Antes de me aprofundar na análise do que já aconteceu até agora em Fear The Walking Dead, é importante citar um ponto que chamou a atenção logo de cara. O spin-off de The Walking Dead estreou no canal AMC batendo o recorde de audiência da TV a cabo norte-americana. E isso não é pouca coisa. Foram mais de 10 milhões de espectadores só nos Estados Unidos. Números que devem ser mais expressivos ainda se somados aos espectadores em outros países, seja de maneira oficial ou via download do episódio.
Pois bem. Existem pontos que merecem destaque nestes dois primeiros episódios exibidos. Um deles é que a produção conseguiu, até o momento, criar uma narrativa à parte, que se conecta ao seu original apenas pela premissa do apocalipse zumbi – neste caso, o iminente apocalipse. E por que isto é importante? Em primeiro lugar, é desta maneira que permitirá que o seriado tenha uma identidade própria e que caminhe sem ter que “prestar contas” aos fãs, seja dos quadrinhos ou da série “mãe”. Em segundo lugar, isso dá fôlego para que Fear The Walking Dead conquista seu próprio público, já que o desenrolar da trama independe do que acontece com Rick, Glenn e companhia.
A promessa que Robert Kirkman havia feito de “nada de florestas na nova série” tem sido cumprida à risca. No lugar de Atlanta, temos Los Angeles. Assim como foi com Better Call Saul e Private Practice, Fear The Walking Dead ganha muitos pontos por suas caraterísticas próprias. Agora, uma coisa é fato: tirando isso, a série ainda não mostrou a que veio. Alto lá. Sabemos que foram apenas dois episódios, contudo, tanto o piloto quanto o segundo não entregaram as doses de tensão, angústia e ação que se espera. A sensação permanente é quase como viajar de carro com uma criança inquieta: “Já chegou? E agora? Falta muito?”.
“Só que, até agora, Fear The Walking Dead tem se prendido a apresentar muitos personagens e querer complexá-los exageradamente.”
Até era de se imaginar que, em especial o primeiro episódio, seria assim. Era uma das propostas do spin-off mostrar como o mundo era antes do terror tomar conta. Só que, até agora, Fear The Walking Dead tem se prendido a apresentar muitos personagens e querer complexificá-los exageradamente. Desta forma, inseriu muitas camadas dramáticas e poucas de ação. Nos poucos instantes que se propôs a deixar as cenas mais agitadas, elas pareceram forçadas, jogadas na trama para criar um clímax. E nem assim chegaram lá.

A confusa relação familiar entre Travis Manawa, Madison Clark e os filhos tomou muito espaço, inserindo muitas informações que esperamos que sejam úteis em algum instante da série. Aliás, a relação de Nick Clark com as drogas, por vezes, suscita a questão: o seriado caminhará para uma abordagem puritana e limitada de associar drogados com o apocalipse? Convenhamos que os memes de The Walking Dead com a Cracolândia, em São Paulo, podem até arrancar um riso pela comparação, mas ir além disso é, no mínimo, uma saída muito fácil e simplista.
E não, esta não é uma análise precipitada. A ação é o combustível que alimentou os cinco anos de The Walking Dead, e que são inerentes a um programa que pretende narrar momentos que, em tese, seriam repletos de tensão, angústia e medo pelo contato com algo desconhecido e que é transmitido de uma forma incompreensível. O drama deve ser consequência e não o carro-chefe. Ficaremos na torcida para que encontrem o botão e deem mais dinamismo ao seriado.