Dentre o imenso cardápio de reality shows musicais atualmente na grade das emissoras, PopStar, da Globo, talvez seja um dos mais divertidos (perde, em minha visão, ao empolgante formato de Canta Comigo, da Record, mas é melhor que a franquia The Voice). A proposta é simples e segue um modelo muito explorado em vários programas da Globo: celebridades diversas (atores, jornalistas, humoristas, jogadores) se aventuram em outra área (no caso aqui, no campo musical) e tentam, ao longo de alguns meses, sobreviver em uma competição.
O fator técnico, de fato, não é o ponto alto, uma vez que o júri – composto totalmente por pessoas conhecidas ligadas ao campo da música – só pode dar notas que vão de 9,7 até 10,0. Fica subentendido, além disso, que as relações pessoais entre jurados e candidatos torna praticamente impossível que eles sejam “detonados”, o que seria uma atração à parte. Conta muito mais o carisma daquele que se apresenta (lembro, por exemplo, que Jonathan Azevedo foi um dos grandes destaques da edição de 2018, ainda que não fosse o melhor cantor).
Isso tudo não significa que PopStar não seja um bom entretenimento. Muito pelo contrário – é um programa irresistível para quem adora esse tipo de atração em que os participantes parecem se levar muito a sério, enquanto do outro lado da tela, o público parece mais interessado em zoar aquilo que vê. A julgar pelo primeiro episódio do ano, haverá bastante material para a zoeira coletiva.
Isso tudo não significa que PopStar não seja um bom entretenimento. Muito pelo contrário – é um programa irresistível para quem adora esse tipo de atração em que os participantes parecem se levar muito a sério.
A começar pelos candidatos que parecem propensos a gerar bons memes. A performance exagerada de Claudia Ohana rendeu boas risadas, pois remeteu diretamente à sua “carreira” na música quando incorporava Natasha, na novela Vamp (para saudosismo do público que cresceu nos anos 90, cenas de novela foram exibidas). A carismática Nany People, vista como uma das mais esperadas do elenco, gerou alguma frustração com sua apresentação de “Nuvem de lágrimas”, famosa na voz de Fafá de Belém. Falhou justamente na comoção que era esperada pela escolha da música.
É importante destacar que o elenco é escolhido a dedo para causar vários efeitos na audiência. Há os ilustres desconhecidos de talento (Yara Charry, George Sauma), os “ressuscitados” de um passado na televisão (Babi Xavier, a própria Claudia Ohana), a “cota jornalística” (o repórter Danilo Vieira, disparado o que tem menos talento com a voz), os profissionais de reality shows (Eriberto Leão e Helga Nemetik) e aquele que talvez seja o nome mais esperado: o jogador Jakson Follmann, sobrevivente da tragédia da queda do voo da Chapecoense.
Voltemos aos destaques do primeiro episódio. Yara Charry, atriz criada na França e com carreira ainda incipiente na TV brasileira, trouxe um irresistível ar francês para interpretar, de forma bastante sedutora, o clássico “La vie en rose”, de Edith Piaf. Já Leticia Sabatella, que é profissional da música além de ser celebrada como atriz, ocupou todo o palco e trouxe uma performance que pareceu empolgar os presentes – além de trazer expectativa em relação aos seus próximos shows.
Mas é inegável que a cereja do bolo, sem dúvida, foi a apresentação de Jakson Follmann, propositadamente colocado para o fechamento do programa. Jakson cantou o clássico “Tente outra vez”, de Raul Seixas, que condizia com a sua história trágica, pois perdeu sua perna e quase todos os seus colegas na queda do voo. O jogador surpreendeu a todos com uma voz potente, quebrando a expectativa de que entraria como uma espécie de “cota” da emoção. Os jurados – e a plateia – se emocionaram, e o aplaudiram de pé, com lágrimas nos olhos.
Todos, menos um: o cantor e ator Tony Tornado, de 89 anos, foi talvez a principal atração da estreia. Passou o tempo todo de braços cruzados, com ar petulante e dando as notas mais baixas aos competidores. Ao quebrar a louvação aos participantes estimulada pelo formato do programa – e concretizada por praticamente todos os demais jurados -, Tony se tornou a diversão hors-concours de PopStar, meio na linha do que fez Baby do Brasil na temporada passada. A nós, resta esperar que a produção do programa tenha sacado isso e não desista de convidá-los para os próximos episódios.