Os executivos do canal FX americano fizeram um estudo para saber quantas séries foram lançadas em 2016. Os números impressionam. Só em 2016, entre canais abertos, canais a cabo e streaming, foram mais de 400 produções. É quase o dobro de uma década atrás. O estudo aponta que o crescimento ocorreu principalmente por causa dos canais fechados, que além de investirem pesado em suas produções, ainda contam com o prestígio das premiações, algo que a televisão aberta sofre mais a cada ano. De um total de 409 produções, 44 foram feitas por empresas de serviço streaming, como a gigante Netflix, Amazon, Hulu etc.
Duvido muito que alguém tenha conseguido assistir a mais de 400 séries em 2016, mas certamente alguém assistiu bem mais do que você ou eu. Diferentemente de anos anteriores, assistir àquela produção não muito conhecida da HBO não te fez um exímio conhecedor da arte televisiva, já que, se formos ampliar nosso repertório, vamos encontrar séries britânicas, australianas, canadenses, argentinas, brasileiras e aí a coisa fica insana. Nunca se produziu tantos seriados como agora. No Brasil, por exemplo, a Rede Globo começa a se aproximar ainda mais do formato norte-americano, lançando suas séries em formato streaming e apostando em novas linguagens, como foi o caso de Supermax e Justiça.
Só em 2016, entre canais abertos, canais a cabo e streaming, foram mais de 400 produções. É quase o dobro de uma década atrás.
Obviamente que muitas dessas séries são completamente dispensáveis, mas fiquei muito contente ao constatar minha dificuldade em fazer uma lista de melhores do ano e limitá-la a apenas dez produções. Foram tantos seriados e minisséries excelentes em 2016 que ficou difícil deixar algum de fora. Já a lista de séries ruins foi mais difícil ainda, já que o público (e eu estou neste meio) anda mais seletivo, sem perder tempo com coisas duvidosas demais. Assim, não vi tantas séries ruins este ano, o que é um alento para nossos coraçõezinhos machucados por um 2016 cruel.
Dito isso, vamos às melhores e piores séries de 2016, lembrando que a lista é baseada no que eu vi e no que a crítica apontou, portanto completamente subjetiva e questionável. Divirtam-se!
AS DEZ MELHORES
10. Making a Murderer (Netflix)
Sim, eu sei que o documentário foi lançado no finalzinho de 2015. Tecnicamente, em 18 de dezembro. Não deu tempo de colocá-lo na lista dos melhores do ano passado. Mas vamos combinar, ninguém falava de outra coisa em janeiro, quando a produção se popularizou de fato. A chocante história de Steven Avery deixou o público de queixo caído, não apenas por todo o chocante e absurdo julgamento ocorrido nos Estados Unidos, mas pela maestria com a qual as diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos conduziram a narrativa. Making a Murderer foi entretenimento puro, com reviravoltas crescentes que não deixaram o espectador se desligar da tela. Era um mix de indignação, frustração, medo e desesperança que a série se firmou como uma das experiências mais catárticas do ano. A relevância da produção foi tão grande que a Justiça norte-americana está reavaliando boa parte do caso. Depois do lançamento da série, multiplicaram-se os pedidos para liberar Avery, a ponto de a Casa Branca receber uma petição com mais de 130 mil assinaturas, pedindo o perdão presidencial. Leia nossa crítica completa aqui.
9. Girls – 5.ª Temporada (HBO)
A série pode não ser mais tão badalada como quando fez sua estreia em 2012 e pode ser esquecida na maioria das listas, mas a produção de Lena Dunham consegue melhorar e afinar seu texto a cada temporada, algo bastante raro na televisão e mais raro ainda para uma roteirista e atriz tão jovem, considerada a “voz de uma geração”, adjetivo que a prejudicou quando a série ficou um tantinho pretensiosa. Mas a quinta temporada não só entregou uma das melhores temporadas de Girls em questão de ritmo, como desenvolveu seus personagens de forma muito comovente e verdadeira. Depois de anos sendo a personagem mais odiada da série, Marnie (Alisson Williams) ganhou um episódio somente seu e acabou sendo o grande destaque da quinta temporada. Lena e seus roteiristas ainda conseguiram fazer Hannah amadurecer de forma muito dolorosa para o público e falaram de dor, perdas e rompimentos de forma rica, com destaque para a melancolia de Shoshanna experimentando os dissabores do desemprego e a intensa relação de Adam (Adram Driver) e Jessa (Jemima Kirke). Em fevereiro, Girls estreia sua sexta e última temporada. Leia nossa crítica completa sobre o quinto ano aqui.
