Não fui das pessoas pegas pela história de Jane the Virgin, ainda que eu tenha tentato a sério. No entanto, foi esse o programa responsável por marcar a carreira de Gina Rodriguez, que ao final do seriado não catapultou a carreira como poderia se imaginar. Passados alguns anos, a atriz retorna ao protagonismo na sitcom Não Estou Morta!, disponível na Star+.
O seriado criado por David Windsor, produtor executivo de This Is Us, parte de uma premissa promissora baseada (de forma bastante errática) na obra Confessions of a Forty-Something Up, de Alexandra Potter. Nela, a personagem de Gina Rodriguez, Nell, torna a trabalhar em um jornal do sul da Califórnia, de onde saiu quando era uma promissora repórter para seguir o amor de sua vida que mudava para Londres.
Agora, porém, é encarregada do setor de obituários, cargo pouco chamativo às ambições da jornalista. A personagem vem de um fim de relacionamento traumático, que ela descobre ter lhe dado a capacidade de ver e interagir com fantasmas. Apesar de um susto inaugural, já que eles aparecem em todos os lugares e a todo intante, Nell usa esta relação para elaborar os obituários.
Problemas de execução
Se a atuação de Rodriguez é encantadora e o tom sentimental é capaz de atrair o público, Não Estou Morta! sofre com uma dificuldade em encontrar sua identidade.
O enredo dos treze episódios da primeira temporada é sempre construído em torno da morte de alguém, que ao mesmo tempo que precisa explicar quem foi para ter seu obituário escrito, compartilha algum tipo de ensinamento para a protagonista.
Se a atuação de Rodriguez é encantadora e o tom sentimental é capaz de atrair o público, Não Estou Morta! sofre com uma dificuldade em encontrar sua identidade, causando certo prejuízo à experiência do espectador. A partir do quarto episódio, o programa faz uma mudança de tom significativa na trama, procurando fazer com que as experiências de vida da protagonista e sua relação com os mortos sejam elementos emocionais mais profundos.
Todavia, esses mesmos fantasmas são pouco explorados, resultando em personagens sem desejos ou necessidades claras. Sabemos apenas que eles precisam ter seu obituário escrito para que possam “descansar em paz”. Essa abordagem rasa sobre a morte implica que a tentativa de humor sombio e piadas autodepreciativas fiquem desencaixadas.
Atrizes salvam ‘Não Estou Morta!’
Não Estou Morta! peca por uma tonalidade consistente, oscilando entre momentos de cinismo e sentimentalismo exagerado, deixando-a confusa. Nem mesmo Nell é bem desenvolvida, sobrevivendo graças ao apelo da atriz que lhe interpreta. A série patina na tentativa de destacá-la.
A personagem é retratada como uma bagunça ambulante, vivendo uma vida desastrosa em termos de relacionamentos, mas esquece (ou não se interessa) em explorar de forma mais profunda suas qualidades e realizações. Pior: a aparente falta de material forte faz com que a personagem de Gina Rodriguez se assemelhe mais do que seria aceitável de Jane.
E se a maior parte do elenco de apoio fica devendo, a performance de Lauren Ash é excelente. Seu arco narrativo, ainda que imperfeito, é muito bem executado pela atriz, que já era destaque em Superstore. Sua personagem, Lexi, é quem mais se aproxima de dar um tom amigável a sitcom.
No início de maio, a ABC, emissora original de Não Estou Morta!, confirmou a renovação do programa para uma segunda temporada. Com um distanciamento tão grande do argumento retirada do livro de Alexandra Potter, fica a curiosidade de ver como a emissora vai resolver os problemas da primeira temporada e dar prosseguimento ao seriado.
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