Em 2013, A Teacher era um filme sufocante, além da estreia de Hannah Fidell na direção (ela também assinava o roteiro, um argumento relativamente simples que foi adquirido antes mesmo de completo).
O trabalho da diretora foi extremamente elogiado, em alguma medida evocando as premissas que tornaram Michael Haneke o grande realizador que é: a sensação de deslocamento e estranhamento de indivíduos na sociedade moderna.
Em 2014, a produção foi adquirida pela HBO para ser adaptada para uma minissérie. No entanto, levaram mais 6 anos até que A Teacher chegasse à televisão, ainda que com os planos modificados. A história de Fidell, agora, foi levada para a FX e saiu apenas na plataforma de streaming Hulu, chegando recentemente ao Star+ no Brasil.
Raramente procuro informações antes de assistir uma série, pois acredito que quanto menos souber, maior a probabilidade de ser surpreendido. Contudo, ter Kate Mara no elenco foi, certamente, um facilitador.
A Teacher acompanha Claire Wilson, uma jovem professora de uma escola secundária no subúrbio de uma pequena cidade do Texas e a relação que ela desenvolve com seu aluno, Eric Walker.
Eric, no alto de seus 17 anos, passa a desenvolver uma admiração pela personagem de Kate Mara que transcende o vínculo aluno/professora.
O projeto clama por tratar toda a complexidade envolvida em uma relação com caráter abusivo, predatório e de poder como esta. Claire (Kate Mara) é casada, mas vive uma frustração de ser, entre os colegas do tempo de colégio, a única que não tem filhos.
Seu desejo contrasta com o certo desinteresse de seu esposo, Matt (Ashley Zukerman, de Succession), que ainda preza pela liberdade de não ter filhos, de usar seu dinheiro em outras coisas que não a criação de uma criança. E quanto mais opostos em seus desejos, mais a relação deles esfria e eles se distanciam.
Nesse cenário aparece Eric (Nick Robinson, o Sean de Maid), um jovem estudante da escola em que Claire é professora, que deseja ter um futuro melhor para si (e, consequentemente, para os dois irmãos e para a mãe), mas cujos resultados escolares não são muito promissores.
Sua angústia por conseguir melhorar de vida encontra eco na angústia da solidão e mesmice da vida de Claire, e eles passam, através do auxílio dela com orientação nos estudos, a desenvolver uma relação de mutualismo. Eric, no alto de seus 17 anos, passa a desenvolver uma admiração pela personagem de Kate Mara que transcende o vínculo aluno/professora.
Claire até tenta fugir, mas algo em Eric a atraí, e essa é a faísca para que a orientação escolar se transforme em sexo. Este é o ponto máximo possível para tratar A Teacher sem entregar o desenrolar da trama. Todavia, não há como se furtar de diferenças cruciais que separam o filme de 2013 da minissérie de 2020.

O longa-metragem é um produto melhor acabado, sedutor e claustrofóbico em igual medida. Lindsay Burdge (de Easy), que interpreta a professor no filme, talvez tenha encontrado a melhor medida para construir a imagem de uma predadora sexual, que nesta relação é quem tira vantagem.
A favor do filme pesa, ainda, o ritmo. A extensão feita em A Teacher para que se tornasse uma minissérie (são 10 episódios de 30 minutos cada) deixa o ritmo mais lento, o que tira parte do impacto que a obra original de Hannah Fidell tinha, esvaziando parte daquele desconforto de uma relação abusiva, muito mais aceita e erotizada na sociedade.
É complicado comparar obras que, ao fim e ao cabo, são diferentes, mesmo que partam de uma mesma ideia. Entretanto, se puder sugerir ao leitor, acompanhe A Teacher no Star+, primeiro, mas não deixe de procurar o longa-metragem depois. Nesta ordem. Como diz o ditado materno, deixe para o fim a parte da refeição que você considera melhor.
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