Séries adolescente sempre foram produtos bastante rentáveis para a televisão. Família, namoro, escola, ensino médio e futuro profissional são temas recorrentes em diversas obras que tentam emular um pouco da realidade dos jovens, público importante para as emissoras de TV. E aí podemos citar séries leves e engraçadas como Blossom e That 70’s Show, até grandes produções que viraram febre em todo mundo como Barrados no Baile, Anos Incríveis, Dawson’s Creek e The O.C.
Os anos 1990 e início dos anos 2000, por exemplo, nos reservaram seriados bastante significativos para os jovens, como Buffy, Everwood, Gilmore Girls, Veronica Mars e por aí vai. Foram todas essas obras que, de certa forma, criaram uma gramática para este tipo de série e que conseguiram roteirizar sentimentos genuínos entre os jovens, abordando temas além do trivial e gerando uma imensa conexão com a audiência.
Foram todas essas obras que, de certa forma, criaram uma gramática para este tipo de série.
Desde a estreia de 13 Reasons Why pela Netflix muito se discute sobre a validade e objetivo da obra. Para muitos, o discurso se tornou muito maior do que a própria série, algo que seria muito mais válido. Para outros, a produção aborda a depressão e o suicídio de forma irresponsável. Há, ainda, aqueles que simplesmente não gostaram do roteiro e de como a série foi pensada. Por isso, a resposta do público para 13 Reasons Why é diversa e pode ser compreendida de acordo com o repertório de séries (e de vida) de cada um. Afinal, para muitos jovens, pode ter sido a primeira vez que temas tão densos tenham sido abordados em uma grande produção e de forma tão expositiva. Ao se ver representado na televisão, não nos achamos tão incomuns.
Entendendo que ampliar o repertório pode ser uma forma de enriquecer um debate tão em alta atualmente, trago uma lista com cinco séries adolescentes que, em minha opinião, abordam a adolescência, o bullying e a depressão de forma inteligente, provocativa e importante. Confira.
Freaks and Geeks (ABC | 1999)

Disponível na Netflix, Freaks and Geeks caminhou de maneira exemplar pela dramédia. Com produção executiva de Judd Apatow (produtor de Girls e diversos filmes de sucesso atualmente), F&G falou sobre jovens e para jovens de forma inovadora, engraçada e com um texto inteligentíssimo. Diferentemente de Dawson’s Creek, que fazia bastante sucesso na época com suas frases reflexivas, Freaks and Geeks ia para um lugar muito mais provocativo, falando sobre dramas adolescentes com uma linguagem simples, mas nunca subestimando sua audiência, mostrando pessoas tentando se encaixar na sociedade, tudo isso com uma trilha sonora cheia de rock. Repleto de referência dos anos 1980 (talvez seja a Stranger Things da época), Freaks and Geeks foi cancelada logo na primeira temporada por baixa audiência e hoje figura sempre na lista das melhores séries da TV.
My So-Called Life (ABC | 1994)

Talvez a série mais injustiçada da lista e o exemplo de uma obra certa que estreou no tempo errado. Provavelmente ofuscada pelo sucesso de Barrados no Baile, My So-Called Life (ou Minha Vida de Cão), trilhava um caminho oposto ao dos jovens glamourosos de Beverlly Hills e mostrava jovens absurdamente reais passando por situações que qualquer um poderia viver, mesmo hoje, mais de 20 anos depois do final. Estrelada por uma jovem e já talentosa Claire Danes, a série acompanha, a partir do olhar de uma menina de 15 anos, os medos e tribulações de ser uma adolescente e ter de lidar com os amigos, rapazes, pais e escola. Mesmo com uma sinopse para lá de clichê, My So-Called Life fez história na TV e abordou temas corajosos para a época, como homossexualidade e depressão, sempre de forma muito honesta. Trazendo diálogos bastante tocantes, os significados de My So Called-Life são tantos que é possível ter uma visão completamente diferente de acordo com a fase de vida ou com a idade do público.
Skins (Channel 4 | 2007 – 2013)

Não há muitas metáforas no que é considerada a série mais intensa já feita sobre adolescentes. Por ser um drama inglês, Skins foge dos clichês de boa parte das séries norte-americanas e mostra a adolescência de forma crua, polêmica e provocativa. Enquanto boa parte das séries discutem o uso de drogas entre os jovens sempre de forma didática e julgadora, Skins deixa que o público julgue as insanas ações dos personagens. Especialmente nas duas primeiras temporadas, nos deparamos com adolescentes fazendo burradas típicas com muito sexo, muita maconha e muita bebida. Não há nenhum tipo de lição de moral e, mesmo assim, a série faz refletir, seja quando um dos jovens aparece com um pai relapso ou quando uma menina sofre de anorexia. Sem trabalhar com eufemismos, Skins abordou temas pesados como tabus religiosos, depressão, sexualidade, abandono familiar, dentre outros.
American Crime – 2.ª Temporada (ABC | 2016)

A segunda temporada de American Crime, a antologia da ABC, é um verdadeiro soco no estômago. Mesmo tendo um público-alvo mais adulto, a série discute a juventude atual, bullying nas redes sociais, depressão e algo não muito falado por aí: o estupro de garotos. A série conta a história de Taylor Blaine, um rapaz que acusa dois estudantes de uma escola particular de drogá-lo e violentá-lo, sendo que fotos da agressão são divulgadas na internet. O escândalo divide a opinião pública e a comunidade rica, levando a tensões raciais e de classes. A série não é apenas importante pelo tema, mas por ser exibida em horário nobre na televisão aberta norte-americana. Colocando o dedo na ferida, o segundo ano de American Crime traz uma trama dura, com um roteiro muito bem escrito e uma câmera que sufoca o público a cada frame. No final, é impossível não nos colocarmos no lugar de todos os personagens, tanto os oprimidos quanto os opressores.
My Mad Fat Diary – (Channel 4 | 2013 – 2015)

É difícil representar a depressão, uma doença tão particular para cada um, mas My Mad Fat Diary consegue fazer isso de maneira exemplar pelos olhos de Rae, uma adolescente acima do peso que sofre de uma profunda depressão. Situada nos anos 1990, a série consegue passar uma carga dramática pesada, ao mesmo tempo em que o público se vê apaixonado pelos personagens. O grande acerto de My Mad Fad Diary é que ela jamais romantiza a doença ou trata o assunto de maneira leviana. Rae não se sente apenas uma garota com problemas de peso, mas, de fato, um peso morto no mundo. Com cenas difíceis de assistir e que conseguem emular muito bem o que é a depressão, My Mad Fat Diary é uma produção obrigatória não somente aos adolescentes, mas a qualquer um que se sinta desconfortável em sua própria pele.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.