Silvio Santos e suas falas já foram citadas diversas vezes nessa coluna. Em outro texto, já comentei sobre suas atitudes machistas. Entretanto, o desrespeito do apresentador não é só com as mulheres.
Silvio causou polêmica, novamente, com seu programa do dia 15 de julho (domingo), em dois momentos diferentes. No quadro “Jogo dos Pontinhos”, ao fazer perguntas picantes aos participantes, cogitou uma orgia, que incluía ele e sua filha, Patrícia Abravanel.
“Carlinhos Aguiar, sabe o que é orgia? Todo mundo bêbado: Helen (Ganzarolli) bêbada, Mara (Maravilha) bêbada, Patrícia bêbada…”, dizia, ao que sua filha interrompeu: “Não me põe nesse rolo, não”. Silvio ignorou o pedido e continuou: “Flor bêbada e a Lívia Andrade bêbada e nós dois na orgia com as cinco”, completou.
A brincadeira do dono do SBT foi suficiente para que Patrícia Abravanel deixasse o programa momentaneamente. Após algum tempo, quando as perguntas terminaram, Patrícia voltou ao palco e falou: “Acabou esse assunto, ainda bem, chega de sexo”. Aparentemente, Mara Maravilha também ficou incomodada com a “brincadeira”.
Silvio não deixou barato e voltou a falar da filha: “Patrícia, deixa de ser fingida. Você foi expulsa da escola porque saía com todos os alunos”, disparou. Rapidamente, a apresentadora negou a afirmação. Foi no mínimo uma brincadeira de mau gosto, que despeitava sua própria filha e todas as mulheres ali. E acho que não preciso nem explicar o porquê da fala ser ainda pior por ele dizer que todas elas “estariam bêbadas”.
Propagação de preconceito é ainda mais grave se feita por alguém com o alcance do Silvio, que fala há anos para o país inteiro e tem muitos fãs.
No mesmo programa, Silvio Santos fez um comentário gordofóbico ao vivo. A vítima foi Rafinha Viscardi, coreógrafa das bailarinas da atração: o apresentador a atacou comentando na atração que a moça deu uma “engordada”. “Essa moça, a Rafaela, está engordando. Já deve ter engordado uns dois quilos no mínimo”, disse ele. Ao ouvir as palavras, a coreógrafa negou. “Como não? Você está com o mesmo peso? Sua coxa está muito mais grossa, eu estava olhando daqui. Toma cuidado, você não pode ficar no meio [do palco] se ficar mais gorda”, prosseguiu Silvio Santos.
E não foi a primeira vez que o dono da emissora proferiu comentários preconceituosos. Um dos assuntos mais comentados das últimas semanas foi a polêmica envolvendo Silvio Santos e Preta Gil. O apresentador chamou a cantora de gorda durante as gravações de seu programa. Para evitar uma confusão ainda maior, o trecho foi cortado e a direção da emissora optou por não levar ao ar.
Outro preconceito proferido pelo apresentador é contra a comunidade LGBT. No final de maio, durante o quadro “Jogo dos Pontinhos”, Silvio deu como dicas os nomes da cantora Pabllo Vittar, do promoter David Brazil e do apresentador Gominho. O auditório demorou a acertar a resposta.
Uma das colegas de trabalho tentou acertar a charada com a sigla “LGBT”. Sílvio Santos riu, dizendo não saber do que se tratavam as letras. Depois de muita demora, o apresentador sacou uma nota de R$ 100 do bolso do paletó. Foi quando uma moça da plateia matou a resposta sob risos do dono da emissora. A resposta da charada era o termo “bicha”.
Foi homofóbico, pois colocou a orientação sexual como se fosse uma piada. Vale citar que o termo “bicha” é usado pela comunidade gay, porém quando é usado por um heterossexual fora de contexto e maneira pejorativa, soa invariavelmente de forma preconceituosa.
Silvio Santos carrega a mística de que pode fazer e falar o que quiser e nunca ser responsabilizado por nada simplesmente porque ele é idoso. Ok, ele é. Mas ele é um idoso que tem acesso a informação e a responsabilidade de ser um comunicador. Propagação de preconceito é ainda mais grave se feita por alguém com o alcance do Silvio, que fala há anos para o país inteiro e tem muitos fãs.
Mesmo ele não reconhecendo suas falas como discriminação e não vendo qualquer maldade ao dizê-las, ninguém tem razão quando se ajuda a reproduzir um discurso opressor. É preciso cada vez mais que se desestabilizem e se questionem esses tipos de posturas que ainda seguem naturalizados na televisão brasileira. É inadmissível que esses comportamentos sejam defendidos e tratados como brincadeiras ou piadas. Ainda mais para um formador de opinião. Não há desculpas para intolerância.