Após falar da adaptação de Hunter x Hunter de 1999, chegou a vez de analisar seu remake, lançado em 2011. É comum fãs do tom sombrio da primeira adaptação afirmarem que, comparada a ela, a série de 2011 é bestinha. Pessoalmente, porém, por mais que goste da primeira versão, prefiro a segunda, e aqui explicarei porque considero ela um trabalho mais incrível que sua predecessora.
Para o caso de você não ter lido a parte 1 desta dupla análise, eis um breve resumo de Hunter x Hunter: A história se passa em um mundo fantasioso e gira em torno de Gon, um garoto que vive com sua tia na chamada Ilha da Baleia. Ele decide se tornar um “Hunter” (profissional com licença para fazer quase todo tipo de coisa) para assim poder seguir os rastros quase indetectáveis de seu pai, um dos melhores Hunters do mundo. Para isso, Gon precisa passar por um rigoroso exame, cheio de desafios perigosos.
Ao longo da jornada, ele faz amizade com três outros aspirantes a Hunter: Leorio, que quer usar sua licença para ganhar dinheiro; Kurapika, que está atrás de vingança contra aqueles que mataram seu povo; e Killua, que fugiu de casa e está fazendo o exame apenas para se divertir. Juntos, eles formam um time bastante unido, que se ajuda mutuamente em seus diferentes objetivos, ao mesmo tempo em que enfrenta uma variedade de desafios e adversários que, conforme os protagonistas lutam e ficam mais fortes, também vão se mostrando cada vez mais difíceis de vencer. Mas nada que as habilidades naturais de Gon e seus amigos não sejam páreas.
Há duas coisas que se notam logo no primeiro episódio. Uma delas é que, uma vez que sua proposta é recontar a história do manga de Yoshihiro Togashi desde o começo, este anime é mais fiel ao material de origem do que a versão de 1999, inclusive no ritmo, em nenhum momento enrolando para a narrativa ir mais devagar. Pelo contrário, a versão de 2011 inclusive corta algumas cenas iniciais para otimizar o tempo antes de chegar na parte mais ansiada, que são justamente os capítulos que a série anterior não pôde adaptar.
Seja a versão de 1999 ou a de 2011, ambas certamente te causarão um impacto duradouro.
A outra coisa que se nota é o seu novo visual, com uma qualidade gráfica impressionantemente melhor, mais um bom trabalho do estúdio Madhouse, que comprou os direitos de adaptação da Nippon Animation, responsável pelo programa anterior. Se há uma prova de que a animação em alta definição faz sim diferença, é Hunter x Hunter, pois assim é possível sentir mais na pele a ação e, consequentemente, ter uma conexão mais verdadeira com os personagens que por ela passam.
Ao mesmo tempo, porém, o visual é também mais claro, o que, da mesma forma como o tom escuro da adaptação anterior deu uma impressão mais sombria, inicialmente dá uma impressão de esta versão ser mais infantilizada. E confesso que, por esse motivo, inicialmente estava mais inclinado para a versão de 1999, e não sabia se iria seguir adiante com a série.
Mas eis algo curioso: Conforme a história se desenvolve, ela se alterna de forma bastante equilibrada entre temporadas mais leves e bem-humoradas e as mais intensas e sanguinolentas. E com isso, o espectro de temáticas que Hunter x Hunter explora torna-se bastante variado, com direito a quase todos os gêneros que alguém poderia pedir. Assim, temos uma série altamente viciante, pois com tantas reviravoltas de humores ela nunca se torna repetitiva, explorando as diversas ambientações que seu mundo oferecesse, tanto as mais sombrias quanto as mais alegres, sem nunca deixar de ser épica.
Não apenas isso, como a série também parece brincar com tudo aquilo que alguns consideram incômodo em animes. E em nenhum de seus arcos narrativos isso se torna mais evidente que justamente naquele que a série de 1999 deixou de adaptar: o das Formigas Quimera, que ocupa sozinho quase metade da versão de 2011. Entre as batalhas que se estendem por vários episódios e um narrador que parece nunca ficar quieto, o arco tinha tudo para ser chato.
Porém, justamente o que poderia torna-lo chato é usado de forma a torná-lo mais interessante: as batalhas (e o arco no geral) são longas justamente devido à enorme quantidade de coisas que acontecem ao mesmo tempo, e devido a isso, as explicações dadas pelo narrador tornam-se necessárias para a compreensão do espectador (sem falar que sua perfeita coerência dentro da lógica do mundo que a série cria a torna de certa forma fascinante). E, mesmo assim, a série não perde o ritmo nem o suspense, deixando o espectador na ponta da cadeira mesmo quando aparentemente quase nada acontece. Junte a isso um profundo desenvolvimento psicológico dos protagonistas e um fascinante grupo de vilões, e você tem um dos melhores arcos não apenas de Hunter x Hunter, mas provavelmente dos animes em geral.
Resumindo, se você busca um anime épico, inovador e que (ao contrário de outros mais populares como Naruto e One Piece) não possui várias centenas de episódios, dê uma conferida em Hunter x Hunter. Seja a versão de 1999 ou a de 2011, ambas certamente te causarão um impacto duradouro.