8. Veep – 5.ª Temporada (HBO)
Se não foi fácil acompanhar o cenário político brasileiro, os norte-americanos também tiveram trabalho para entender o que foi que aconteceu em 2016. Mesmo meses antes do resultado das eleições, Veep se mostrou profética ao escancarar a palhaçada de um sistema político perdido, sem esperança e cheio de problemas. Mas acima de tudo, Veep fez rir, seja de nervoso ou por ser puramente engraçada. O talento absurdo de Julia Louis-Dreyfus e de todo o elenco deixam a série quase no limite da perfeição, sendo impossível não inseri-la em qualquer lista de melhores do ano. Com roteiro afiado, Veep consegue ser cômico, reflexivo e politizada sem ficar chata ou pedante por um segundo sequer. Leia nossa crítica completa aqui.
7. American Crime – 2.ª Temporada (ABC)
A única série de canal aberto da lista é uma esperança de que há vida inteligente fora da HBO e do streaming. Na onda de antologias que utilizam os mesmos atores para representarem papéis diferentes, a segunda temporada de American Crime falou sobre estupro entre garotos de forma muito corajosa para um público conservador, sem facilitar e nenhum segundo, muito pelo contrário. American Crime está enraizada em questões muito caras ao norte-americanos e colocou um espelho grande e quebrado na sala de cada um. A audiência, obviamente, não respondeu muito bem, mas nem isso desencorajou o criador John Ridley a fazer um desfecho inconclusivo e que deixa o público desconfortável. A série apresentou episódios extremamente difíceis e marcantes, como aquele em que mostra depoimentos reais de pessoas que passaram por traumas parecidos com os vistos na série, ampliando a discussão para atentados em escolas dos EUA. O segundo ano da série já está disponível no catálogo da Netflix e uma terceira temporada já está confirmada. Leia nossa crítica completa aqui.
6. Transparent – 3.ª Temporada (Amazon)
Aceitar o desconhecido e respeitar a dor dos outros. Mesmo após três temporadas, Transparent continua emocionando e superando seu enredo a cada ano, em uma sensibilidade que não apenas conquista a crítica, mas cada espectador que se comove com a família Pfefferman. No terceiro ano, a série conseguiu dar mais espaço para os personagens secundários, como Ali e Shelly, na temporada mais triste e melancólica de todas, o que deixa ainda mais estranha a insistência de classificar Transparent como comédia em todas as premiações, ainda que o texto nunca penda para o melodrama. Leia nossa crítica completa aqui.
5. Black Mirror – 3.ª Temporada (Netflix)
Embora eu não tenha achado a terceira de temporada de Black Mirror a melhor de toda a série, ela serviu para popularizar a produção e levar a experiência catártica para milhões e milhões de pessoa mundo afora. Foi interessante perceber a reação do público após assistir ao chocante episódio piloto e começar a refletir sobre tecnologia e a sociedade atual – ainda que a reflexão não dure muito mais tempo do que um episódio. Ainda que tenha havido uma perceptível queda na qualidade, Black Mirror parece estar apenas começando agora que conseguiu ganhar a atenção de todo o mundo.
4. Game of Thrones – 6.ª Temporada (HBO)
Mesmo que eu tenha minhas reservas em relação à série, Game of Thrones continua sendo o maior fenômeno da televisão, gerando discussões, debates, brigas em família e amizades desfeitas. A sexta temporada manteve um bom ritmo e conseguiu progredir na história de maneira satisfatória, além de levar todos os prêmios de melhor série do ano. Acima de tudo, GoT provou já ser o mair fenômeno da década e uma produção histórica para a HBO.
3. Westworld – 1.ª Temporada (HBO)
Demorou para empolgar e ainda está longe de ser um fenômeno igual a Game of Thrones, mas Westworld foi uma das séries estreantes mais corajosas e surpreendentes da temporada. Não é uma produção fácil, gostosa ou que mantém um ritmo linear, o universo não está plenamente estabelecido e alguns personagens são difíceis de gostar, mas há uma inteligência e provocação que deixa Westworld num patamar acima de outras séries atuais. Sem contar a belíssima trilha sonora, edição, direção de arte e todo o capricho que uma produção HBO pode oferecer. Leia nossa crítica completa aqui.
