Se você assiste Made for Love, série original da HBO Max, prestando atenção em Byron Gogol (Billy Magnussen), pode ter a sensação de que a série é uma paródia sobre o universo da tecnologia. Ledo engano.
O seriado é um humor corrosivo que tem alvo certo: relacionamentos abusivos. O que não significa que, para tal, não possa mirar, também, no mundo milionário do Vale do Silício.
Diferente de Silicon Valley (HBO), os comentários sobre o mercado tecnológico é mais ácido. Byron é uma construção baseada em diferentes tipos: inteligente e visionário, ele é tímido, recluso e tem aversão à rejeição e a um mundo que fuja a seu controle.
Ele é, também, o marido controlador de Hazel (Cristin Milioti), que apesar da aparência de viver uma vida de sonhos, é sufocada pela presença de Gogol. Ele exige dela uma rotina controlada: sono, alimentação e até o sexo. O ponto é tão absurdo que até os orgasmos dela são acompanhados tecnologicamente. E ela precisa avaliá-los.
Cansada dessa realidade, Hazel foge logo no primeiro episódio de Made for Love. A sequência de acontecimentos passa a dar ao espectador um panorama mais elaborado sobre a relação deles e as ambições da empresa de Gogol.
Made for Love ironiza o uso contemporâneo da tecnologia, enquanto questiona os rumos dos relacionamentos sociais.
O mundo fora do universo particular criado por Byron parece mais “normal”, mas não é. A relação de Hazel com seus pais é conturbada. O pai foi deixado pela mãe e passou a se relacionar com uma boneca sexual inflável. Literalmente. Ela possui nome, roupas e faz as refeições com ele.
O distanciamento familiar reflete nos comportamentos da protagonista e do pai, interpretado por Ray Romano, de Everybody Loves Raymond. E parece que os desejos da equipe de produção do seriado, o estreante Dean Bakopoulos e Christina Lee (Search Party, We Hot American Summer), fica mais claro.
Made for Love, adaptada do livro de mesmo nome (ainda não publicado no Brasil) escritor por Alissa Nutting, ironiza o uso contemporâneo da tecnologia, enquanto questiona os rumos dos relacionamentos sociais. É um humor ácido, corrosivo, nada indulgente com seus personagens.
Flertando com a ficção científica, a obra aproveita o campo que o gênero lhe oferece para dissertar sobre o tempo presente. O relacionamento abusivo levado por Byron e Hazel é o ponto de partida, mas também uma metáfora sobre como lidamos com a tecnologia. Qual o preço estamos dispostos a pagar por uma realidade distinta? Entregar nossa liberdade?
https://www.youtube.com/watch?v=lvWgNSLIULw
Os cenários apresentados são áridos, repletos de longos vazios ou de elementos muito antigos, enferrujados. E chama muito a atenção que em Made for Love a única “pessoa” que parece realmente se importar com alguém sem segundas intenções seja Zelda, o golfinho (e cobaia) de Byron. Nem ela escapa ao sufocamento de Gogol.
Disponível em duas temporadas na plataforma de streaming, a série acabou cancelada há poucos dias, vítima da necessidade de readequação da empresa. Mesmo assim, vale a queda.
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