Confesso que desde que me conheço por gente sou um grande fã dos documentários de natureza da BBC – mesmo antes de saber que eram da emissora inglesa. Com equipes dedicadas e orçamentos impossíveis de serem imaginados em comparação com a televisão brasileira, eles são capazes de ano após ano entregar-nos algumas das séries mais bem-feitas sobre a vida selvagem que habita nosso planeta, com pouquíssimas falhas ou decepções. Porém, há uma figura inconfundível que se destaca em boa parte deles: Sir David Attenborough.
Mais do que um simples narrador, ele é a alma por trás da maioria destes documentários, escrevendo e apresentando-os desde os primórdios da TV, nos anos 50. Devido a isso, ele é uma das personalidades mais conhecidas da BBC, e recebeu inclusive o título de Tesouro Nacional pela Biblioteca Britânica – um título que ele odeia por se considerar um cientista de coração, sem tempo para sentimentalismos –, o que já o colocou em um bizarro antagonismo com grupos criacionistas, que o enviam mensagens exigindo que ele dê crédito a Deus pelas maravilhas naturais de seus documentários.

Tesouro nacional ou não, é inquestionável a enorme contribuição que Attenborough teve para a BBC e para o desenvolvimento do que atualmente consideramos como documentário televisivo. E com mais de 70 projetos em sua filmografia, fica quase impossível falar aqui de todos. Até mesmo uma seleção dos considerados melhores me ocuparia por alguns bons meses – e, como qualquer um que já me viu em uma confeitaria sabe, escolher não é exatamente meu forte. Portanto, irei dar apenas alguns exemplos de preciosidades dele que tive a chance de apreciar, começando hoje pela minissérie Nature’s Great Events.
Lançada em 2009 – mesmo ano que outro documentário de Attenborough, o monumental Life – o foco da série, como o título sugere, é em mostrar alguns dos eventos mais espetaculares da vida selvagem, mostrando como eles são causados pelas estações do ano e pelas mudanças na temperatura e nas correntes oceânicas que vêm com elas.

É um testemunho do frágil esplendor do nosso mundo, no qual cada episódio é um novo ‘uau!’ a ser exclamado.
Cobrindo uma variedade de espetáculos naturais – o derretimento do mar congelado durante o verão ártico, a pesca de salmão por ursos cinzentos, a migração de gnus no Serengeti, e por aí vai -, o que impressiona no documentário e o torna um dos melhores do estilo é a escala quase bíblica dos eventos filmados, que (quase) anualmente reúnem uma quantidade de animais que é preciso ser vista para ser acreditada. São exércitos de milhares de golfinhos viajando pelos mares; é uma ilha inteira coberta de gansos-patolas até não ser mais possível ver as pedras embaixo deles; milhões de arenques que reúnem aves, leões-marinhos, tubarões, orcas e baleias em um frenesi alimentar, um comendo o outro em uma massa viva gigante na qual quase não dá para distinguir as espécies.
Sendo seu foco, porém, na forma como tais eventos são afetados pelo clima, a série não esquece de mostrar como o aquecimento global está os alterando. E nisso ela se sai melhor do que a maioria: muito se ouve sobre como o aquecimento global tem ameaçado de extinção os ursos polares ou tornado cada vez mais incerta a pesca de sardinhas na África do Sul, mas Nature’s Great Events consegue explicar de forma bastante didática como e por que isso acontece.
Se você é do tipo interessado nesse tipo de programa, este é um que não deve ser perdido. Com seis episódios facilmente encontráveis na internet, é mais do que um simples documentário de natureza: é um testemunho do frágil esplendor do nosso mundo, no qual cada episódio é um novo “uau!” a ser exclamado.