2. Stranger Things – 1.ª Temporada (Netflix)
Stranger Things ainda precisa provar algumas coisas em sua segunda temporada, prevista para 2017. Afinal, ela é uma série boa ou é apenas um gatilho para acessar nossas memórias de infância? Na verdade, são memórias de infância norte-americanas, mas divago. Fato é que Stranger Things entregou um dos melhores momentos do ano. Foram muitas declarações de amor, nostalgia, textos imensos sobre a magia dos anos 1980, análises literárias, referências cinematográficas, sendo, talvez, a série que mais dialogou com a cultura pop e fez mais um monte de gente assinar a Netflix. É, sem dúvida, a série mais querida de 2016 e que fez a gente se apaixonar por cada frame.
1. The People v. OJ Simpson – American Crime Story – 1.ª Temporada (FX)
Premiações nem sempre são sinônimos de qualidade, mas não é o caso da antologia de Ryan Murphy, que vem colhendo todos os troféus por onde passa e provando ser a melhor coisa que Murphy já fez na vida. Excelente em todos os aspectos, a minissérie The People v. OJ Simpson: American Crime Story foi a melhor produção do ano, com episódios dignos de aplausos, atuações absurdas e uma direção de arte impecável. A história é mundialmente conhecida, minisséries e documentários já foram feitos, quase todo mundo sabia o final do julgamento do século, mas cada segundo da série surpreendia até os mais avisados. Sabiamente, focou no drama de todos os personagens e não apenas no crime. Não é só uma das melhores séries de 2016, mas de toda a televisão. Imperdível! Leia nossa crítica completa aqui.
Menções honrosas:
Mr. Robot
Orange is The New Black
Justiça
Better Things
Bloodline
The Nigh Of
The Crown
This is Us
Outcast
The New Place
AS DEZ PIORES
10. The Walking Dead – 7.ª Temporada (AMC)
Eu vou confessar: não assisto a The Walking Dead desde a quinta temporada e não consigo passar do episódio de estreia do quinto ano. Eu durmo. E garanto que se eu assistir a qualquer episódio agora, não ficarei muito confuso. A série anda num looping eterno. Mas se eu não assisti ao sétimo ano, então por que a série está na lista? Bom, eu não poderia deixar de colocá-la visto que ela ganhou o título de pior série do ano por diversos críticos americanos. Os motivos parecem ser os mesmos da segunda e chata temporada: um ou dois episódios incríveis e depois uma monotonia presente em uma série que pede urgência, sempre. Voltar para um ritmo enrolado quando a história já está em seu cansativo sétimo ano é um tiro no pé. Desenvolver os personagens com calma é importante e fascinante, mas quando isso não é feito de forma eficiente, fica apenas chato e sonolento. Leia nossa crítica completa aqui.
9. Fuller House – 1.ª Temporada (Netflix)
Apelando para a nostalgia dos anos 80/90, a Netflix trouxe de volta Três É Demais, que até começou com um certo charme. Mas no decorrer dos episódios, Fuller House apresentou aquela velha sensação de vergonha alheia pura. com um roteiro pobre e atuações ridículas, a produção destoa completamente do caminho que a Netflix estava tomando em suas produções originais. A segunda temporada estreou há alguns dias com uma considerável queda na audiência.
8. The Family – 1.ª Temporada (ABC)
Merecidamente cancelada, The Family tinha uma premissa muito interessante, mas com uma execução ruim de dar gosto, tropeçando em clichês do suspense que mais pareciam terem saído de um filme ruim do Supercine. The Family mostrava o retorno do filho de uma importante personalidade política em uma cidade dos EUA, um rapaz que todos achavam que estava morto, depois de ele ter sido sequestrado há mais de uma década. Enquanto o misterioso rapaz era recebido de volta pela família, suspeitas emergiam: será que ele era realmente quem dizia ser? A série teve muitos problemas ao utilizar flashbacks de maneira desenfreada, histórias desconexas, personagens nada críveis e falhas grosseiras no roteiro. A segunda metade da temporada até trouxe algumas revelações surpreendentes, mas apenas evidenciaram a fragilidade da narrativa. Uma pena. Leia nossa crítica completa aqui.
7. The Ranch – 1.ª Temporada (Netflix)
Mais um tropeço grotesco da Netflix, mas que agradou boa parte da audiência. Basicamente, a série é uma sitcom tradicional com toques de drama, com alguns acertos aqui e ali, que ensaiam um breve sorrisinho no canto da boca e só. Piadas fracas estilo The Big Bang Theory bazinga, um blá blá blá com direito a risadas ao fundo para preencher a graça que os atores e o roteiro não tem.
