A série The Other Two é o tipo de comédia ácida e um tanto extrema que não agrada a todos os paladares. Afinal, ela debocha de algo que é um valor cada vez mais inquestionável na sociedade: a luta pela fama, como se ela, por si só, fosse uma carreira. Muitos de nós acreditam que vale tudo para virar influencer, cantor, ator, ou o que quer que traga algum tipo de visibilidade. É como se a popularidade tivesse se tornado o equivalente a passar num concurso público.
O centro dessa comédia (lançada pelo canal Comedy Central, mas que agora está na HBO Max) não está nos famosos, mas nos dois irmãos Cary (Drew Tarver) e Brooke (Heléne Yorke) – os outros dois do título – que vivem à sombra do filho mais novo, Chase Dreams (Case Walker), uma espécie de Justin Bieber mais novo e bonzinho. Basicamente, eles passam todos os perrengues possíveis tentando angariar uma fama que nunca decola para eles.
Mesmo com dois anos de intervalo, The Other Two se comprovou capaz de se conectar com seus tantos fãs e continuar sendo uma das atrações mais divertidas na televisão atualmente.
Dois anos depois, The Other Two voltou para sua segunda temporada com a mesma premissa, mas algumas mudanças. No encerramento da primeira, Chase resolveu abandonar a carreira de cantor/ influencer para cursar a faculdade e tentar ser uma pessoa normal (decisão que não dura muito tempo).
Mas agora a fama recai sobre a mãe dos três irmãos, a carismática Pat Dubek (vivida por Molly Shannon, que estrelou por muitos anos Saturday Night Live). Ela se tornou uma espécie de mistura de Oprah Winfrey e Ana Maria Braga, e tem uma legião de fãs que se identificam com ela.
Cary e Brooke estão, de alguma forma, mais maduros com este retorno – embora sigam sendo representados como fracassados. Cary está mais assumido sobre a sua sexualidade e segue buscando algum reconhecimento como ator, mas os poucos trabalhos que sobram para ele são pontas em séries ruins ou como apresentador de um programa ridículo sobre celebridades. Já Brooke achou de alguma forma seu caminho virando empresária de celebridades, e tenta provar que consegue construir sozinha sua carreira sem afundar na incompetência de outros momentos.
A mistura agridoce de ‘The Other Two’
Assim como na primeira temporada, a grande graça de The Other Two é que ela não é apenas uma série iconoclasta, que esculacha esta busca tresloucada pela fama (o que seria bem fácil de fazer – e inclusive já foi feito várias vezes). Há algo de doce em todos os personagens, sinalizado pelo amor mantido pela família Dubek.
Cary, mesmo com suas trapalhadas, só quer ser aceito e reconhecido como alguém talentoso. Brooke só deseja se ver (e ser vista) como uma profissional. Já Chase é um menino afetuoso, que lida de forma leve com o fato de que a fama caiu em seu colo. E até o empresário/ padrasto Streeter (Ken Marino), o personagem mais caricaturado da série, consegue inspirar um pouco de pena.

Mas na temporada dois, penso que o foco está mesmo em Pat, a mulher maternal que só quer proteger os filhos, mas que acaba adquirindo meio sem querer a carreira que os seus filhos desejavam para eles mesmos. A questão desta nova fase de The Other Two diz respeito às exigências que a vida está fazendo sobre Pat para que ela deixe de ser a mãezona e passe a colocar algum limite em todos que estão à sua volta.
O que ocorre é que Pat Dubek simplesmente não consegue dizer não, e nem mesmo tirar o sorriso do rosto enquanto sofre com uma rotina desumana. O que vemos é que o sucesso vai devorando todo seu tempo de vida e prejudicando os seus relacionamentos – ao mesmo tempo em que ela mesma segue impassível e solícita com todos, incluindo os seus milhares de fãs. Mas uma hora a corda vai arrebentar. Os efeitos desta vida sem limites é a tensão central que permanece quando acompanhamos a série.
Mesmo com dois anos de intervalo, The Other Two se comprovou capaz de se conectar com seus tantos fãs e continuar sendo uma das atrações mais divertidas na televisão atualmente.
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