Particularmente, ao ler que Hacks, série original da HBO Max, havia sido renovada para uma terceira temporada, fiquei muito contente. A jornada do seriado que coloca nos holofotes a dupla Deborah Vance (a incomparável Jean Smart) e Ava (Hannah Einbinder) realmente cativou a audiência, eu incluso.
Em alguma medida, a segunda temporada de Hacks me parecia bem resolvida. As duas principais personagens passaram por processos evolutivos muito relevantes. A dinâmica entre a dupla parecia caminhar para um acerto, apesar das trapalhadas bem características da Geração Z protagonizadas por Ava.
O humor ácido que criou um séquito de fãs do seriado seguia ali, assim como o choque geracional, as arestas mal aparadas da relação delas e a necessidade de confronto com o passado.
O novo ano de Hacks inicia justamente no fim da primeira temporada, com Ava numa versão “paz e amor”, temerosa de que Deborah descubra que ela enviou um e-mail para produtores de um programa com inúmeras críticas pesadas a ela.
Abalada pela perda do pai e com medo de também ficar sem o emprego, a maior parte da segunda temporada de Hacks coloca Ava em uma situação quase constrangedora, em que ela rasteja em círculos atrás de Deborah. É uma mudança considerável na trama, já que ela agora precisa impressionar a comediante.
Essa luta por aprovação também está na rotina de Deborah, apenas que, em seu caso, ela está confrontada com o ostracismo, com a idade, com o tempo. Las Vegas parece já não ser a sua zona de conforto, e o restante do país aparenta não estar mais em busca de suas piadas, ainda que o texto seja novo, ainda que ela entenda a importância de se colocar diante do escrutínio público com seu lado mais íntimo.
https://www.youtube.com/watch?v=E_vejwSYhpk
Hacks não se furta em ser densa quando necessário
Ela passou anos fugindo disso, escondendo-se nas suas piadas, repetidas por décadas. Agora, ela também busca e foge de algo. E seu medo de diferentes coisas, em um cenário que sua rede de proteção não está presente, faz com que Deborah precise lançar olhar a Ava. É, claramente, uma relação baseada no mutualismo, mas da qual coisas positivas poderiam sair. Assim vê a audiência.
Hacks não se furta em ser densa quando necessário. Nas apresentações de Deborah Vance, especialmente, mas também nas elucubrações que surgem de sua relação com o mundo. Talvez por esta razão, o elenco de suporte ganhe mais minutos de tela.
Deborah impacta a vida de todos, o comportamento de todos. Ela precisa abandonar velhos costumes (surgidos em formato de velhas piadas), e os demais precisam abandoná-la, nem que seja para um resgate, emocional, metafórico.
Hacks é desafiadora, porque confronta o público com suas próprias verdades, porque não aceita as ideias pré-concebidas sobre a vida (o etarismo segue no subtexto do seriado), sobre as mulheres, sobre liderança. E tudo isso com um show, ao fim e ao cabo, sobre stand-up comedy – assim eles dizem. Faz o que Grace & Frankie tentou, mas falhou. E vai além. É ou não é um feito e tanto?
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