Em 1987, uma menininha que rezava todo dia para ser famosa e havia participado do Buzina do Chacrinha chamou a atenção de Maurício Shermann, produtor da TV Manchete, que agora procurava uma substituta para outra cria sua: Xuxa Meneghel, que havia migrado para a Globo. Nascia, assim, a apresentadora Angélica e a nova fase do Clube da Criança.
Se Xuxa despertava interesse por se comunicar e agir como uma criança, mesmo no alto de seus 24 anos, Angélica era apenas uma dentre tantas garotas que se dividiam entre as assistentes de palco (como Camila Pitanga, Giovanna Antonelli, Juliana Silveira) e as que batiam ponto na plateia do infantil, a diferença era que a loirinha da pinta tinha o microfone, naquilo é apontado como sua grande força: a identificação direta e imediata com seu público.
Quando o hit “Vou de Táxi” dominou as rádios brasileiras, a Manchete criou o Milk Shake, um musical que misturava humor e os mais diferentes artistas brasileiros. A pluralidade do programa, vale lembrar, fez com que Caetano Veloso se declarasse fã do programa. Apesar do sucesso de audiência e comercial, quando a crise se instaurou na Manchete, não houve oferta de programa dominical que a segurasse. Depois de muita insistência, a loirinha agora era do SBT.
Na emissora de Silvio Santos, que é considerada a faculdade dos programas de auditório, Angélica se graduou com louvor.
Para seus fãs, a fase do SBT é considerada a mais frutífera. Na emissora de Silvio Santos, que é considerada a faculdade dos programas de auditório, Angélica se graduou com louvor. Ficar à frente do infantil Casa da Angélica e dos clássicos Passa ou Repassa e TV Animal lhe rendeu outro convite para um dominical, naquela que prometia ser uma poderosa trinca: Angélica, Gugu e Silvio Santos. Entretanto, isso nunca aconteceu.
Angélica resolveu aceitar o convite da líder de audiência, a Globo finalmente oferecia uma proposta que lhe agradava e, logo menos, estreava o Angel Mix nas manhãs da emissora, naquilo que parecia ser uma mistura das gincanas do Passa com os esquetes da Casa que recebiam um tratamento de novelinha. Entretanto, a concorrência feroz de Eliana mesmo numa emissora três vezes menor impôs constantes derrotas, o que provocou um fim melancólico e descaracterizado do programa global.
Nos anos 2000, após um período sabático, Angélica ganhava o Vídeo Game. Uma gincana entre famosos dentro do Vídeo Show que a manteve relevante por toda a década e o Estrelas, programa que explorava o “lado B” dos famosos aos sábados, mas que não era transmitido para todo o Brasil até 2015, naquilo que é a prova de um “descaso” da emissora com toda sua trajetória profissional.
Com a extinção do Estrelas, a continuidade do vínculo com a Globo parece estar ameaçada. A imprensa aposta que a emissora carioca oferecerá um “contrato sabático” que permite aparições especiais na emissora, assim como ocorre com Renato Aragão, Jô Soares e que ocorreu com Xuxa, antes dela assinar com a Record.
De fato, Angélica não precisa provar mais nada a ninguém. Mas talvez esse seja o momento certo para se reinventar profissionalmente, ou melhor, tomar de vez aquele espaço que sempre lhe foi oferecido, mesmo que em outra emissora. Ou nem isso, talvez apenas a mudança de ares em uma outra emissora seja o suficiente para dar um novo frescor em sua carreira.
Xuxa pode não ter os melhores índices na Record, mas é um inegável sucesso comercial e, assim como a eterna rainha dos baixinhos, Angélica é relevante, extremamente popular e carismática. Esse deve ser o momento de refletir qual deve ser seu próximo passo, mas em um cenário cada vez mais carente de comunicadoras que não sejam meras leitoras de TP, Angélica ainda tem muito a mostrar.