“Tudo que é bom dura pouco”. Esse é um clichê mais do que batido, afinal, se realmente tudo que fosse bom não durasse muito, o índice de casamentos e óbitos aumentariam, assim como cacau e chocolate se tornariam raridades. Mas quando se trata de televisão, o ponto de vista é diferente e o “pouco” se torna relativo.
Alguns fã saudosos de Friends e E.R. poderiam repetir esse mesmo clichê em tom de nostalgia. Mas peraí! Cada uma dessas séries duraram um pouco mais do que uma década e ainda acham que foi pouco? Pois é, como disse, o “pouco” é relativo. No caso de Party Down esse pouco foi pouco mesmo: apenas duas temporadas (2009-2010).
Desconhecida pelo grande público e aclamada pela crítica especializada, Party Down foi considerada pela revista Entertainment Weekly uma das 25 melhores séries dos últimos 25 anos. Criada pelos amigos John Enbom, Dan Etheridge, Rob Thomas e Paull Rudd, a série gira em torno de uma lamentável empresa de buffet formada por atores e roteiristas fracassados que trabalham temporariamente como garçons enquanto não conseguem achar a oportunidade perfeita para deslanchar suas carreiras em Hollywood.
Porém devido ao seu horário de exibição (noites de sextas-feiras) e do canal até então pouco conhecido (Starz), a série foi injustamente cancelada em junho de 2010. Mesmo com uma casa não conhecida e com um péssimo horário de exibição, a série tinha como seus grandes méritos o roteiro verossímil e elenco primoroso que, de tão à vontade em cena que estavam, pareciam estar interpretando versões de si mesmos.
Para começar, temos Adam Scott (Parks and Recreation) na pele de um ator fracassado, com seu habitual jeitinho tiozão e regrado de ser; Lizzy Caplan (Masters of Sex) como uma jovem atriz, super destemida, descolada e com língua afiada; Ryan Hansen (Veronica Mars) como um modelo/ator bem apessoado, porém com a cabeça de um pré-adolescente de 13 anos; Ken Marino (Veronica Mars) como líder do grupo e um verdadeiro poço de vergonha alheia; Martin Starr (Silicon Valley) como aspirante a roteirista loser e rabugento de histórias sci-fi; Jane Lynch (Glee) sendo totalmente inapropriada e, por fim, Megan Mullally (Will & Grace) uma mãe desesperada para conseguir transformar a filha de 13 anos em uma celebridade.
Rob Thomas, co-criador da série, sempre quis manter o tom realista na produção, o qual admite ter tido grandes influências da comédia britânica The Office.
A idéia inicial era para ter Steve Carell e Paul Rudd interpretando os personagens principais, porém devido a conflitos de agenda, Marino e Scott foram escalados para os papéis de Ron e Henry, o que tornou-se a escolha acertada tamanha a química vista entre todo o elenco durante os 20 episódios produzidos.
Mas o mérito todo da série não se restringe apenas à capacidade do elenco entrosado em fazer comédia, mas também aos roteiristas pela habilidade de escrever um texto tão verossímil que faz o telespectador acreditar que a maior parte do que é visto na TV seja improvisação do elenco. Pelo contrário, segundo os atores, cerca de apenas 10% é improvisação.
Rob Thomas, co-criador da série, sempre quis manter o tom realista na produção, o qual admite ter tido grandes influências da comédia britânica The Office. “Quanto é possível modificar o universo apresentado sem que ele deixe de parecer real? A maioria das comédias do horário nobre existem em um universo de comédia.
Sou um grande fã de 30 Rock, mas aquele é um universo de comédia. Nós tentamos manter Party Down em um universo pelo qual as pessoas pudessem identificar-se, pois faz com que a dor e a humilhação vistas sejam mais intensas”, disse o co-criador em entrevista para a revista Details logo após o cancelamento.
A atmosfera vista em Party Down era descontraída e altamente conflituosa, pois o que víamos era um grupo de jovens artistas com convicções distintas, exercendo um trabalho que não era de seus interesses. Ou seja, na maior parte do tempo, o que víamos eram personagens rabugentos sendo obrigados a conviver no mesmo recinto em prol do trabalho. E as situações em que eles se encontravam eram as mais diversas possíveis.
Destaque para a noite em que são contratados para servir em uma orgia na casa de um ricaço, e também a vez em que são designados a trabalhar em uma after party de uma premiação de filmes pornôs. Mas a grande obra prima da série chama-se “Steve Guttenberg’s Birthday”, quinto episódio da segunda temporada. Nele, vemos o grupo se dirigindo à casa do astro de Três Solteirões e Um Bebê para fazer a festa de aniversário do ator, porém, ao chegar na mansão, são recebidos por Guttenberg com mil desculpas pois havia rolado uma festa surpresa na noite anterior e ele havia esquecido de cancelar os serviços da empresa.
Para recompensar a falha, o ator convida os garçons para uma festinha improvisada em que eles mesmos são os convidados. É a primeira vez que temos a chance de ver os personagens como eles realmente são, sem a postura profissional que se faz (quase) sempre presente durante o cotidiano do trabalho. O ápice do dia é quando os atores decidem interpretar algumas cenas do roteiro sci-fi do colega de trabalho.
Há alguns anos, os roteiristas da série cogitaram escrever um filme para dar continuidade à história iniciada na televisão, mas nada mais se falou sobre o assunto. Atualmente, os 20 episódios da série podem ser vistos na Lionsgate+.
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