Admito que sou uma voz dissonante quando o assunto é Boneca Russa, série original da Netflix estrelada por Natasha Lyonne. O programa, vencedor do Emmy (em categorias técnicas, mas vencedor), ganhou sete novos episódios para uma segunda temporada.
Boneca Russa acompanha o looping em que se enfiou Nadia Vulvokov (personagem interpretada por Lyonne, também criadora da série): desenvolvedora de games, ela morre repentinamente e passa a reviver (e morrer) seguidamente, enquanto tenta entender o que se passa.
A premissa é super interessante, não nego. Procurar entender não apenas a causa da morte, mas o sentido da vida e de que forma as decisões que tomamos impactam nosso futuro (ou como o passado nos fez chegar até aqui) é realmente cativante.
No entanto, desde a primeira temporada da série, tive muitas dificuldades em me apegar à personagem e à trama – um tanto rocambolesca, e estamos falando da plataforma de streaming que nos entregou Dark. Contudo, cheguei ao fim do ano um, crente que estava tudo finalizado. Ledo engano.
A nova temporada se inicia alguns anos após os eventos dos primeiros episódios. Nadia está na contagem para completar 40 anos e torna a enfrentar uma crise existencial. Diferente de antes, ela não deseja uma grande festa de aniversário, preferindo passar a noite com seu amigo Alan (Charlie Barnett).
https://www.youtube.com/watch?v=poWAIW1jmlc
É claro que a safra de humor inteligente que mudou a forma do público rir tem muita qualidade, mas há instantes que fazer o básico bastaria.
Acontece que as coisas não são normais em Boneca Russa. Basta que Nadia esteja no metrô para que, como do nada, ela passe a fazer viagens ao passado. Essas viagens parecem ser uma forma da protagonista entender sobre a história de sua família, em especial de sua mãe (Chloë Sevigny consegue brilhar numa trama tão rocambolesca).
E aqui voltamos ao ponto em que considero que a série desanda a maionese. O que fãs (e até mesmo críticos) enxergam como grande valor, para mim é apenas soberba, um desejo incontrolável de fazer uma série de humor ser mais do que precisa. É claro que a safra de humor inteligente que mudou a forma do público rir tem muita qualidade, mas há instantes que fazer o básico bastaria.
Se a primeira temporada engrenava da metade para o fim, os novos episódios de Boneca Russa padecem da mesma lentidão e excesso de conceitos. Pior, Chloë Sevigny, Greta Lee e Charlie Barnett, ainda que entreguem grandes contribuições, tem menos tempo de tela do que as divagações que o show tenta trazer e o deixam cansativo.
Como apontaram na Variety[1] e no The Hollywood Reporter[2], foi um passo arriscado levar adiante uma produção que parecia ter chegado ao fim sem deixar pontas soltas. Diferente das análiser estadunidenses, que gostaram do resultado, fiquei com a sensação de que Boneca Russa se perde no excesso.
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