Vou precisar ser clichê para falar de Special, nova produção da Netflix que estreou recentemente no catálogo. Que série especial! Não há outro adjetivo para defini-la. Não é somente porque o protagonista da série vive com com uma deficiência física, nem somente porque a série discute a homossexualidade de maneira real, nem somente porque os personagens são apaixonantes. É porque tudo isso é mostrado sob uma ótica sensível, sem deixar de ser realística e, por vezes, dolorosa.
Criada pelo próprio protagonista, Ryan O’Connell, que tirou inspiração em fatos da sua própria vida, e com a assinatura de Jim Parsons (The Big Bang Theory) como produtor executivo, Special conta a história de um jovem gay, Ryan Kayes, que nasceu com uma leve paralisia cerebral. Quando ele percebe que sua vida precisa mudar, ele decide recomeçar e fazer tudo aquilo que sempre desejou, mas adiava: conquistar o primeiro emprego, morar sozinho e longe da mãe amorosa, porém controladora, começar um relacionamento amoroso e superar a baixa autoestima. Para isso, arranja um estágio em uma empresa de produção de conteúdo, mas para não ser descriminado dentro da agência, Ryan mente que sua dificuldade motora é oriunda de um acidente de carro.
O formato mais parece uma websérie. São oito episódio de apenas 15 minutos, o que dá ao público uma produção rápida, leve, despretensiosa, mas que alcança um nível de profundidade muito maior do que muita série dramática de 45 minutos. Esse formato também faz a Netflix começar a pensar em séries mais curtas, que garantem (ou deveriam garantir) roteiros mais sólidos e inteligentes.

Por causa da rapidez da série, todas as cenas importam e nada sobra.
Por causa da rapidez da série, todas as cenas importam e nada sobra. Ryan percorre toda a jornada do herói sem soar forçado, assim como os outros personagens ganham espaço na tela sem parecerem desperdiçados. O texto é bom, as piadas funcionam e os questionamentos nunca são expositivos. Ryan, aliás, é um personagem adorável, mas não é perfeito. Por vezes é maldoso, irritante e injusto.
Mas o mais inteligente da série é que, embora ela utilize uma lente doce e terna para falar de assuntos delicados, Special escolhe uma ótica bastante realista para mostrar diversas situações, especialmente quando observamos a sexualidade de Ryan. Nesse sentido, Special lembra muito Please Like Me. Ao retratar a descoberta do sexo, a série opta por cenas extremamente reais, tanto para quem vive com paralisia cerebral quanto para quem não vive. Ao fazer isso, a produção foge da armadilha de ser uma série de nicho e vira uma série sobre descobertas, frustrações, amor e aprendizado.
Com um ritmo invejável para qualquer série de comédia, Special deixa a gente com vontade de ver mais episódios e envolve o público desde o primeiro momento, começando apenas como uma série agradável e terminando como uma bela lição de vida, sem nunca soar como lição de moral.