Seriados em geral tem o grande desafio de se manterem pertinentes com o passar dos anos. O trabalho de séries de humor parece ser mais complicado. Continuar a fazer rir é um exercício totalmente distinto de fazer rir. Este tem sido o maior duelo envolvendo What We Do in the Shadows.
O seriado de Jemaine Clement, criado a partir do filme de mesmo nome, chegou à sua quarta temporada no FX este ano, já encarando obstáculos desde o ano anterior. Acontece que do texto de Clement sempre se espera alguma saída das “bolas nas costas”.
A quarta temporada de What We Do in the Shadows começa em ritmo lento, mas, com o transcorrer dos episódios, fica claro que estamos diantes de um dos seriados de humor mais inteligentes dos últimos tempos. O ano anterior finalizou com a morte de Colin Robinson (Mark Proksch), o que levou a que o grupo deixasse o lar e se mantivesse separado por um tempo.
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Admito que duvidei de que algo bom pudesse sair dali, porque a terceira temporada já havia finalizado em uma descendente. No entanto, o retorno de Colin como um bebê modificou o rito tradicional das espécies fictícias, como os vampiros, ampliando a liberdade criativa dos roteiristas do programa.
A quarta temporada, então, parte um ano após os acontecimentos. Lazlo (Matt Berry) ficou nos Estados Unidos para criar a criança, que, a partir da reunião do grupo, se torna centro de um debate: seria ele de fato Colin Robinson, ou um novo ser totalmente diferente?
A dinâmica que se estabelece entre a dupla revigora parte da trama.
Para Laszlo, Baby Colin é uma nova pessoa, a quem ele pode transformar em algo diferente do que era, principalmente uma pessoa “não chata”. A dinâmica que se estabelece entre a dupla revigora parte da trama, posto que What We Do in the Shadows não tinha lidado, ainda, com relações parentais.
Parece diferente, mas há um frescor. Laszlo segue crendo que Colin é inferior a ele, e o agora “The Boy”, como passa a se referir, continua o irritando, não mais por ser chato, mas por ser uma criança – e, depois, um adolescente.
https://www.youtube.com/watch?v=qWSgq72foJw
Destinar parte dos melhores insights criativos a esta dupla aliviou a relação de Nandor (Kayvan Novak) e Guillermo (Harvey Guillén). A tensão relativamente sexual que parecia se construir entre eles é arrefecida, sendo substituída por um tom de camaradagem até certo ponto frágil – algum problema pode ocorrer entre eles a todo momento. Até a fixação de Nadja (Natasia Demetriou) com a abertura de uma casa noturna para vampiros age em favor do seriado.
A cada episódio, o distanciamento entre núcleos e personagens vai diminuindo, como uma espécie de construção de interdependência, abrindo espaço para diálogos memoráveis e situações extremamente constrangedoras.
Voltando ao desafio que expliquei no início do texto. What We Do in the Shadows, ao invés de enfrentar obstáculos, mostrou-se em um ponto muito precioso: saber tirar proveito de bons atores através de um roteiro afiado. Pode até parecer pouco, mas é muito em um universo que, constantemente, cria e enterra produções.
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