que caiu nos tradicionais clichês de armações de separação do casal protagonista e falsas gravidezes.
Outra grande frustração foi a parte dos vilões destinada para Cleo, Luiz Fernando Guimarães e João Baldasserini (que tentou emplacar duas vezes como vilão interpretando gêmeos que surgiram na trama sucessivamente, uma troca que não fez qualquer sentido). A insistência em focar nas tentativas dos vilões de usurparem a empresa do protagonista e personagens subitamente perdendo função na trama ou desaparecendo foram fatores que ajudaram a história a perder força. Na reta final, a personagem de Regiane Alves, Maria Carla, cresceu na novela e se tornou a grande vilã.
Sobre o último capítulo, as palavras que definem são decepção e vergonha. Marocas envelhecendo, chegando a aparência da idade que teria se não tivesse sido congelada, e, depois, voltando a ser jovem novamente foi uma cena estranha e sem motivos (valeu a pena apenas por conta dos memes gerados). A cena da morte de Betina foi uma das piores já vistas na história da teledramaturgia brasileira. Os desfechos dos demais vilões foram rasos e inconclusivos. Personagens secundários foram esquecidos. E também não podemos deixar de citar o fato de que, como mágica, eles dão a entender que o rio Tietê estava despoluído e as pessoas voltaram a poder até pescar nele.
Mas para não falar apenas sobre os pontos negativos, um dos destaques da produção foram as interpretações de Edson Celulari, Juliana Paiva (atores que foram mal aproveitados em A Força do Querer, novela em que ambos haviam participado anteriormente), Milton Nascimento e Solange Couto. Todos eles apresentaram personagens carismáticos, com boas falas e momentos emocionantes.
Nos resta torcer para que a nova novela das sete, Verão 90, que teve sua estreia nesta terça-feira, dia 29, seja melhor que sua antecessora e consiga manter sua trama interessante do início ao fim. Semana que vem tem texto sobre a primeira semana, não perca!