À medida em que as plataformas de streaming vão ganhando mais e mais assinantes no Brasil, a demanda por produções audiovisuais nacionais também tem crescido. Em cartaz no Prime Video, Sentença, criada por Paulo Knudsen (de Julie e os Fantasmas), é uma série ambiciosa: embora siga a cartilha do drama de tribunal, gênero consolidado mundo afora, tenta também ser thriller psicológico e retrato do jogo de forças entre polícia, sistema judiciário e o crime organizado brasileira. Nem sempre consegue, mas é envolvente.
Camila Morgado, atualmente no ar na TV Globo como a Irma da nova versão de Pantanal, vive a protagonista Heloísa, advogada criminal idealista que se dedica a defender pobres e oprimidos, muitas vezes condenados por sua condição social e cor da pele, sem direito a um julgamento digno e justo.
Casada com um promotor, Pedro (Fernando Alves Pinto, de Para Minha Amada Morta), Heloísa, filha de importante família paulistana, neta de um ex-ministro do STF, tem um passado atribulado e nebuloso, que interfere em vários aspectos de sua vida.
Sua mãe, Carolina (Clara Carvalho), cumpre pena num presídio feminino pelo assassinato do pai da advogada, que presenciou o crime quando era menina, carregando esse trauma para a vida adulta.
Heloísa e Pedro são pais do adolescente Hugo (Victor Hugo Martins), garoto negro, violinista talentoso, adotado quando bebê. Embora se amem, o casal enfrenta dificuldades em sua vida sexual – para se satisfazer, a advogada assiste, por vídeo, ao marido transando com outras mulheres.
A primeira temporada de Sentença inicia quando a babá Dinorah (Lena Roque) joga óleo fervente em um policial militar que invade sua casa na periferia de São Paulo e acaba morrendo. A cena é registrada por vizinhos, compartilhada na internet e, depois de viralizar, faz com que a mulher passe a ser chamada de “fritadeira”.
A primeira temporada de Sentença inicia quando a babá Dinorah (Lena Roque) joga óleo fervente em um policial militar que invade sua casa na periferia de São Paulo e acaba morrendo.
Por ter causado a morte de um PM envolvido com a milícia e o crime organizado, Dinorah, após ser presa, passa a ser alvo, no sistema penitenciário, de todo tipo de violência. Seu destino cruzará com o de Heloísa que, certa de que há algo por trás do crime cometido pela babá, aceita defendê-la. Acontece que a própria advogada cairá em uma armadilha ao tentar ajudar a mãe, detenta no mesmo presídio onde Dinorah aguarda julgamento.
Premiada no ano passado por sua brilhante atuação em outra série, Bom Dia, Verônica, produção da Netflix, Camila Morgado se entrega de corpo e alma a Heloísa, personagem complexa, limítrofe.
Embora seja, em tese, a “heroína” de Sentença, ela é uma mulher emocionalmente fraturada, muito instável, que nem sempre desperta empatia no espectador, o que, a meu ver, é um ponto forte da série, mas pode espantar espectadores em busca de enredos mais maniqueístas.
Na tentativa de ser, ao mesmo tempo, drama psicológico, focado nos conflitos de sua protagonista, e trama a respeito da corrupção dentro da polícia e do Judiciário, Sentença por vezes perde um pouco o foco. Fica no meio do caminho entre diferentes gêneros narrativos, escorregando em alguns exageros e clichês, que tenta imitar de suas congêneres norte-americanas.
Ainda assim, Sentença, que tem direção da argentina Anahí Berneri (de Alanis) e da brasileira Marina Meliande (de A Alegria) é instigante, envolvente. Dá vontade de ver seus seis episódios, que contam no elenco com os atores paranaenses Leandro Daniel (de Jesus Kid) e Lourinelson Vladmir (de Sertânia).
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