Ontem começou a segunda temporada do reality show SuperStar da Rede Globo. Com total renovação de sua bancada de jurados (Sandy, Thiaguinho e Paulo Ricardo assumiram no lugar de Ivete Sangalo, Fábio Jr e Dinho Ouro Preto), o programa também aposta na mudança de algumas regras, visando desta forma melhorar a relação com o público e seu sistema de votação.
Nesta edição (que continua contando com um aplicativo para celular que, assim como no início da primeira temporada, falhou), o público pode votar pela página do programa no portal Gshow. Além disso, diferentente do ano anterior, agora há um limite de cinco bandas classificadas por programa.
Ao limitar o número de artistas que avançam, a direção do SuperStar procura controlar a votação desmedida do público de casa, permitindo desta forma que o programa consiga manter melhor ritmo ao longo das próximas semanas.
OS JURADOS
Se a troca da bancada trouxe um respiro ao programa – como disse o jornalista Mauricio Stycer em sua coluna de hoje (leia aqui) –, pelos jurados serem menos afoitos e chamarem menos a atenção que o trio anterior, por outro lado, já aponta às primeiras falhas do reality.
Sandy é uma graça: animada, simpática e muito carismática; Thiaguinho é o retrato fiel do pagodeiro gente boa, amigão; já Paulo Ricardo é justamente o contraponto de ambos (propositalmente?), agindo como se fosse um professor.

Acontece que, ao se apresentar um programa musical como o SuperStar, trabalhar com frases como “achei legal” ou “isso me empolgou” dizem e acrescentam pouco, seja à história do programa, seja à crítica que deve ser feita às bandas (afinal estão passando por um processo de “julgamento” de seu talento musical, correto?).
Se para a direção do programa o trio da última edição tirava o foco do palco, ao menos eram gabaritados em técnica e conhecimento musical, sem falar, é claro, de serem personagens (mesmo Dinho Ouro Preto) com larga história na música popular brasileira (o início de carreira de Sandy foi propositalmente desconsiderado pelo colunista). E mais: conversavam com diferentes tribos e faixas etárias.
O mesmo não acontece com Sandy, Thiaguinho e Paulo Ricardo, sendo apenas o último a acrescentar algo relevante nas críticas aos grupos que se apresentaram.
Se o programa pretende honrar a proposta de descobrir novos talentos da música, e oferecer a estes espaço que não teriam de outra forma, o SuperStar falha em seu propósito.
Não existe nada mais infértil para um artista que ouvir que sua música é legal ou empolgante, principalmente por serem respostas subjetivas: posso achar algo legal e você não; me empolgar com uma música enquanto você a considere entediante. Já falta de afinação e presença de palco são análises mais pertinentes e objetivas, que fugiriam ao senso comum.

Thiaguinho e Paulo Ricardo protagonizaram os dois momentos mais representativos do programa. Ao analisar a apresentação do primeiro grupo, os cariocas da StellaBella, Paulo Ricardo apontou a uma dura realidade: não é um bom momento comercial e radiofonicamente falando para o gênero rock e seus representantes.
Já Thiaguinho, ao final da apresentação do grupo sorocabano de pagode Samba Livre, deixou transparecer, com seus comentários, que sua predileção musical influenciará seus votos ao longo do programa. Até aí é natural que nossos gostos influenciem nosso olhar, contudo, ao tornar-se jurado do SuperStar, isso deveria ser deixado de lado, sendo a qualidade do grupo o ponto a ser avaliado, independente do gênero musical que representem.
Faria muito mais sentido que no lugar de Sandy estivesse seu irmão, Junior. Multi-instrumentista e produtor musical, toda a qualidade que lhe faltava em cima do palco (e sobrava na irmã) jorra quando o assunto é técnica musical e conhecimento de produção, muito mais relevantes ao propósito do programa. Contudo, falta-lhe o carisma da mãe de Theo.
Os apresentadores Fernanda Lima e André Marques mantiveram o bom trabalho feito na primeira temporada. Não ofuscaram o júri nem as bandas e principalmente, souberam lidar bem com o fato de estarem ao vivo. Rafa Brites, que fazia a cobertura dos bastidores, é quem estava meio forçada, talvez resultado de sua estreia no lugar de Fernanda Paes Leme.
Fica a torcida para que os jurados façam ao longo desta semana uma autocrítica sobre suas atuações e sobre seus papéis no reality. Caso contrário, dificilmente emplacaram sequência numa, ainda incerta, terceira edição de SuperStar.
BANDAS EXPERIENTES E FAROFA MUSICAL: CADÊ A PROPOSTA QUE ESTAVA AQUI?
O que para este colunista era o maior problema na última edição, repetiu-se na noite de ontem. Se a proposta do programa é (ou era no papel) descobrir novos talentos da música popular em seus mais variados gêneros e subgêneros, isto não vem acontecendo.
Samba Livre já teve música como tema de novela da Globo (“Tudo Nosso” em Cheias de Charme, 2012). A banda gaúcha Wannabe Jalva foi grupo de abertura de grandes shows realizados em Porto Alegre, como o das bandas Two Door Cinema Club e Vampire Weekend no MECAFestival (2011) e do ícone do grunge, Pearl Jam (também em 2011).

Mas o mais emblemático foi assistir ao grupo mineiro Tianastácia, com mais de 20 anos de estrada, e que teve a faixa “O Sol” regravada pelos também mineiros do Jota Quest, sendo inclusive a mais executada em todo país no ano de 2006.
Se o programa pretende honrar a proposta de descobrir novos talentos da música, e oferecer a estes espaço que não teriam de outra forma, o SuperStar falha em seu propósito.
É confuso também a permissão para que artistas se apresentem cantando músicas de outros já consagrados. Com isto, o princípio da isonomia do programa é deixado de lado, posto que os grupos que optam por executarem covers não enfrentam o desafio de causar empatia lírica no público e nos jurados. Resgatando a frase repetida à exaustão pelo júri, é muito mais fácil empolgar-se com Tim Maia do que digerir um post-grunge autoral.
Resta à direção do SuperStar definir melhores métricas de avaliação para possíveis próximas temporadas, garantindo desta forma que as bandas entrem no palco do programa em pé de igualdade umas com as outras. Enquanto isso não acontece, torcemos ao menos para que nesta edição não se repitam injustiças como a feita com a Suricato no ano passado.