Homeland sofre com a falta de confiança de seu público. Com duas temporadas aclamadas, derrapou feio na terceira e perdeu credibilidade, ao menos por uma grande fatia de sua audiência. Tal desistência, porém, não parece justa. Desde seu quarto ano, a série soube recomeçar, abandonando personagens queridos pelo público, mas que já não tinham sentido na trama, e investindo em um roteiro complexo e cada mais vez político. Dessa forma, o quinto ano de Homeland manteve um equilíbrio interessante entre drama e ação, em uma das temporadas mais perturbadoras. Afinal, o que acontece em seus 12 episódios é perfeitamente plausível.
Depois de uma quarta temporada tensa, mas com uma season finale fraquíssima (leia a análise completa aqui), o quinto ano começa com Carrie sofrendo para amenizar sua culpa e a desilusão de anos de trabalho na CIA e na luta contra o terror. Assim, ela decide se isolar em Berlim, afastada da inteligência norte-americana, trabalhando como chefe de segurança de um filantropo alemão. Com isso, vemos uma Carrie tentando lidar com traumas do passado, mas levando uma vida mais centrada com sua filha, um namorado que a compreende e um emprego, digamos, mais seguro. Porém as coisas começam a complicar quando ela precisa garantir a segurança de seu chefe em um campo de refugiados e descobre que alguém está tentando matá-la.

Chega a ser assustador como Homeland consegue ser atual sem parecer forçada. Os conflitos na Síria e a ascensão do Estado Islâmico, tão discutidos recentemente, se tornaram o cerne da temporada, com um determinado episódio que pareceu antevir os ataques terroristas na Europa, gravado muito antes dos acontecimentos em Paris. Mais assustador ainda é o ataque fictício, no final da temporada, acontecer na estação de Hauptbahnhof, mesmo local que sofreu uma varredura policial na virada do ano por suspeita de atentado terrorista. E ainda que Homeland seja assumidamente norte-americana – afinal, a série fala sobre patriotismo – é louvável que em determinados episódios o roteiro force uma reflexão mais profunda sobre o modo sujo dos EUA fazer política internacional. Dessa forma, o programa se distancia de sua série irmã, 24 Horas, ao mostrar os Estados Unidos como uma nação corrupta, que passa por cima de leis para conseguir o que quer. Ainda que sempre vençam no final, o sabor da vitória é amargo.
E ainda que Homeland seja assumidamente americana é louvável que em determinados episódios o roteiro force uma reflexão mais profunda sobre o modo sujo dos EUA em se fazer política internacional.
Dito isso, Homeland parece ter aprendido sua lição, mantendo tudo o que fez da série um sucesso, ao mesmo tempo em que apresenta um universo rico de possibilidades a ser explorado, ainda que derrapando em alguns momentos. A bipolaridade de Carrie, por exemplo, possui uma força narrativa rica, mas os roteiristas pareciam repetitivos demais. Na nova temporada, entretanto, a forma de inserir a doença da protagonista foi engenhosa e instigante, durando apenas um episódio, sem perder tempo. Claire Danes, aliás, brilha mais nesta temporada, mostrando todo seu talento em episódios memoráveis que exigem da atriz um esforço dramático impressionante, sendo uma candidata fortíssima para o Emmy em 2016.
Relevante, também, é o protagonismo de personagens femininos nesta temporada. Todas são fortes, marcantes, mulheres empoderadas, e isso deve-se ao fato de Danes estar coproduzindo a série. Sabiamente, a temporada não focou apenas em Carrie. Assim, foi com calma que as personagens foram sendo desenvolvidas e inseridas na trama e, desde já, a personagem Alisson, interpretada brilhantemente por Miranda Otto, entra para o hall de melhores personagens de Homeland, sendo uma sociopata capaz de arrancar arrepios do público.

Mesmo assim, a série ainda sofre com algumas decisões erradas. Certas manobras no roteiro insistem em deixar os personagens burros, apenas para complicar a trama. Preocupante, também, foi o season finale. Mesmo infinitamente melhor que o final da quarta temporada, Homeland parece insistir em tramas românticas que não empolgam, apenas a prejudicam. É compreensível que os roteiristas queiram dar um nível de importância à vida pessoal de Carrie, já que isso garante complexidade à personagem, mas para uma série que necessita de urgência, utilizar o último episódio para falar de amor não parece ser uma boa ideia.
Porém Homeland apresenta mais uma temporada consistente. Novos cenários, roteiro saindo da zona de conforto, ainda que mantendo o que fez da série um fenômeno, mudança drástica nos personagens e uma discussão pertinente para a atual situação politica no mundo todo mostram que a série não está para brincadeira.
Em tempo: o programa foi renovado para uma sexta temporada.