Em sua quarta temporada na Record (a segunda sob o comando de Gugu Liberato, substituindo o desconfortável Roberto Justus), Power Couple Brasil reestreou cercado de uma alta ansiedade pelo público, por era o retorno do programa após uma edição marcada por barracos entre os casais e personagens fortes. Em sua segunda semana de exibição, a expectativa tem se cumprido: a estreia foi a melhor em termos de audiência e a repercussão do programa nas redes está sendo positiva. Portanto, há bons indícios de que o programa cumprirá a promessa de continuar sendo o melhor programa ruim do na TV brasileira.
Explico: a ideia de Power Couple Brasil é oferecer um reality show de convivência, expondo a “roupa suja”, a intimidade de casais que aceitam se expor para a televisão. Isso é feito a partir do confinamento (todos vão morar na mesma casa, uma mansão construída pela Record) e a participação em competições esdrúxulas nas quais as duplas precisam apostar valores em dinheiro um no outro (representando, por um lado, o grau de conhecimento entre os pares e, por outro, a confiança nas capacidades dos cônjuges para cumprir as provas). No fim da semana, os casais com piores desempenhos correm risco de cair e entram em uma “DR”, expressão usada pelo programa para o “ritual” da eliminação.
A lógica é relativamente simples, mas a Record parece ter achado uma fórmula bem específica para que Power Couple Brasil virasse uma atração única da TV. O programa virou uma espécie de “museu” da categoria mais trash possível das celebridades televisivas: a das pessoas famosas simplesmente por terem participado de reality shows (Aritana Maroni, por exemplo, que estreou em MasterChef Brasil, já participou de cinco). E, nesse sentido, nenhum outro programa consegue reunir uma nata desse inusitado grupo que, por motivos diversos, angaria um improvável fandom que se mobiliza nas redes sociais para defender pessoas cujo principal capital simbólico é a “personalidade” – curiosamente, os que têm as piores costumam juntar a maior quantidade de fãs.
A quarta temporada, então, já apresenta forte potencial na categoria trash TV, pois tem um elenco escolhido a dedo. Há dois casais oriundos do Big Brother Brasil – Mariana e Daniel, do BBB 6, e Kamilla e Elieser (que se tornou uma espécie de meme ambulante, conhecido por sua suposta falta de inteligência). Há participantes do De férias com o ex (André e Clara) – que talvez seja, esse sim, o reality show mais zoado da TV. Há os que vieram de atrações “sérias”: Lucas Salles, por exemplo, foi repórter do CQC, e é conhecido também por imitar Gugu Liberato, o apresentador de Power Couple (um dos momentos mais engraçados da estreia, inclusive, foi a emoção de Lucas ao conhecer o famoso comunicador).
O programa virou uma espécie de “museu” da categoria mais trash possível das celebridades televisivas: a das pessoas famosas simplesmente por terem participado de reality shows.
Há famosos aposentados de uma carreira musical, como a ex-funkeira Taty Zago, e famosos por terem sido casados com famosos da trash TV (Faby Monarca, que foi casada com Marcos Oliver, o “ator” do “Teste de fidelidade” do programa de João Kleber). E há ainda aqueles trazidos pelo quesito nostalgia, fator importantíssimo da TV – estão nessa categoria André, antigo membro do grupo Br’oz, boy band lançada pelo SBT, e Debby Lagranha, que surgiu como atriz infantil no programa A turma do Didi, na Globo.
Mas a grande estrela, desde a estreia, é Nicole Bahls, uma perfeita celebridade deste tipo de televisão. Surgida como dançarina no programa Pânico na TV (as famosas “panicats”), Nicole alçou voos solo ao unir uma personalidade marcante, algo espevitada (tem um ar meio nonsense e um humor físico, ao estilo da icônica Phoebe Buffay, personagem de Friends) e uma beleza minuciosamente preservada por muita academia e procedimentos estéticos. Após participar de A Fazenda, outro reality show da Record, ela consolidou um séquito de defensores que certamente lutará para Nicole permaneça no Power Couple até o fim. A julgar pelas primeiras semanas do programa, seu favoritismo já foi reconhecido por outras participantes, como Fabi Monarca – que tentou se despontar como uma nova Nadja de Power Couple 2018, uma vilã inesquecível, mas foi defenestrada pelo público já na primeira DR.
As provas continuam temperadas pelo mais fino teor dos estereótipos de gênero. Na primeira delas, os homens precisavam correr para pendurar roupas em um varal ensaboado (o que foi pontuado por comentários de suas esposas sobre se eles faziam ou não tarefas domésticas). Na segunda, as mulheres eram guiadas pelos maridos para que consertassem pias em um banheiro. Oportunamente, Nicole Bahls gerou um meme imediato, ao “revelar” que não sabia o que era sentido anti-horário.
Ao assumir-se claramente como uma atração da baixa qualidade, Power Couple Brasil segue como um dos momentos mais esperados do ano na TV, e promete continuar trazendo um saboroso entretenimento trash – nem que seja para espiar, por poucos segundos que seja, a intimidade deste elenco de “famosos quem” escolhido a dedo para nos ofertar uma diversão ao fim das noites. Tudo isso orquestrado por Gugu Liberato que, sem se levar muito a sério (diferente do que fazia o tenso Justus), parece ter encontrado sua casa definitiva na Record e empresta seu inegável carisma a mais um reality show da emissora.