Recentemente, tive a oportunidade de participar de uma entrevista no canal dos amigos do Meteoro Brasil com um antigo vencedor do Big Brother Brasil. Ganhador da edição 9, de 2009, Max Porto faz parte de uma “casta” composta por 20 pessoas (em breve 21) que saíram vitoriosas do principal reality show de convivência do país. Certamente, o prêmio – cujo valor já variou durante os anos, mas atualmente, é de 1 milhão e meio de reais – mais almejado não é o dinheiro em si, mas a projeção e a visibilidade que um programa desses pode trazer a alguém.
A conversa com Max foi bem interessante (assista aqui). Pessoalmente, trouxe a mim uma visão mais clara de que há uma verdadeira carreira como big brother, à qual vários brasileiros se candidatam, mas pouquíssimos conseguem seguir. Se nos primórdios do BBB podíamos imaginar que alguns participantes que estavam ali simplesmente tentando a sorte, hoje é quase inconcebível pensar que chegue até o programa algum “despreparado”. Todos que estão ali são como maratonistas do BBB que treinaram por anos (muitos participantes, inclusive, vivem contando quantas vezes se candidataram até conseguir a vaga). Em suma, eles estudaram para isso. Como contou Max Porto na entrevista: é como se preparar para um vestibular de medicina, concorridíssimo.
Chegar lá é dificílimo, mas é só a primeira etapa do desafio. A segunda parte é ainda mais desafiadora: é conseguir configurar um bom personagem dentro desse programa de interação humana – que é todo calculado para gerar conflitos e desestabilizar os desafiantes. Esta é a parte mais rica do BBB, uma vez que, embora haja pistas sobre o material do qual é feito um vencedor, não há fórmulas definidas e repetíveis sobre o que faz alguém ser amado ou odiado pela população de um país.
A edição 21 nos trouxe uma participante icônica: falo de Juliette, a paraibana que entrou como piada (por causa de suas abordagens atrapalhadas ao cantor Fiuk) mas em poucas semanas se tornou uma favorita – e, a não ser que algo muito inesperado aconteça, deverá se consagrar campeã. Seu sucesso é tão fenomenal que tem gerado muitas análises de gente que tenta entender por que Juliette mobilizou um fandom tão ardoroso fora da casa do BBB. Seus números são assombrosos: no dia em que escrevo esse texto, ela soma 18 milhões de seguidores no Instagram.
O jornalista Leo Dias, em um texto intitulado “Por que Juliette é o maior fenômeno do momento no Brasil”, tenta entabular algumas respostas. Dias destaca sua genuinidade: “ela é autêntica. Até mesmo na chatice, ela é única. Ela é verborrágica, fala pra caramba, mas é justa. A justiça domina o seu ser”.
Conforme já discuti em outros textos dessa coluna, falar sobre autenticidade é sempre adentrar em alguma polêmica, pois “ser a si mesmo” é a moeda número 1 que todos os participantes oferecem ao BBB – mas, como sabemos, é algo que acontece pouquíssimas vezes ao longo do programa, nos raros (e deliciosos) segundos em que “real” escapa da performance dos participantes. Por isso, penso que daria para dizer que quase todos ali são autênticos: Gil no seu descontrole emocional, Karol Conká na sua antipatia, Lumena na sua arrogância, Fiuk em seu ensimesmamento.
Falar sobre autenticidade é sempre adentrar em alguma polêmica, pois “ser a si mesmo” é a moeda número 1 que todos os participantes oferecem ao BBB.
Leo Dias levanta ainda outro fator importante para falar do sucesso de Juliette. Tem a ver com sua origem nordestina. “O Nordeste hoje domina a internet, tantos os que moram na região, quanto os que migraram para São Paulo. Ela dá orgulho ao Nordeste. O caráter dela é algo que vê-se pouco nos dias atuais. Ela tem orgulho do seu sotaque, da sua história de vida na Paraíba”, explica o colunista.
A origem nordestina é algo que Juliette divide com Gil, outro participante forte e tão carismático quanto ela. Então o que Juliette tem que Gil não tem? Joguei a questão nas redes sociais para colher algumas impressões dos espectadores, que tentaram explicar: Gil é titubeante, falta firmeza nas suas decisões, e é muito influenciado pelos outros. Juliette, ao que parece, se favorece por ter sido colocada em uma posição de isolamento. Assim como Lucas (que provavelmente estaria entre os favoritos, caso não tivesse desistido do BBB), Juliette teve que jogar o jogo sozinha, sem aliados (ou com aliados que trocaram de lado ao longo do programa). A trama do “injustiçado”, de alguém que precisa ser recompensado pelo público pelo seu sofrimento, é algo que pende a favor dela para que siga como a principal candidata ao prêmio.
Por fim, destaco dois elementos bastante importantes para seu favoritismo. O primeiro é a qualidade da gestão de suas redes sociais, que a trata como uma marca e usa técnicas profissionais de marketing digital para gerir sua imagem (consta, inclusive, que mais de 15 pessoas trabalham nessa equipe). A outra é a capacidade que Juliette tem de soltar frases marcantes, que se tornam memes imediatamente. Dois exemplos recentes: quando, numa briga com Gil, ele a acusou de que ela chora e não seca as lágrimas (querendo dizer que ela forçava o drama para as câmeras) e ela respondeu: “eu sou maquiadora, se eu secar, borra”; noutro, ela soltou a frase “quando mais forte a gente é, menos carinho a gente recebe”, que rapidamente repercutiu no Twitter.
Isso tudo significa que Juliette é a pessoa mais sábia do país, uma “fada sensata” sem defeitos? A resposta é: não. Ela é capaz de levantar tanto amor quanto incitar haters – muitos a acusam, com razão, de ser “Euliette”, ou seja, falar sempre de si mesma, mesmo quando tenta apoiar alguém. Mas aí voltamos justamente à perfeição do formato deste programa: o fato de que, por mais que os candidatos se preparem para este “vestibular de medicina”, o resultado sempre beira o imponderável. Nunca houve outra Juliette, assim como nunca haverá outras.