Nova produção australiana original Netflix, Wellmania pode ser lida sob diferentes perspectivas. A do humor escrachado, levado a cabo por sua protagonista, a atriz Celeste Barber. A da crítica à indústria de bem-estar, pelo tom de seu roteiro. Ou a de uma comfort serie, pela forma despretensiosa que cativa a audiência. Seja a maneira que você optar por encarar a série, em alguma medida as perspectivas irão se cruzar.
Barber é uma atriz de 40 anos, com uma carreira já notável na Austrália, mas que ganhou mais fama quando decidiu usar seu perfil no Instagram para satirizar as celebridades que vendem um estilo de vida condicionado a corpos sarados, dietas e bem-estar. Sua escolha não poderia ser mais acertada.
Wellmania segue a vida de Liv, uma jornalista gastronômica que mora em Nova York e vive uma vida regada a ótimas comidas, drinks, sexo casual e baladas. Ela gosta de sua rotina, mas fica realmente empolgada quando sua chefe na revista sugere que ela está cotada para ser jurada de um novo reality show gastronômico. Há apenas um porém: ela precisa encontrar alguma forma de viralizar, para romper sua bolha e ser uma candidata forte ao cargo no programa.
Excitada pela possibilidade, ela parte para Sydney, na Austrália, sua terra natal, para participar do aniversário de Amy (JJ Fong), sua melhor amiga. A partir daqui, é como se uma rede de azar se estabelecesse sobre Liv. Roubada durante um passeio despretensioso pela praia, ela acaba perdendo o passaporte e seu Green Card, sem o qual não pode retornar aos Estados Unidos.
Decidida a obter uma autorização especial, de modo a não perder a oportunidade no reality show, ela vai até o consulado norte-americano. No entanto, seu estilo de vida controverso cobra o preço: ela desmaia na frente do atendente e não consegue autorização para retorno até que comprove estar em boas condições de saúde.
Talvez o argumento de Wellmania pareça batido, mas a atuação de Celeste Barber é fundamental em conferir a dose de humor necessária a tornar tudo crível.
Liv é extremamente egocêntrica, egoísta, exagerada e petulante. A isso se soma o incômodo com a Austrália e algo no passado que a assombra, tal qual um fantasma. Unindo a repulsa a seu país e a ambição pelo trabalho, ela se joga nos mais surreais processos voltados ao bem-estar, como uma limpeza corporal que promete extrair pelo reto tudo de prejudicial que você tenha ingerido.
A urgência em melhorar sua saúde encontra no estilo de vida da personagem o maior obstáculo. Levar uma vida calma, com tempo para atividades físicas, melhor alimentação e sem consumo de bebidas alcoólicas está longe do ideal de sucesso e realização da jornalista.
Talvez o argumento de Wellmania pareça batido, mas a atuação de Celeste Barber é fundamental em conferir a dose de humor necessária a tornar tudo crível. A maneira como lida com seu perfil no Instagram certamente serviu de laboratório para compor Liv.
O projeto é adaptação do livro Wellmania: Misadventures in the Search for Wellmess, da escritora Brigid Delaney, conduzido por Benjamin Law. Partindo do livro mas tomando vida própria, a série da Netflix dificilmente conseguiria encontrar formas de escrachar a indústria do bem-estar e ser engraçado por oito capítulos. Esta é a razão pela qual as relações de Liv com a família, os amigos e o país ganham importância.
Em tempos que a gigante do streaming tem severas dificuldades em criar seriados de humor que cativem o público, o humor despretensioso de Wellmania é um bom presságio. Com final aberto e que deixa um gancho para continuação, é esperar que a Netflix saiba capitalizar seu produto. Ainda mais depois de tantos fracassos recentes.
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