Darlisson Dutra é mineiro de Pingo D’água. Iniciou sua carreira na comunicação ainda menino, nas rádios comunitárias, e hoje, aos 31 anos, integra, desde 2011, o quadro de jornalistas do SBT, como repórter de rua e âncora de telejornais da emissora. Batemos um bom papo com o jornalista e falamos sobre sua trajetória, o fazer jornalístico e as fake news.
ESCOTILHA » Darlisson, como e quando você descobriu que seria o jornalismo a sua profissão?
Darlisson Dutra » Desde sempre soube que trabalharia na área da comunicação. Tendo um pai eloquente, naturalmente bom de oratória e super comunicativo, era meio que um caminho natural. Meu irmão mais velho era apaixonado por rádio e sempre me incentivou. Não demorou para que eu desse os primeiros passos como locutor de rádio até, então, migrar para o jornalismo, ainda no rádio, e depois me arriscar na televisão.
Antes de ingressar no SBT, quais foram seus outros trabalhos como jornalista?
Eu comecei lá pelos 13 anos, participando de rádios comunitárias. Aos 14, criei um programa gospel numa rádio católica, o que era algo extremamente incomum. Fiz participações em rádios comunitárias até que, aos 18 anos, comecei profissionalmente numa rádio de grande alcance, na qual fiquei por quatro anos. Passei também pela Rádio Globo AM, onde foi o meu primeiro contato com o jornalismo. No último semestre da faculdade, entrei para a TV Universitária, em Governador Valadares. Fiquei por seis meses até ser convidado pela TV Alterosa, afiliada do SBT em Belo Horizonte. Depois de dois anos e meio, o SBT me chamou para vir para São Paulo. Estou aqui há quase seis anos.
Se recorda da sua primeira aparição no telejornalismo? Como foi?
Lembro-me da primeira matéria. Foi na disciplina de “Telejornalismo”, na faculdade. A passagem foi na praça de alimentação, no intervalo da nossa aula. Eu não conseguia gravar. Não conseguia decorar o texto, suava mais do que tudo, e todo mundo me olhando. Estava todo molhado quando consegui terminar. Achei, ali, que televisão não seria para mim. Era muito difícil. Mas fui me esforçando e trabalhando os meus medos, até que acabei conseguindo dar conta do recado. Minhas primeiras matérias foram ao ar na TV Universitária. Não foi lá grande coisa, mas o primeiro passo sempre é assim.
Quais são as características, competências e/ou habilidades que você considera como essenciais em um jornalista?
Jornalista tem que perguntar, não pode ter vergonha de perguntar o óbvio, porque às vezes é dali que sai a notícia. Ter um bom relacionamento é um diferencial. Saber cativar as pessoas e cultivar fontes pode te garantir uma grande história. Sobretudo, um bom jornalista tem que saber ouvir as pessoas, e não só enquanto estiver trabalhando. Jornalista é jornalista 24 horas por dia.
Além de repórter de rua, você passou também a ser âncora de telejornais do SBT. Como você descreve a rotina nessas duas funções? Tem alguma preferida?
Olha, eu confesso que gosto muito de ser repórter de rua, é onde as coisas acontecem. Como sou meio inquieto, acho o trabalho em redação um tanto tedioso. Mas supervalorizo quem tem a habilidade de não só apresentar, mas também editar um jornal. É uma habilidade que ainda estou desenvolvendo. Gosto de apresentar porque é um lado que ainda não conheço bem.
Imagine que você poderia estar produzindo um material de relevância para a sociedade e você está usando aquele espaço para provar que tal noticia é falsa. Acho que atrapalha não só o trabalho jornalístico, mas é um desserviço para a sociedade.
Em minha estreia aqui na Escotilha, falei sobre os furos jornalísticos do SBT na madrugada, como aconteceu com o incêndio no Edifício Wilton Paes de Almeida, com a morte de Fidel Castro e com o acidente envolvendo o voo da Chapecoense. Como você enxerga essa monopolização do jornalismo da emissora nas madrugadas?
Assim que o acidente da Chapecoense foi noticiado no SBT, eu já estava de pé. A redação me ligou imediatamente e eu já estava preparando as malas para ir para Colômbia. Acho que jornalismo na TV aberta durante a madrugada é um caminho sem volta. As pessoas se acostumaram a isso. E o SBT, hoje sendo a única opção nessa faixa de horário, acaba preenchendo uma necessidade do público.
Difícil não falar do acontecimento em Brumadinho. Como foi a rotina jornalística na cobertura dessa tragédia?
Sofrida como poucas. Além do cansaço físico – a gente chegava a dormir 3 ou 4 horas apenas -, o abalo emocional é o que mais pesa. É uma tragédia como nenhuma outra. O número de mortos é algo inimaginável. As histórias tristes, as famílias desoladas… Impossível não chorar com elas.
Como você lida com as fake news?
Às vezes a matéria é para contradizer a fake news. Isso é um desperdício de produto jornalístico. Imagine que você poderia estar produzindo um material de relevância para a sociedade e você está usando aquele espaço para provar que tal noticia é falsa. Acho que atrapalha não só o trabalho jornalístico, mas é um desserviço para a sociedade.
Você sabe que possui uma grande responsabilidade social ao informar diariamente milhões de pessoas. O seu trabalho é capaz de construir opiniões, nortear atitudes e conduzir os assuntos que serão tratados pelo telespectador no trabalho, em casa, no bar… Como você encara essa sua responsabilidade e o que você faz no dia-a-dia para cumprir esse papel?
Eu acho que é importante sempre ao final do dia avaliar o nosso trabalho. Onde acertamos, onde erramos e procurar sempre se pautar pela responsabilidade social. Nosso trabalho não pode ser pela audiência, não pode ser para alimentar o nosso ego. Nosso trabalho é servir a sociedade, informar as pessoas do que às vezes elas não teriam acesso se não fosse por nós. A gente está aí para construir um mundo melhor, contando boas histórias e lutando contra as injustiças.