Nesta segunda-feira, começa a fase mais esperada do ano televisivo para muita gente: o início do Big Brother Brasil, o mais longevo e resiliente reality show da TV brasileira. Há 21 anos, uma parcela da população deste país dedica boa parte do seu tempo para falar sobre os assuntos que acontecem dentro de uma casa – mesmo que eles, em 99% das vezes, não tenham grande relevância.
O seu poder de mobilização coletiva é o verdadeiro segredo desse programa, que é, inegavelmente, um fenômeno cultural. Trata-se aqui de uma atração que já atravessa mais de duas décadas no Brasil, o que significa que navegou sobre águas turbulentas e vivenciou diferentes cenários da mídia televisiva.
BBB se iniciou em um momento em que os programas de TV tinham maior centralidade na vida das pessoas (e eu ainda me lembro de assistir, ao lado da família, de uma final de temporada como se fosse fim de Copa do Mundo).
O pulo do gato é que esse jogo se inicia muito antes da nova edição estrear. Está no “bolão” em torno dos possíveis nomes do camarote e na investigação detetivesca de pistas que podem revelar algo que ainda não se sabe
Mas tudo mudou, e a world wide web se popularizou a ponto de engolir praticamente todas as facetas da vida cotidiana. E, entre altos e baixos, Big Brother Brasil conseguiu novamente adquirir relevância ao se tornar não só algo a que se assiste passivamente em frente a uma tela, mas uma forma de participação nas redes sociais.
É bastante óbvio que, quando estamos falando ou compartilhando memes sobre gente como Gil do Vigor, Babu e Jade Picon, não estamos falando exatamente deles, mas sobre nós.
Nos últimos três anos, houve uma nova virada: BBB quebrou o paradigma de ser um programa só de anônimos e começou a receber famosos.
A jogada, que foi bastante arriscada, acabou dando certo: provou-se (ao menos inicialmente) que celebridades podem ser também humanos (ironia incluída aqui) e que até aqueles que já beberam da gota da fama podem também ser deglutidos pela “máquina de cotidiano” que é um programa sobre as pequenezas dos relacionamentos.
Mas, de novo, um desafio apareceu no horizonte: no BBB 22, Arthur Aguiar sagrou-se campeão, por mais que tenha ficado claro que esta era menos uma vontade popular e mais um movimento de um pequeno fandom que move montanhas para defender seu ídolo, por mais torto que ele seja. Significa que, mais uma vez, a fórmula precisa ser repensada?
Expectativas para o ‘BBB’ de 2023
O que já ficou evidente é que o reality show da Globo segue reconhecido por ter como seu valor máximo o acesso à popularidade coletiva – que, mesmo com tantos exemplos negativos (como os de Karol Conká, famosa, e Lumena, anônima), continua sendo algo que uma grande parte dos brasileiros almeja. Aparentemente, somos o país do “fale mal, mas fale de mim”.
Big Brother sobreviveu até aqui ao se tornar um jogo que vai muito além do merecimento de um prêmio (tônica que se acentuava nas primeiras edições, quando as pessoas mais desfavorecidas socialmente tendiam a sair vencedoras). Os espectadores fiéis de BBB (ou seja, os que realmente importam) são aqueles que levam o nome do programa para todos os lugares, e o encaram como uma experiência, mais do que como uma atração de TV.
E o pulo do gato é que esse jogo se inicia muito antes da nova edição estrear. Está no “bolão” em torno dos possíveis nomes do camarote e na investigação detetivesca de pistas que podem revelar algo que ainda não se sabe – como um sumiço das redes sinalizando que aquela celebridade pode estar na lista do programa.
Mas isto traz ônus também ao programa. Quanto mais as estratégias se sofisticam, mais elas são dominadas pelos participantes. E aí aparecem não só famosos, mas anônimos que contratam assessorias de imprensa para controlar todos os seus passos online e tentar controlar uma narrativa que, pela própria natureza do programa, é sempre inescapável.
Nesta sexta-feira, já sabemos quem são os confirmados do BBB 23. Caso não haja alguma surpresa, os nomes trazem pouca novidade. A “Casa de Vidro”, em que há a decisão do público, já decidiu por um rapaz chamado Gabriel, que tem o típico perfil de digital influencer e se vangloria de ter tido casos com Anitta e Luísa Sonza; e uma biomédica do Pará que afirma ter recebido “um chamado de Deus” para entrar no programa.
Na pipoca, há um enfermeiro baiano, um atendente de farmácia de Alagoas, uma maquiadora do Rio Grande do Norte e um sujeito do Mato Grosso que cumpre a cota “estereótipo do caipira” onipresente em todas as edições. Já no camarote, os bolões feitos na internet acertaram praticamente tudo.
Entre os presentes, estão o funkeiro MC Guimê, o influenciador digital Fred e o médico e apresentador Fred Nicásio, do programa Queer Eye Brasil. Aline Wirley, que fez parte do grupo Rouge, é um nome perfeito para mobilizar os tantos crescidos nos anos 2000 que eram crianças nessa época (ou seja, bem na época em que surgia o show)
A graça do BBB está justamente nessa imponderabilidade: um elenco incrível pode gerar uma edição sem graça (ou seja: sem conflitos interessantes), mas um grupo aparentemente morno pode gerar muito tema de conversa nos próximos meses. Aguardemos cenas dos próximos capítulos.
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