No último domingo, dia 9, foi ao ar, no programa Domingão do Faustão, da Rede Globo, o prêmio “Melhores do Ano”. Como já comentei em outro texto, a premiação é uma grande “festa da firma” da emissora. Esse ano, graças a essas tristes eleições e à nuvem cinza do retrocesso que tomou conta do nosso país, muitas personalidades públicas se manifestaram e declararam seus posicionamentos e opiniões. Grande parte da classe artística se mostrou resistente à extrema direita e seus preconceitos. E esse clima pairou sobre toda a cerimônia. Foi uma premiação marcada pela política.
Vários artistas aproveitaram a audiência do programa para falar sobre a luta pelo direito das mulheres, incluindo o próprio apresentador. As concorrentes da categoria atriz revelação (Bella Piero, a Laura de O Outro Lado do Paraíso; Claudia Di Moura, a Zefa de Segundo Sol, e Kelzy Ecard, a Nice de Segundo Sol) falaram muito sobre união feminina e representatividade.
Bella Piero, eleita por seu personagem que era abusada pelo padrasto, levou as colegas para o palco na hora de receber o prêmio e justificou “ninguém solta a mão de ninguém, não é meninas?”. Em seu discurso, ela comentou que representavam a mesma classe: as mulheres do Brasil. “Laura não é uma personagem, ela existe na vida real e está sentada ali resistindo, lutando por nossos direitos e lugar de fala. Esse troféu representa todas as Lauras, Marias, Zefas, Nices, Joãos, Marielles. Esse troféu representa todos os nossos gritos que foram calados. Estamos todos juntos. Juntos somos luta, resistência e muito amor”, declarou.
Grande parte da classe artística se mostrou resistente à extrema direita e seus preconceitos. E esse clima pairou sobre toda a cerimônia do Melhores do Ano.
Taís Araújo, que disputava na categoria atriz de série por Mister Brau, ressaltou que esse é um momento de união entre as mulheres. “O aprendizado não tem idade, o importante é a união entre todas nós para que todos tenham uma vida melhor”, comentou.
Tatá Werneck, que concorreu à melhor atriz coadjuvante, também declarou que, em sua carreira como humorista, muitas vezes precisou se renegar como mulher, mas que hoje se arrepende de ter aceitado essa situação e está feliz que as coisas estão mudando.
Sérgio Guizé, que levou como ator de novela pelo violento Gael de O Outro Lado do Paraíso, foi mais um a se manifestar. “Quando fiz esse personagem, em nenhum momento parei de pensar nas mulheres que sofriam abuso como o que ele praticava no começo da novela. A maior arma contra esse tipo de crime é a denúncia, sim. Vou continuar lutando pela legitimidade do direito das mulheres”, afirmou. Sua esposa, Bianca Bin, nos bastidores, foi filmada fazendo o gesto da resistência durante a declaração.
Mas feminismo não foi a única pauta. Sandra Annemberg, vencedora da categoria jornalismo, falou sobre fake news, contou que seu vestido foi desenhado por um jovem autista e tocou no tema dos direitos humanos, ressaltando sua importância.
Alexandre Nero, vencedor do prêmio de melhor ator em série, fez menção direta ao ex-presidente Lula, ao lembrar a experiência de gravar a série Onde Nascem os Fortes na Paraíba. “A gente visualizou ali uma situação bastante precária, porém aquela situação já é cem vezes melhor do que era há quinze, vinte anos atrás. Eles têm uma admiração, não à toa, ao Lula, que, com todos os defeitos que tem, a gente sabe disso, o Lula é admirado por lá porque ele deu nova vida pra esses caras, né. Eles não tinham nada, absolutamente nada. Eles são muito gratos a essa situação”, disse.
Fernanda Montenegro, que recebeu o prêmio de categoria especial junto a Adriana Esteves e Marieta Severo, fechou a cerimônia fazendo um contundente desabafo sobre a carreira de ator. “Nós somos dignos e temos uma profissão extraordinária que, para nós, é a melhor do mundo. Podemos não ser prioritários, mas a nossa função é libertária. Os nossos programas de entretenimento e peças de teatro são uma busca constante de ampliação do imaginário e da sensibilidade. Colocar os pés neste palco é um compromisso para sempre. Não somos corruptos. Não somos isto que nos acusam de forma tão agressiva e abrupta. Não somos ladrões diante da Lei Rouanet. Procurem os verdadeiros culpados”, desabafou.