6. Bull – 1.ª Temporada (CBS)
Um série de tribunal feita sob medida para agradar os americanos, mas que traz um roteiro maçante, antigo e que não combina com a televisão atual. A série conta a história de Dr. Jason Bull (Michael Weatherly), um advogado cheio de talentos. Com seus três PhDs, ele une psicologia, intuição e alta tecnologia para planejar cada passo dos casos de seus clientes, preparando a performance dos clientes na hora dos julgamentos É basicamente mais uma série cheia de clichês utilizados de forma um pouco tecnológica com diálogos e atuações vergonhosas. O protagonista é insuportável e, no fim, a série dá a entender que somente quem tem grana merece um julgamento justo e que manipular o júri pode ser algo charmoso. A audiência, porém, está alta. Vai entender.
5. Scream Queens – 2.ª Temporada (FOX)
A primeira temporada trazia algum frescor ao brincar com filmes de terror adolescentes, mas já temos Scream (MTV) para isso. Scream Queens sofreu para ser renovada, mas o canal apostou no talento e prestígio de Ryan Murphy. Infelizmente, a série piorou, com piadas ruins, roteiro mais fraco ainda e atuações nada marcantes. O ritmo não empolga e a audiência está cada vez mais baixa. Uma perda de tempo.
4. Wayward Pines – 2.ª Temporada (FOX)
Tenho a impressão de que os executivos das emissoras, às vezes, tomam drogas pesadas. Só isso para justificar a volta de Wayward Pines, depois da péssima primeira temporada, programada como minissérie e bombardeada pela crítica. Com produção executiva de M. Night Shyamalan, a série tentou pegar carona em Under the Dome e emular o clima de Twin Peaks, mas além de não conseguir repetir o sucesso das duas séries, deixou parte da audiência de cabelo em pé, não pelo suspense, mas pela vergonha alheia, com subtramas ridículas, diálogos fracos e uma resolução de fazer rir.
3. Man With a Plan – 1.ª Temporada (CBS)
Se Man With a Plan fizesse um crossover com uma outra série estreante, Kevin Can Wait, teríamos um combo de machismo e piadas ruins. Mas a série de Matt LeBlanc entra na lista por ser a síntese do mais vergonhoso que a televisão pode oferecer. A série basicamente conta a história de um pai que fica em casa com seus filhos enquanto sua esposa volta ao trabalho. Obviamente ele é péssimo nisso, arma as maiores confusões na hora de fazer tarefas ridiculamente simples e nós precisamos ouvir piadas tão fracas que fazem o antigo Zorra Total parecer algo sublime perto disso.
2. Arquivo-X – 10.ª Temporada (FOX)
Trazer a série de volta parecia empolgante e os primeiros episódios serviram para matar a saudade dos fãs depois de anos do encerramento de Arquivo-X. Mas, infelizmente, o resto da temporada foi não apenas inútil como enfraqueceu a série nos lembrando que o formato “caso da semana” está mais do que cansativo. A trama de conspiração foi forçada, nada fazia muito sentido, a peruca da Scully foi a coisa mais triste de todas e alguns episódios beiraram o ridículo, iguais os fracos episódios da primeira temporada. A FOX ainda não decidiu o destino de Arquivo-X, mas a audiência não foi lá aquelas coisas. Esperamos que eles só decidam reabrir os arquivos se o roteiro for minimamente interessante.
1. Vinyl – 1.ª Temporada – (HBO)
Martin Scorsese, Terence Winter, Mick Jagger e Bobby Cannavale. Todos esses grandes nomes reunidos para escrever uma série sobre a efervescência do rock nos anos 1970. Milhões e mais milhões de dólares envolvidos. Um piloto incrível. A confirmação da segunda temporada antes mesmo de estrear a primeira. A promessa de ser a melhor série de ano… e que decepção. Burocrática demais, a série focou nos bastidores e esqueceu de dar atenção ao amor pela música ou pela história. Talvez por pretensão, os roteiristas contaram que os nomes de peso seriam o suficiente. Não foram, a série foi cancelada e todo mundo saiu sem entender como Vinyl conseguiu a proeza de ser ruim.
Menções desonrosas:
Conviction
Damien
Fear the Walking Dead
Pure Genious